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FOCO
Carne suspeita, vuvuzelas e olas animam torcida
Jogo do Brasil tem mar de vendedores, penetras e homicídio do hino nacional
DOS ENVIADOS A HARARE
Torcer no Zimbábue é uma
experiência intensa. É grande a correria em volta do Estádio Nacional de Harare.
Pelo menos cem vendedores de comida recorrem aos
gritos para atrair clientes.
Pior que a poluição sonora
é a poluição visual: há um
mar de restos de carne, cascas de frutas, lenha queimada, latas e garrafas, tudo espalhado pelo chão.
E pior ainda é a poluição
do ar. A fumaça castiga os
olhos, a mistura de cheiros
embrulha o estômago.
Nas grelhas a carvão, nos
panelões e nas frigideiras
com óleo transbordante,
miúdos de frango, bifes enormes, ensopados, linguiças
variadas. Como acompanhamento, gordas batatas fritas
e um purê esbranquiçado.
Alguns jogam tudo dentro
de um pão, outros comem
com a mão, em pratos de
plástico que invariavelmente
terminam no chão.
O preço é combinado de
acordo com o vendedor. Mas
nada ultrapassa US$ 4 e nada vale menos do que US$ 1.
Para entrar no Estádio Nacional, cada vendedor teve
que pagar taxa de US$ 20. Em
geral, são desempregados
tentando faturar algum.
Já é hora do jogo e ainda há
ingressos à venda, a US$ 10
(ou 100 rands sul-africanos).
Através do vidro da bilheteria, é possível ver as pilhas de
dinheiro arrecadado. O policiamento no local é escasso,
mas ninguém se atreve a
ameaçar os bilheteiros.
Quem chega atrasado passa correndo. Dá tempo de ver
e ouvir o hino do Brasil ser
destruído pela banda local.
Alguns jogadores brasileiros
sorriem, constrangidos.
O hino é tão mal executado
que as vuvuzelas são bem-
-vindas. O time da casa ataca,
e as cornetas soam mais forte. Também são sopradas,
porém, nos gols do Brasil.
O estádio está quase lotado, mas nem todo mundo
presta atenção ao jogo.
Há quem dance de costas
para o campo, há meninas
com "Kaká" escrito nas barrigas de fora. Começa uma ola.
Duas, na verdade, uma em
cada lado do estádio.
Já são 35 minutos do segundo tempo. A noite começa a cair e ninguém aguenta
mais. O jogo está resolvido, o
trânsito vai ser intenso...
"Foi o maior dia da história do Zimbábue", exagera o
vendedor Moses Band, 38, ao
deixar o Estádio Nacional para enfrentar o enorme engarrafamento.
(FÁBIO ZANINI, MARTÍN FERNANDES E PAULO COBOS)
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