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FUTEBOL
Vuelvo al Sur
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Desculpem-me o divino
Rogério com seus dois gols
de falta, o São Paulo que fez o Tigres miar, o Fluminense do pianista Abel, o Paulista que, como
nunca, foi galo no Mineirão. Desculpem, amigos, mas os heróis supremos da noite de anteontem foram os gigantes do Atlético-PR
que bateram o Santos por 3 a 2.
Fosse uma equipe aqui de São
Paulo ou do Rio, a façanha na
Baixada seria narrada e celebrada como épico, um grande feito
de grandes homens. O que dizer
de um bando de jogadores, pois
era isso que eram até outro dia,
que se transformou em time e derrotou quem desfila o melhor futebol no Brasil?
Não custa lembrar: o Atlético
jogou seis vezes no Brasileiro e
perdeu todas. Nem um pontinho.
Classificou-se na Libertadores,
em Assunção, quando não merecia nem ir aos pênaltis. Na quarta, saiu atrás, teve o marcador de
Robinho expulso na metade do
primeiro tempo, ficou com dez e
mesmo assim triunfou.
De tanto correr, seus atletas foram caindo, fatigados, com cãibras. Cocito, celebrizado como
Coicito pela truculência, peleou
limpo, com o coração. O goleiro
Diego, com conjuntivite, viu mais
que o santista Henao.
Comoveu a bravura do vice nacional, despedaçado por cartolas
que, como o dono de um clube
alagoano, tratam os contratados
como caranguejos: colocam-nos
para "engordar" até que valham
bom preço. E dane-se o time.
Vivesse mais acima do Sul, o
Atlético seria aclamado por seu
feito. Para piorar, tem o técnico
mais sem glamour que já existiu,
o talentoso Antônio Lopes, ex-tira
de cabelo implantado e enegrecido a pincel. Assumiu agora e já
melhorou a equipe.
Os atleticanos encarnaram a
valentia atávica de quem joga no
Sul. Tão mal estava, o "Furacão"
passou a ser tratado como "ventinho". Anteontem, lembrou a canção da dupla gaúcha que anunciava que a "brisa ligeira" iria virar "viração". Virou para cima
do Santos.
O gremista Eduardo Bueno sintetiza esse espírito em livro sobre
seu clube: "Futebol-arte é coisa de
veado". A tirada é injusta com a
região que revelou o gaúcho Ronaldinho e o catarinense Falcão.
Porém Bueno, brincando, captou
o fenômeno da garra e do destemor. Fez lembrar, e ele não vai
gostar de saber disso, os cotovelos
com que o inigualável chileno Figueroa limpava a área colorada.
O compositor pelotense Vitor
Ramil identificou na música uma
"estética do frio". Nada a ver com
lugares-comuns sobre gaudérios.
Essa estética se manifesta no futebol. Para os boleiros do Sul, vale o
toque do cearense Belchior: "Por
conta desse destino, um tango argentino me vai bem melhor que
um blues".
No domingo, o Brasil pega o Paraguai no Beira-Rio. Depois, a
Argentina no Monumental. Que
a entrega atleticana ilumine a seleção na sua volta ao Sul. Em Porto Alegre e Buenos Aires, cidades
onde cantam nos bares os versos
de "Pino" Solanas musicados por
Piazzola: "Soy del Sur, como los
aires del bandoneon".
Que pena, Parreira
Já escrevi sobre gestos nobres
de Carlos Alberto Parreira. Ao
cortar Ronaldo de dois jogos
das eliminatórias, o técnico teve
uma atitude que não é digna
dele. Da parte da CBF, nenhuma surpresa.
Fãzoca de Pinochet
Peço licença ao José Geraldo
Couto para abaixo assinar a sua
brilhante "Carta aberta a Scolari", sobre a admiração do treinador pelo general chileno assassino, inclusive de brasileiros,
e seqüestrador de crianças.
A cara do Brasil
Triste o país em que um jornalista íntegro como Jorge Kajuru
é condenado pela Justiça, enquanto a turma desmascarada
pelas CPIs do futebol continua
na boa.
E-mail: mario.magalhaes@uol.com.br
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