São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

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OLIMPÍADA

Cidades candidatas investem no jogo político e enviam recorde de autoridades para eleição, que será na quarta

Corpo-a-corpo esquenta disputa por 2012

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Conversar ao pé do ouvido, trocar apertos de mão, costurar acordos com adversários, bajular.
Parecem banais, mas tais atitudes ganharam importância crucial no pleito mais acirrado da história pelo direito de abrigar uma edição dos Jogos Olímpicos.
O corpo-a-corpo que representantes das candidaturas de Paris, Londres, Moscou, Madri e Nova York já começaram a deslindar é apontado por especialistas ouvidos pela Folha e até pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional como fator preponderante na eleição que ocorre na próxima quarta, em Cingapura.
Não por acaso, a cerimônia vai receber um número sem precedentes de autoridades e chefes de Estado. A capital francesa, por exemplo, terá o presidente Jacques Chirac como figura mais proeminente. Os primeiros-ministros Tony Blair (Inglaterra), José Luis Zapatero (Espanha) e Mikhail Fradkov (Rússia) também confirmaram presença.
Os EUA esperam enviar a secretária de Estado, Condoleezza Rice. Até aqui, porém, anunciam o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, como representante.
Todas as cidades foram inspecionadas. Cada um dos 116 membros do COI com poder de voto texm em mãos um calhamaço de 123 páginas esmiuçando qualidades e defeitos das pleiteantes.
Por que, então, investir tão pesado no jogo político?
"O relatório não sacramenta a disputa. Mais do que saber o que as candidatas oferecem, o comitê quer ter noção do respaldo que elas têm. Os chefes de Estado sabem disso. Por isso, estão participando mais intensamente do que nunca", explica o canadense Robert Livingstone, consultor que trabalha com candidaturas olímpicas desde 1990.
Seu argumento é respaldado por Jacques Rogge, belga que comanda o COI. Para ele, esta é a primeira eleição na qual as cinco cidades possuem totais condições de receber os Jogos. "Uma diferença mínima, de dez votos, vai decidir. Por isso, o diálogo nos momentos finais em Cingapura será essencial", narra.
No papel, Paris dispara como favorita. O projeto da capital recebeu contundentes elogios dos inspetores, que vasculharam as praças entre fevereiro e março.
Londres vem logo em seguida, também com ótimas avaliações. Nova York e Madri receberam classificação intermediária. Já Moscou engoliu críticas pela falta de detalhes de seu programa.
São informações que, segundo Holger Preuss, coordenador do Instituto de Ciências Esportivas da Universidade de Mainz (Alemanha), acabam sobrepujadas pelo tête-à-tête pré-eleitoral.
"Os relatórios não representam avaliação realista. Paris, por exemplo, não fará Olimpíada com os US$ 7 bilhões que anunciou. A Grécia [2004] gastou muito mais. Por isso, os relatos não são levados tão a sério. O pleito será vencido na política. Isso é fato."
Os mecanismos para garimpar apoio são variados. Blair, por exemplo, enviou carta personalizada a Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e membro votante no pleito. Elogiava a organização do Pan-2007 e pedia apoio a Londres.
Nova York preferiu impressionar pela quantidade. Mandou 40 atletas olímpicos e paraolímpicos de 12 países para Cingapura. A missão: alardear supostas vantagens dos norte-americanos.
Essa tendência apareceu em grau reduzido na última eleição, vencida por Pequim, talvez a Olimpíada com maior engajamento do Estado já arquitetada.
Agora, porém, o COI radicaliza sua opção pelo respaldo dos governantes. E vai além. O tiro é mais certeiro, pois apenas cidades que tenham condições de honrar compromissos sem grandes sacrifícios são selecionadas.
Nas palavras de Preuss: "O comitê retira as candidatas que possam dar dor de cabeça. Restam cinco, todas ricas e com seguras condições de realizar a Olimpíada. Nesse ponto, a concorrência fica centrada no duelo político. O mais eficiente leva os Jogos."


Com agências internacionais

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