São Paulo, quinta-feira, 03 de junho de 2010

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JUCA KFOURI

A escolha de Zico


O maior ídolo do mais popular clube do Brasil chega ao poder. É um sonho ou um pesadelo?


ANOS ATRÁS, o raro leitor encontraria um colunista exultante. Quantas vezes neste nobre espaço não se sonhou com Zico no comando do Flamengo? Com Sócrates no comando do Corinthians? Com Falcão no Inter, Raí no São Paulo? Quantas vezes!
E eis que, quando o dia chegou, a pele curtida por tantas decepções acende uma luz de alerta e faz ponderar: será mesmo um sonho realizado ou vai começar mais um pesado pesadelo?
Porque Zico é um brasileiro raro, sério, competente, ético. E aceitou descer de sua condição de divindade rubro-negra para voltar a ser um simples mortal, sujeito a críticas, até a vaias da torcida que, com justos motivos, exulta com sua volta à Gávea.
Mal comparando, é como se Dom Sebastião voltasse a se sentar no trono de Portugal.
Só que, diferentemente do monarca desaparecido que virou santidade, Zico não só não tem todo esse poder como, ao contrário, é crítico ácido e declarado do presidente da CBF. E Zico já sentiu na carne, no seu CFZ, o que é trombar, por exemplo, com um Caixa D'Água.
Há que se ressaltar a coragem de Zico, sua generosidade em aceitar a empreitada no mais popular e endividado clube brasileiro.
Como é obrigatório que se exalte a grandeza de Patrícia Amorim, que teve o raro gesto na vida de qualquer executivo de nomear, abaixo de si, alguém maior do que ela. Praticamente indemissível, ainda por cima.
Mas será Zico suficientemente forte para enfrentar a carcomida superestrutura de nosso futebol, corrompida e corruptora? Se for, não será apenas Zico, que já não é pouco, muito pelo contrário, mas estaremos diante de um novo super-homem.
Não peça, raro leitor, porque entre a autocrítica e a autocomiseração, ou o masoquismo, vai uma diferença ponderável. E que aqui sejam mencionados todos os que, cercados de expectativa semelhante, decepcionaram nos últimos anos, seja em clubes de futebol, seja no governo federal.
Até porque nem são tantos, embora, estamos de acordo, foram poucos, mas de muita decepção.
Mais fácil será citar um que não decepcionou no governo, o obstinado José Luiz Portella, responsável pela modernização da legislação esportiva brasileira, que, por sinal, está sendo despudoradamente estuprada, para alívio da cartolagem que Zico terá de, necessariamente, combater.
Melhor, sem dúvida, o tempo em que a esperança ganhava da experiência e do ceticismo. Mas fiel ao lema de não se desesperar jamais e de não desistir nunca, saudemos a chegada de Zico.
Ei, ei, ei, Zico é o nosso rei!


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