São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

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BADMINTON

Crianças de região carente do Rio descobrem o esporte, invadem a seleção e já sonham com os Jogos de 2007

Pelo Pan, favela empunha raquete e acerta na peteca

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

As crianças da favela da Chacrinha estão deixando a bola de futebol de lado para jogar badminton.
Na comunidade carente de Jacarepaguá (zona oeste do Rio), Sebastião Dias de Oliveira, 39, transformou o esporte praticamente desconhecido no país em mania. Nos fundos da casa do funcionário público, cerca de 60 crianças passam o dia dando raquetadas na pequena peteca.
O projeto teve início há cinco anos, quando Oliveira teve uma idéia inusitada: usar o badminton para ""distrair a molecada" da favela em que mora. E já começa a dar resultados. Pelo menos cinco dos atletas treinados por ele têm chances de disputar o Pan-2007. Um deles integra a seleção.
"Desde que um amigo da escola [trabalha na área esportiva do colégio Pedro 2º] me apresentou o badminton, fiquei apaixonado. Então, comecei a ensinar a galera na rua", disse o funcionário público, que gasta todas as economias num plano ambicioso: construir o único centro de treinamento do esporte no Brasil. Duas quadras de tamanho oficial estão feitas -o esporte é como o tênis, mas jogado com petecas que atingem até 300 km/h. Embaixo, ele reservou lugar para academia, centro de informática e banheiros.
"Essas crianças já mostraram o talento. Agora, sonho em dar uma condição digna de treinamento. Quero formar cidadãos, mas como os resultados vão surgindo, não custa nada viajar", disse Oliveira, que investiu R$ 40 mil na obra e quer contratar psicólogo.
Ex-interno da Funabem (instituição criada para cuidar de menores), ele mora numa casa pequena na favela e enfrenta muitas dificuldades para treinar as crianças. Antes da quadra, elas jogavam no barro. Tênis é um artigo de luxo na Chacrinha. Todas jogam descalças na quadra.
"Cada dia um perde um pedaço do dedo, mas tudo bem", disse Marcos Conceição, 17, que deve neste ano ser incluído na principal categoria do esporte.
As raquetes foram doadas por moradores de condomínio de luxo da Barra da Tijuca, onde Oliveira dá aulas. Cada uma vale cerca de R$ 200. As petecas são compradas por ele. Cada tubo com dez delas custa cerca de R$ 50.
"A carência aqui é grande. Não temos uma alimentação de atleta. Comemos o que tem na panela para competir contra uma galera criada no "Leite Ninho". Isto mostra que podemos ir muito mais longe", disse Aleksander Silva, 23, 11º colocado no ranking nacional.
Atualmente, os treinos foram interrompidos. Os adolescentes e Oliveira trabalham na construção do ginásio. Oficialmente, o badminton é jogado só em lugares fechados. Por ser esporte de precisão, o vento atrapalha o jogo.
O sucesso da Chacrinha já está atraindo empresários, como uma empresa de GPS e a concessionária da Linha Amarela. A Agenco, que ergue a Vila do Pan, vai colocar operários e material no CT.
"Acredito muito em todos e verei ainda uma criança daqui num pódio olímpico", disse Oliveira.


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