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OLIMPÍADA
Cidades candidatas investem no jogo político e enviam recorde de autoridades para eleição, que será na quarta
Corpo-a-corpo esquenta disputa por 2012
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Conversar ao pé do ouvido, trocar apertos de mão, costurar acordos com adversários, bajular.
Parecem banais, mas tais atitudes ganharam importância crucial no pleito mais acirrado da história pelo direito de abrigar uma
edição dos Jogos Olímpicos.
O corpo-a-corpo que representantes das candidaturas de Paris,
Londres, Moscou, Madri e Nova
York já começaram a deslindar é
apontado por especialistas ouvidos pela Folha e até pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional como fator preponderante na eleição que ocorre na
próxima quarta, em Cingapura.
Não por acaso, a cerimônia vai
receber um número sem precedentes de autoridades e chefes de
Estado. A capital francesa, por
exemplo, terá o presidente Jacques Chirac como figura mais
proeminente. Os primeiros-ministros Tony Blair (Inglaterra), José Luis Zapatero (Espanha) e Mikhail Fradkov (Rússia) também
confirmaram presença.
Os EUA esperam enviar a secretária de Estado, Condoleezza Rice. Até aqui, porém, anunciam o
prefeito de Nova York, Michael
Bloomberg, como representante.
Todas as cidades foram inspecionadas. Cada um dos 116 membros do COI com poder de voto
texm em mãos um calhamaço de
123 páginas esmiuçando qualidades e defeitos das pleiteantes.
Por que, então, investir tão pesado no jogo político?
"O relatório não sacramenta a
disputa. Mais do que saber o que
as candidatas oferecem, o comitê
quer ter noção do respaldo que
elas têm. Os chefes de Estado sabem disso. Por isso, estão participando mais intensamente do que
nunca", explica o canadense Robert Livingstone, consultor que
trabalha com candidaturas olímpicas desde 1990.
Seu argumento é respaldado
por Jacques Rogge, belga que comanda o COI. Para ele, esta é a
primeira eleição na qual as cinco
cidades possuem totais condições
de receber os Jogos. "Uma diferença mínima, de dez votos, vai
decidir. Por isso, o diálogo nos
momentos finais em Cingapura
será essencial", narra.
No papel, Paris dispara como
favorita. O projeto da capital recebeu contundentes elogios dos inspetores, que vasculharam as praças entre fevereiro e março.
Londres vem logo em seguida,
também com ótimas avaliações.
Nova York e Madri receberam
classificação intermediária. Já
Moscou engoliu críticas pela falta
de detalhes de seu programa.
São informações que, segundo
Holger Preuss, coordenador do
Instituto de Ciências Esportivas
da Universidade de Mainz (Alemanha), acabam sobrepujadas
pelo tête-à-tête pré-eleitoral.
"Os relatórios não representam
avaliação realista. Paris, por
exemplo, não fará Olimpíada com
os US$ 7 bilhões que anunciou. A
Grécia [2004] gastou muito mais.
Por isso, os relatos não são levados tão a sério. O pleito será vencido na política. Isso é fato."
Os mecanismos para garimpar
apoio são variados. Blair, por
exemplo, enviou carta personalizada a Carlos Arthur Nuzman,
presidente do Comitê Olímpico
Brasileiro e membro votante no
pleito. Elogiava a organização do
Pan-2007 e pedia apoio a Londres.
Nova York preferiu impressionar pela quantidade. Mandou 40
atletas olímpicos e paraolímpicos
de 12 países para Cingapura. A
missão: alardear supostas vantagens dos norte-americanos.
Essa tendência apareceu em
grau reduzido na última eleição,
vencida por Pequim, talvez a
Olimpíada com maior engajamento do Estado já arquitetada.
Agora, porém, o COI radicaliza
sua opção pelo respaldo dos governantes. E vai além. O tiro é
mais certeiro, pois apenas cidades
que tenham condições de honrar
compromissos sem grandes sacrifícios são selecionadas.
Nas palavras de Preuss: "O comitê retira as candidatas que possam dar dor de cabeça. Restam
cinco, todas ricas e com seguras
condições de realizar a Olimpíada. Nesse ponto, a concorrência
fica centrada no duelo político. O
mais eficiente leva os Jogos."
Com agências internacionais
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