São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

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Na saída do hotel, torcida hostiliza atletas e técnico

Principal alvo é Roberto Carlos, responsabilizado pelo gol da França, mas sobram vaias até para o médico da seleção

Lateral mantém silêncio da véspera; Parreira é forçado a ouvir gritos pedindo a volta de seu antecessor, Luiz Felipe Scolari, ao cargo

DOS ENVIADOS A FRANKFURT

Numa travessa estreita de Frankfurt, protegida por grades e um pequeno exército de policiais, confirmou-se o fim do casamento entre os torcedores e a mais badalada seleção brasileira dos últimos anos.
Os mesmos brasileiros que pouco apoiaram o time nas arquibancadas da Alemanha foram cruéis com os jogadores, especialmente o lateral-esquerdo Roberto Carlos, e a comissão técnica, representada aqui basicamente na figura de Carlos Alberto Parreira (apesar de até o médico José Luiz Runco ter sido xingado quando se aventurou por um passeio por um dos centros financeiros da Europa na hora do almoço).
Quem saiu mais cedo, como Ronaldinho e Adriano, conseguiu se livrar da ira dos fãs. Mas alguns só saíram do hotel durante o dia e se arrependeram.
Já colocado como um dos vilões pela eliminação por estar ajeitando a meia enquanto Henry avançava para a área para marcar o gol da vitória francesa, Roberto Carlos foi xingado por dezenas de pessoas.
Para uma torcedora, o lateral fez sinal com o dedo exigindo silêncio. Como já havia feito na véspera após o jogo, quando disse que não falaria com a imprensa porque seu pai não o autorizou, o jogador do Real Madrid não abriu a boca.
De acordo com sua assessora, o lateral-esquerdo foi para a Espanha, assim como Ronaldo, que saiu do hotel acompanhado da namorada Raica de Oliveira, que havia chegado lá durante a madrugada, e Ronaldinho. Dessa forma, a missão de dar explicações sobre o fracasso na Alemanha vai ficar nas mãos de Parreira e de jogadores que pouco participaram ou nem entraram em campo na competição, como Mineiro, Rogério e Ricardinho (Cafu é o único titular que resolveu enfrentar a recepção de hoje).
Quando os jogadores que não abandonaram a delegação saíram para pegar o ônibus que os levaria até o aeroporto, eram quase duas centenas de torcedores e curiosos. E aí a coisa se radicalizou. Primeiro, eram gritos de "mercenários." Depois, o tradicional "hit" das organizadas: "Vergonha, time sem vergonha". Por último, um que dizia que a seleção era a "vergonha nacional". Mas o pior sobrou para Parreira.
Ofensas pesadas eram endereçadas a ele ao mesmo tempo que muita gente gritava o nome de Luiz Felipe Scolari, seu antecessor no cargo.
No aeroporto de Frankfurt, onde embarcaram em vôos da Varig, os jogadores não foram incomodados por outros torcedores -alguns até deram palavras de apoio aos jogadores.
Hoje, quando quem sobrou desembarca no Brasil em dois vôos (um no Rio e outro em São Paulo), é bem possível que os mesmos xingamentos se repitam, provavelmente em maior escala. Há um mês, poucos imaginariam que o superfavorito ao título da Copa da Alemanha acabaria desse jeito. (EDUARDO ARRUDA, FÁBIO VICTOR, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)

Em tempo real: o amargo regresso ao país www.folha.com.br/copa2006


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