JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Resumo do capítulo anterior: São Paulo e São Jorge fizeram uma aposta. Se o tricolor ganhasse o jogo de quarta, Jorge teria que pintar seu dragão com as cores do time do Morumbi. Se o Corinthians vencesse, Paulo teria que usar uma fantasia de baiana.

Amplidão celeste, sexta-feira.
São Jorge perfura uma nuvem e espalha uma névoa branca pelo céu. Ele monta um gigantesco dragão. Os anjos, serafins e querubins que estavam por ali soltam um longo "ooooooh!" que percorre o vazio da eternidade. É bom deixar claro que o "ooooooh" não é pelo dragão, que todos tinham visto, mas pelo estado do monstro. Ele estava pintado de branco e, na altura do peito, destacavam-se duas faixas horizontais em preto e vermelho. São Paulo, o santo, sorriu e aproximou-se:
- Você é um bom perdedor.
- Perdedor?, espanta-se são Jorge. Eu gostaria de lembrar que o meu time está na final da Copa do Brasil, e o seu não.
- Não tivemos um grande dia de finalizações, admito, mas quebramos o jejum de vitórias em clássicos e mostramos nossa superioridade. Estamos prontos para vencer os jogos finais do Rio-SP.
- Meu velho, nesta quarta vocês só foram superiores em dois pontos: dominar a bola sem fazer nada de útil e contar com a sorte, porque aquele bandeirinha que anulou o gol do Leandro estava mais cego do que o Ray Charles.
- Ora, isso é despeito! O time esteve bem. Rogério Ceni, por exemplo, esteve impecável.
- Mas no fim do jogo foi para o ataque e quase pecou.
- Fábio Simplício foi um leão.
- É verdade. E os nossos atacantes foram os pobres cristãos.
- Adriano estava inspirado.
- Mas devia ter transpirado.
- Kaká esteve divino.
- O gol que ele fez até Lázaro faria. E quando era defunto. Grandes mesmo foram o Vampeta, o Ricardinho, o Deivid...
- Não adianta me aborrecer, meu jovem. Estamos fora da Copa, mas venci a aposta.
- Se você está tão contente com o seu time, vamos renovar o desafio. Caso o São Paulo ganhe domingo, eu apareço, diante de todos, com uma fantasia tricolor feita pelo Joãosinho Trinta, mas se o Corinthians vencer, você faz a imitação da Carmem Miranda.
- Feito. Nós só precisamos de uma testemunha. Pedro, vem cá.
O apóstolo Pedro se aproximou balançando as chaves do céu. São Paulo tomou a palavra: - Você pode ser nossa testemunha?
- Mas eu nem conheço vocês.
- Claro que conhece! Eu sou Paulo, apóstolo dos gentios, nós fomos contemporâneos...
- Nunca o vi mais gordo.
- Sou o Jorge da Capadócia...
- Desculpe, não sou bom fisionomista.
A coisa ficou assim, mal parada, até que o bondoso são João, lá do fundo, arrancou a pena de um galo, e o pobre animal cantou. Então, depois de ter negado seus amigos três vezes antes que o galo cantasse, Pedro disse:
- Ah, sim! Paulo e Jorge. O que é que vocês querem?
- Que você seja juiz do nosso desafio.
- Claro!, disse são Pedro, cortando o aperto de mão dos heróis futebolísticos-religiosos.
Os serafins e querubins festejavam a aposta quando a pena do galo, voando pelo ar, foi parar perto do focinho do dragão, e este espirrou um jato de fogo que chamuscou a todos. Tem dias que a vida no céu parece um inferno.

Boleiros
Para aqueles leitores que reverenciam os craques do passado, um programa imperdível acontecerá na próxima segunda-feira, a partir das 20h, no tradicional Bar Brahma, que fica na esquina das avenidas Ipiranga e São João (aquela da música do Caetano Veloso), em São Paulo. O evento, promovido em parceria com a Cooperativa Craques de Sempre, se chamará "Boleiros no Brahma" e acontecerá todas as segundas-feiras, sempre no mesmo local. Agora, no próximo dia 6, os grandes Félix, Joel Camargo, Zé Maria, Zito, Clodoaldo, Mengálvio, Rivellino, Edu e Bellini estarão entre os atletas homenageados. A cada encontro serão lembradas partidas memoráveis, grandes jogadas e craques que marcaram a história do nosso futebol. Quem jamais esquece vai reconhecer, quem não os conhece vai poder ver para crer.

E-mail torero@uol.com.br



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