São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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FRANZ BECKENBAUER

Quando as qualidades individuais decidem


Acreditava que Ronaldo se converteria numa das estrelas da Copa. Ele foi além. Não se pode "calar" um jogador como Ronaldo


Neste mesmo espaço manifestei que a Copa da Ásia poderia ter seu nível técnico prejudicado simplesmente porque algumas das principais estrelas chegariam à competição extenuados física e emocionalmente, depois da temporada européia. Apregoei -e continuarei a fazê-lo- que a Fifa reveja seu calendário mundial. Afirmei, uma semana antes de o torneio começar, que o treinador alemão, Rudi Völ- ler, enfrentava tantos problemas com contusões de atletas que seria um milagre se montasse uma equipe competitiva. Mais tarde, depois de ver deprimentes (embora vitoriosas) apresentações da Alemanha, afirmei que, exceto por Khan, quase todos os demais jogadores não eram mais que ""voluntariosos". O formidável feito de ter chegado à disputa do título contra o Brasil -uma final estupenda, à altura do histórico dos dois países- não altera minha avaliação sobre as deficiências da seleção alemã. A campanha deste ano permite uma visão otimista das possibilidades da seleção em 2006, quando o Mundial terá como sede a Alemanha: Völler tem em mãos alguns jogadores com potencial a ser desenvolvido.
Também escrevi que acreditava ser absolutamente possível a Ronaldo converter-se em uma das estrelas do Mundial, contrariando os que duvidavam de sua capacidade. Foi muito além: com seus dois gols, definiu o título a favor da seleção brasileira. Ninguém consegue manter ""em silêncio" um jogador dessa categoria durante os 90 minutos de uma partida.
O Brasil demonstrou ter alguns jogadores de incomparáveis recursos, sobretudo nas variantes de ataque, com o tripé formado por Rivaldo, recuperado depois de uma temporada pontuada por contusões e sem o mesmo brilho de anos anteriores no Barcelona, por Ronaldinho, que imprime ao jogo verticalidade e ao mesmo tempo é generoso com os demais companheiros, e por Ronaldo, um atacante exuberante, de qualidades incontestáveis, destaque numa competição tecnicamente fraca.
Como membro do comitê organizador do próximo Mundial, em 2006, espero que o povo alemão possa ao menos apresentar pelo menos uma parte da cordialidade, alegria e gentileza com as quais sul-coreanos e japoneses trataram todas as seleções e seus torcedores. O espetáculo proporcionado fora de campo pelos dois países foi incomparável.

Franz Beckenbauer, 56, é presidente do Bayern de Munique e foi campeão mundial pela Alemanha em 1974, como jogador, e em 1990, como técnico



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