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BADMINTON
Crianças de região carente do Rio descobrem o esporte, invadem a seleção e já sonham com os Jogos de 2007
Pelo Pan, favela empunha raquete e acerta na peteca
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
As crianças da favela da Chacrinha estão deixando a bola de futebol de lado para jogar badminton.
Na comunidade carente de Jacarepaguá (zona oeste do Rio),
Sebastião Dias de Oliveira, 39,
transformou o esporte praticamente desconhecido no país em
mania. Nos fundos da casa do
funcionário público, cerca de 60
crianças passam o dia dando raquetadas na pequena peteca.
O projeto teve início há cinco
anos, quando Oliveira teve uma
idéia inusitada: usar o badminton
para ""distrair a molecada" da favela em que mora. E já começa a
dar resultados. Pelo menos cinco
dos atletas treinados por ele têm
chances de disputar o Pan-2007.
Um deles integra a seleção.
"Desde que um amigo da escola
[trabalha na área esportiva do colégio Pedro 2º] me apresentou o
badminton, fiquei apaixonado.
Então, comecei a ensinar a galera
na rua", disse o funcionário público, que gasta todas as economias
num plano ambicioso: construir o
único centro de treinamento do
esporte no Brasil. Duas quadras
de tamanho oficial estão feitas
-o esporte é como o tênis, mas
jogado com petecas que atingem
até 300 km/h. Embaixo, ele reservou lugar para academia, centro
de informática e banheiros.
"Essas crianças já mostraram o
talento. Agora, sonho em dar uma
condição digna de treinamento.
Quero formar cidadãos, mas como os resultados vão surgindo,
não custa nada viajar", disse Oliveira, que investiu R$ 40 mil na
obra e quer contratar psicólogo.
Ex-interno da Funabem (instituição criada para cuidar de menores), ele mora numa casa pequena na favela e enfrenta muitas
dificuldades para treinar as crianças. Antes da quadra, elas jogavam no barro. Tênis é um artigo
de luxo na Chacrinha. Todas jogam descalças na quadra.
"Cada dia um perde um pedaço
do dedo, mas tudo bem", disse
Marcos Conceição, 17, que deve
neste ano ser incluído na principal categoria do esporte.
As raquetes foram doadas por
moradores de condomínio de luxo da Barra da Tijuca, onde Oliveira dá aulas. Cada uma vale cerca de R$ 200. As petecas são compradas por ele. Cada tubo com
dez delas custa cerca de R$ 50.
"A carência aqui é grande. Não
temos uma alimentação de atleta.
Comemos o que tem na panela
para competir contra uma galera
criada no "Leite Ninho". Isto mostra que podemos ir muito mais
longe", disse Aleksander Silva, 23,
11º colocado no ranking nacional.
Atualmente, os treinos foram
interrompidos. Os adolescentes e
Oliveira trabalham na construção
do ginásio. Oficialmente, o badminton é jogado só em lugares fechados. Por ser esporte de precisão, o vento atrapalha o jogo.
O sucesso da Chacrinha já está
atraindo empresários, como uma
empresa de GPS e a concessionária da Linha Amarela. A Agenco,
que ergue a Vila do Pan, vai colocar operários e material no CT.
"Acredito muito em todos e verei ainda uma criança daqui num
pódio olímpico", disse Oliveira.
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