São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ele sabe perder

Amargo nas vitórias, Dunga dá adeus à seleção abatido , assume culpa, critica juiz e isenta Felipe Melo

DOS ENVIADOS A PORT ELIZABETH

Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, mostrou, em seus dias de glória na seleção, que não sabe ganhar. Após os triunfos, tinha mania de vociferar grosseiramente contra a imprensa.
Ontem, ao ver desmoronar seu sonho de ser campeão mundial, o técnico deixou claro que sabe, sim, é perder.
Com os olhos marejados e um abatimento jamais visto desde que assumiu o comando da seleção, há quase quatro anos, Dunga foi cortês, assumiu a responsabilidade pela derrota e pôs um fim à sua era no cargo, com as conquistas da Copa América de 2007 e da Copa das Confederações do ano passado.
Fracassou, porém, em seus dois principais objetivos: a Olimpíada de Pequim e o Mundial da África do Sul.
"Sobre o meu futuro, eu disse que meu compromisso seria de quatro anos [até o final da Copa]", afirmou.
"Todos estamos muito tristes, trabalhamos para obter um resultado diferente, sabíamos que seria um jogo muito difícil. Conseguimos jogar melhor no primeiro tempo e não mantivemos a forma de jogar no segundo", declarou Dunga, que poupou de críticas o volante Felipe Melo, expulso ontem.
O jogador da Juventus, da Itália, foi sempre uma das apostas do treinador, que sofreu muitas críticas por isso.
"Acho que a culpa é de todos nós, eu levo a maior parte, mas seria injusto falar do Felipe, não foi a primeira vez que um jogador é expulso numa Copa do Mundo. A responsabilidade é de todos."
O técnico concordou, entretanto, que o Brasil perdeu o controle após sofrer o gol de empate e que a situação piorou com o gol da virada. "Houve nervosismo pelo fato de o adversário virar."
Mas atribuiu parte dessa instabilidade ao juiz japonês.
"Jogar com um a menos contra jogadores de qualidade sempre dificulta, mas desde o início a gente comentou que o juiz estava bastante pressionado, deu faltas que não aconteciam", reclamou o treinador da seleção.
"Tive de trocar o Michel [Bastos], que levou cartão num lance que nem foi falta. Não é desculpa, mas acontece, gostaria que fosse diferente, mas só quem estava em campo poderia ter uma noção melhor", comentou.
Dunga, gaúcho de Ijuí, acredita ter feito "tudo certo" durante sua gestão à frente da seleção. Afirmou ter recuperado a vontade dos jogadores de vestir a camisa do time pentacampeão do mundo, perdida durante o Mundial de quatro anos atrás.
Foi contratado justamente por esse motivo. Barrou medalhões como Roberto Carlos, Ronaldo e Ronaldinho.
Prestigiou o grupo atual de jogadores, criou uma "panela", recebeu carta branca da CBF, poder que nenhum outro técnico jamais teve na seleção numa Copa do Mundo.
"Infelizmente não conseguimos nosso maior objetivo, mas conseguimos resultados nesses quatro anos, e talvez o maior resultado tenha sido o resgate da seleção brasileira. Se você visse a fisionomia dos jogadores no vestiário, me entenderia melhor", afirmou Dunga.
Ele declarou que a seleção tinha que ter privacidade, mas que não foi promovido um boicote à imprensa.
"Poucas vezes uma seleção ficou 52 dias sem folga [foram, na verdade, 24 dias] sem nada, sem ninguém reclamar. Não houve nenhuma polêmica, tudo transcorreu normalmente, com muita transparência", frisou ele.
"É óbvio que muitos jogadores viam essa Copa como a oportunidade de fazer história na seleção." (EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)


Texto Anterior: Tostão: Brasil eliminado
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.