São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2000


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Depois de seis meses de suspensão, 'gato' retoma hoje carreira
A terceira vida de Sandro Hiroshi

Folha Imagem
O atacante Sandro Hiroshi, 20, que retorna hoje aos gramados depois de sete meses de suspensão por ter falsificado seus documentos, participa de treino físico do São Paulo



Na véspera de voltar aos campos, atacante são-paulino rompe o silênciao e afirma que é o único culpado por fraude em documentos



RICARDO PERRONE
RODRIGO BUENO
da Reportagem Local

""Fiz, paguei e pronto."
O protagonista da maior polêmica do futebol brasileiro nos últimos anos está de volta. Sandro Hiroshi, que virou símbolo dos ""gatos" (jogadores com idade adulterada), deve jogar 45 minutos hoje pelo São Paulo, na Copa do Brasil, contra o Sinop-MT.
A frase acima foi uma das poucas não evasivas que o atacante falou em entrevista coletiva ontem, no Centro de Treinamento da Barra Funda -desde o ano passado, quando o caso ""Sandro Hiroshi" tumultuou o Campeonato Brasileiro, ele não dá entrevistas.
""Eu não gosto de falar sobre o meu passado", disse Hiroshi mais de dez vezes -ele foi instruído por dirigentes do São Paulo.
O atacante entende que será um exemplo para jogadores que são ludibriados nas categorias de base dos clubes, mas preferiu assim mesmo não revelar como foi feita a falsificação de seus documentos.
""Até concordo, mas não quero falar sobre o meu passado."
Pressionado, Hiroshi falou mais tarde um pouco sobre o caso e aconselhou jovens atletas.
""Com 14 anos, não pensei muito no que poderia acontecer. Você não tem tanta sabedoria, tanta experiência de vida. Aconselharia que não fizessem isso. Todos já têm ciência. Às vezes, os mais novos podem até não pensar no que pode acontecer futuramente."
O advogado do atacante, Maurizzio Colomba, e seu procurador, Raul Nassar Filho, é que estão cuidando de seu futuro.
""Ele (Hiroshi) já prestou os depoimentos. Agora, só estamos aguardando a decisão do Ministério Público", disse Colomba.
O jogador, que recebeu uma suspensão de 180 dias da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) -terminou no último dia 26-, parece não se importar com eventuais problemas na Justiça.
""Não parei para imaginar no que pode acontecer. Só penso em jogar futebol. Me sinto normal. Sou um cidadão como outro qualquer", disse o atacante.
Hiroshi insistiu em assumir a culpa pelo episódio ontem.
""Eu já não assumi? Há tempos eu assumi, com meu advogado. Eu falei que fui eu."
O advogado disse na época que Hiroshi havia feito toda a falsificação dos documentos sozinho.
""Meu advogado está aí para me defender", disse o atacante.
Hiroshi admitiu, porém, a hipótese de, no futuro, revelar toda a verdade sobre o caso, caindo assim em uma contradição.
""Acho que até pode acontecer de um dia eu falar", disse.
O jogador são-paulino rechaçou rumores de que seu pai, Takeshi Oi, teria ciência da falsificação dos documentos. ""Minha família só me deu apoio."
Indagado sobre outros casos de ""gatos" no país (leia texto abaixo), Hiroshi pouco falou.
""Só conheço os que apareceram", disse o jogador, que afirmou, com bastante nervosismo, ter mesmo 20 anos.
Apesar de assumir a culpa pela adulteração de seus documentos, o atacante procurou pedir compreensão às pessoas.
""Eu nunca me achei uma pessoa irresponsável. Eu sempre me achei muito responsável."
Ele diz estar feliz agora.
""É claro que a gente sente tristeza no tempo em que fica parado. Estou alegre por voltar."
Sobre o esperado retorno hoje, o jogador mostra-se animado. ""A expectativa é de voltar a jogar. Esse tempo todo eu só fiquei esperando por essa hora. Eu me encontro bem. Eu me sinto bem."
A última frase do atacante, dita à Folha, jornal que revelou, no dia 19 de outubro de 1999, a fraude em seus documentos, foi taxativa.
""Para mim, morreu."


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