Com relação pessoal que já dura quase três décadas, Carpegiani e Luxemburgo duelam no clássico na Vila Belmiro

Amizade e confiança no treinador do Santos levaram o gaúcho a passar por sua primeira saia justa como treinador do Corinthians

Ricardo Nogueira/Folha Imagem

O técnico Carpegiani durante treino no Parque São Jorge

O lateral e ex-santista Pedro já disse enfaticamente que não vai cumprimentar Vanderlei Luxemburgo ao vê-lo hoje na Vila Belmiro. Resquícios de uma relação que terminou (mal) há pouco tempo entre o jogador e o treinador. Mas a atitude de Pedro certamente não será repetida por seu atual técnico, Paulo César Carpegiani.
Hoje rivais no clássico entre Santos e Corinthians, Luxemburgo e Carpegiani mantêm uma relação de amizade que já dura quase três décadas.
Fruto de uma convivência no Flamengo no início dos anos 80, que chegaria a seu auge de conquistas com o gaúcho e então recém-aposentado craque em seu primeiro trabalho como treinador, no Mundial interclubes de 1981. No banco de reservas a seu lado, um lateral-esquerdo que quase não tinha chances de jogar e que viria a se tornar um badalado técnico.
O tratamento amistoso ainda é posto em prática. Carpegiani adora elogiar o amigo Luxemburgo. Sobretudo aquilo que considera a grande qualidade do seu adversário de hoje: o olho clínico para garimpar talentos e montar equipes vencedoras. "Futebolisticamente ele é um sujeito acima de qualquer suspeita", já declarou o técnico do Corinthians sobre seu companheiro de profissão.
Para Carpegiani, a palavra de Luxemburgo sobre assuntos ligados ao futebol -sobretudo dentro das quatro linhas- tem grande peso. "Ele conhece muito de futebol", elogia.
Prova disso foi o episódio da contratação do Corinthians de seus três primeiros jogadores vindos do Bragantino. Ao ser questionado pela diretoria do Parque São Jorge sobre o goleiro Felipe, o zagueiro Zelão e o atacante Éverton Santos, Carpegiani foi humilde. Disse que não os conhecia, mas que obteria referências sobre eles com alguém de sua confiança.
Consultou justamente o amigo Vanderlei, que balizou o sim. Mas, sem saber, o telefonema que fez a Luxemburgo o deixou numa saia justa, com o amigo e com os novos patrões. Isso porque o Santos também queria contratar os três atletas.
Luxemburgo ficou irritado com Carpegiani. "Ele me disse "puxa, mas esses caras eu quero aqui". E eu agradeci pela opinião e respondi que aquele era um caso nas mãos da diretoria", conta o treinador corintiano, com um sorriso maroto.
Com a diretoria do Corinthians, a consulta deu mais dor de cabeça. Por contar a um técnico rival sobre os planos de contratação do time, o treinador foi repreendido, em sua primeira rusga no clube, com menos de um mês de trabalho.
Mas a inocência de Carpegiani no episódio não tem sido repetida por Luxemburgo.
Antes do clássico, o comandante do time santista relembra o caso e afirma que irá esconder a escalação também para "perturbar" Carpegiani.
"Aí vocês vão querer que eu fale tudo para o Corinthians, para poder auxiliar o Carpegiani. Vamos com calma", afirmou o santista, sorrindo. "Deixa ele queimar um pouco a cabeça. Ele já me conhece e ainda fica me sacaneando com atletas dos quais me perguntou." (JULYANA TRAVAGLIA E PAULO GALDIERI)