São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008

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JUCA KFOURI

E as cotas chegam ao futebol

Do Presidente do país ao único jornal esportivo nacional, cresce o pedido para abrasileirar a sele&ccdeil;ão

PRIMEIRO FOI o presidente da República que pediu ao presidente da CBF uma seleção brasileira com jogadores que atuem no Brasil.
Vocalizava, com sua inegável capacidade de falar a voz do povo, um sentimento que não é de hoje na torcida nacional, vínculos tão perdidos com a amarelinha que até os ufanistas de plantão começaram a se curvar diante das evidências.
Agora é o diário "Lance!" que, anteontem, em editorial de primeira página, clama por uma seleção com, ao menos, 50% dos jogadores que atuem no país.
Do mesmo modo que tenho sérias dúvidas sobre as cotas raciais, embora não as tenha em relação à necessidade de garantir a inclusão dos excluídos, admito que sempre achei que a seleção canarinha tinha de ser formada com os melhores jogadores brasileiros. Vivessem onde vivessem, embora jamais tenha me conformado com a política de exportação desenfreada de pé-de-obra que caracteriza não só uma política deliberada da CBF como, ainda por cima, faz a festa da cartolagem que enriquece enquanto os clubes definham.
Mas parece inegável que o modelo nefasto se esgotou e que o preço começa a ficar insuportável.
Enquanto era possível ganhar o tetra, o penta, apesar de todos os pesares e da óbvia contradição entre o futebol do Brasil e o no Brasil, tapava-se o sol com a peneira e até o presidente da República, que ora se queixa, mudou de opinião sobre o da Casa Bandida do Futebol e passou a tratá-lo como um vencedor.
Mas não é só.
Carlos Alberto Parreira, que um dia chegou a dizer que com um mínimo de organização o Brasil poderia ser a “NBA do futebol”, começou a repetir o discurso de que o melhor para a seleção era ter nossos craques na Europa.
E você procura uma camisa de clube brasileiro pelo mundo afora e não acha, só as da CBF, embora encontre, também, além das óbvias dos grandes clubes italianos, espanhóis, ingleses, as do Boca Juniors e do River Plate.
E olha que nem há grande diferença entre o que se desfaz aqui e o que se desfaz na Argentina.
Fato é que está ficando, cada noite de mau futebol da seleção, ou cada domingo de derrota, mais claro que exportar não é a solução.
Além de um time banalizado, temos um grupo de jogadores que nasceu para ser vaiado. Com alguns que até o português esqueceram, apesar de saberem contar nota por nota, euro por euro, libra por libra, dólar por dólar, porque o dinheiro é tudo neste pobre mundo em que a aparência vale mais que a essência.
Gente que nada sabe de 1958.
E o ponto nem é só mais este, porque Júlio César e Doni não são melhores que Marcos e Rogério Ceni. Nem Maicon é superior a Leonardo Moura, ou Gilberto Silva a Hernanes, e por aí afora.
Verdade que, também, se não se mexer fundo na estrutura apodrecida de nosso futebol, nem a cota do meio a meio adiantará.
Porque, a cada convocação de 11 daqui, esses deixarão de ser daqui para passarem a ser dali.
Ou não é por isso que também o Equador se apresenta como o mais novo campeão da Libertadores?


blogdojuca@uol.com.br

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