São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006

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Opinião

Partida de abertura é sempre nervosa

FRANZ BECKENBAUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na partida de estréia em Copa, você entra em campo com as mãos suadas e os joelhos trêmulos. Sabe que haverá por volta de 1 bilhão de pessoas assistindo ao jogo. E será pior para cada um dos 22 atletas da abertura de 9 de junho, no jogo entre a anfitriã Alemanha e a Costa Rica. Por um lado, eu os invejo, porque nunca participei da partida inaugural de um Mundial. Por outro, preocupo-me com os mais jovens. Eles sofrerão com um extremo nervosismo e terão que manter um país satisfeito. Também sinto simpatia pela Costa Rica, ainda que tenha muito menos a perder. É raro que atletas inexperientes joguem a partida de abertura. Mas tudo muda. Em minha primeira Copa, há 40 anos, as coisas eram diferentes. A mídia equivalia a no máximo 3% da atual. Hoje não só o jogo interessa mas tudo que o cerca. Em 66, na Inglaterra, eu estava nervoso antes de estrear na Copa. Mas os vetaranos do time, como Uwe Seeler, Willi Schulz e Karl-Heinz Schnellinger, ajudaram-me. "Rapaz, não se deixe enlouquecer, é só mais um jogo", eles me diziam. Foi uma partida fácil em que vencemos a Suíça (5 a 0), então um time muito mais fraco que a seleção atual do país. Fiz dois gols, o terceiro e o quarto. Subitamente, tornei-me conhecido no mundo inteiro pelas minhas arrancadas em direção ao ataque. A coisa foi fácil para mim porque os mais experientes arcavam com a responsabilidade. Em 70, no México, eu estava bem mais calmo na estréia, contra o Marrocos. Sabia o que esperar, apesar da magra vitória por 2 a 1. Em 74, eu não era mais novato, mas fiquei muito mais tenso porque éramos os favoritos, ao lado da Holanda, e porque a Copa era em casa. O fato de ser o capitão do time e ter grandes responsabilidades ampliaram a tensão. Além disso, a mídia se fazia mais presente. Cada passo era comentado, e a lendária noite em que negociamos os prêmios pela Copa e eu tive que impedir o técnico Helmut Schoen de deixar o time ainda são tema popular. Por isso imagine como foi o alívio quando Paul Breitner, que havia afrontado Schoen sobre os prêmios, fez o gol do 1 a 0 sobre o Chile. Lembro-me bem de como a pressão quase sumiu. Um bom começo em uma Copa não tem preço, mesmo que as preocupações seguissem até nossa vitória por 2 a 1 contra a Holanda na final. Desta vez, eu não devo sentir nervosismo. Espero ver a abertura em Munique com a sensação de que fiz tudo para o sucesso da Copa.


FRANZ BECKENBAUER foi campeão mundial em 1974 como jogador e em 1990 como treinador da seleção alemã e hoje é presidente do Comitê Organizador da Copa-2006

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