São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2005 |
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EXCLUSIVO Único livro de Parreira, o teórico do futebol, é plágio
Até introdução escrita por inglês nos anos 70 foi traduzida, sem crédito, na obra com a qual técnico da seleção lançou Escola Brasileira de Futebol
PAULO COBOS DA REPORTAGEM LOCAL Carlos Alberto Parreira, um dos teóricos mais aclamados do futebol, faz suas as idéias de outros. Páginas e páginas de seu livro, a plataforma do que ele anunciou como escola brasileira de futebol, são cópias literais da obra "Soccer Tactics and Teamwork", escrita há 32 anos por Charles Hughes, ex-funcionário do segundo escalão da federação inglesa. Recém-lançado, "Evolução Tática e Estratégias de Jogo" traduz de forma literal parágrafos e até capítulos quase inteiros do livro do inglês. A obra de Parreira, 62, foi concebida para ser o principal material didático do primeiro curso da Escola Brasileira de Futebol, parceria entre CBF e Fifa. Parreira diz que fez o livro como uma apostila, traduzindo mesmo obras estrangeiras (incluindo a de Hughes), e a CBF é que a lançou como livro, o que mesmo assim não exime o técnico de plágio. Em dez páginas de seu livro, que tem 50 escritas por ele (são 68 no total, incluindo índice e apresentações por outras pessoas), Parreira copia a obra de Hughes, principalmente nos capítulos em que fala de esquemas táticos -o que ele sempre disse estar entre as suas especialidades. Logo o primeiro parágrafo do livro do inglês, que também está reproduzido na contracapa, foi traduzido integralmente pelo técnico da seleção, que fez fama como um grande teórico do futebol. A lei brasileira prevê detenção de até dois anos e multa para quem violar o direito autoral. Hughes e/ou a editora que publicou o livro podem processar Parreira. "Para o plágio, não importa se o autor é estrangeiro", diz Marcos Bitelli, advogado especializado na área de direitos autorais. Até a organização de algumas seções do livro do brasileiro é idêntica à da obra do inglês, publicada quando o futebol era bem diferente do jogado atualmente. É o que acontece na seção "como os gols são marcados". Segundo Hughes e o livro de Parreira, há cinco motivos principais para que um time seja vazado: falta de pressão no homem com a bola, falta de cobertura, penetração diagonal e nos espaços livres, perda de bola e jogadas de bola parada -neste último item, os dados estatísticos são rigorosamente iguais nos dois livros. Questionamentos feitos por Hughes há 32 anos são repetidos agora por Parreira. O inglês perguntava se o Brasil da Copa-58 era o caminho a seguir. A mesma pergunta faz Parreira, agora. Numa passagem, Parreira faz uma adaptação tão datada que o texto soa jurássico. Em sua obra, publicada um ano antes de a Holanda impressionar o mundo com o seu carrossel, Hughes escreveu que no futuro o "futebol exigirá jogadores de maior capacidade técnica em todas as posições, e seria uma surpresa caso isso não viesse a ser uma das principais características da Copa de 1974". Parreira, em 2005, faz a mesma previsão, com a ressalva de que a Holanda já tinha feito isso no primeiro Mundial na Alemanha. O ex-funcionário da federação inglesa tinha a mesma obsessão pela defesa que o brasileiro. Em praticamente todas as seções de seu livro, assim como no do técnico da seleção brasileira, a defesa recebe mais espaço. O capítulo que ensina a se defender em bolas paradas tem 20 páginas. Já a parte que fala sobre atacar com a bola parada ocupa 16 páginas do livro. Parreira não informa que outro autor foi usado como referência. O nome de Charles Hughes só aparece nas últimas páginas, como "Bibliografia Recomendada". A primeira turma da Escola Brasileira de Futebol iniciou as aulas em maio, tendo o técnico da seleção como professor -a matrícula custava R$ 180 por aluno. "Foi dado aqui um importante passo para o desenvolvimento do futebol no país", disse o treinador da seleção após suas palestras. Leia outros trechos copiados na Folha Online Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Perfil: Uso de estatística e burocracia são marcas de inglês Índice |
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