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Ele sabe perder
Amargo nas vitórias, Dunga dá adeus
à seleção abatido , assume culpa,
critica juiz e isenta Felipe Melo
DOS ENVIADOS A PORT ELIZABETH
Carlos Caetano Bledorn
Verri, o Dunga, mostrou, em
seus dias de glória na seleção, que não sabe ganhar.
Após os triunfos, tinha mania de vociferar grosseiramente contra a imprensa.
Ontem, ao ver desmoronar
seu sonho de ser campeão
mundial, o técnico deixou
claro que sabe, sim, é perder.
Com os olhos marejados e
um abatimento jamais visto
desde que assumiu o comando da seleção, há quase quatro anos, Dunga foi cortês,
assumiu a responsabilidade
pela derrota e pôs um fim à
sua era no cargo, com as conquistas da Copa América de
2007 e da Copa das Confederações do ano passado.
Fracassou, porém, em
seus dois principais objetivos: a Olimpíada de Pequim
e o Mundial da África do Sul.
"Sobre o meu futuro, eu
disse que meu compromisso
seria de quatro anos [até o final da Copa]", afirmou.
"Todos estamos muito tristes, trabalhamos para obter
um resultado diferente, sabíamos que seria um jogo
muito difícil. Conseguimos
jogar melhor no primeiro
tempo e não mantivemos a
forma de jogar no segundo",
declarou Dunga, que poupou
de críticas o volante Felipe
Melo, expulso ontem.
O jogador da Juventus, da
Itália, foi sempre uma das
apostas do treinador, que sofreu muitas críticas por isso.
"Acho que a culpa é de todos nós, eu levo a maior parte, mas seria injusto falar do
Felipe, não foi a primeira vez
que um jogador é expulso
numa Copa do Mundo. A responsabilidade é de todos."
O técnico concordou, entretanto, que o Brasil perdeu
o controle após sofrer o gol
de empate e que a situação
piorou com o gol da virada.
"Houve nervosismo pelo fato
de o adversário virar."
Mas atribuiu parte dessa
instabilidade ao juiz japonês.
"Jogar com um a menos
contra jogadores de qualidade sempre dificulta, mas desde o início a gente comentou
que o juiz estava bastante
pressionado, deu faltas que
não aconteciam", reclamou
o treinador da seleção.
"Tive de trocar o Michel
[Bastos], que levou cartão
num lance que nem foi falta.
Não é desculpa, mas acontece, gostaria que fosse diferente, mas só quem estava
em campo poderia ter uma
noção melhor", comentou.
Dunga, gaúcho de Ijuí,
acredita ter feito "tudo certo"
durante sua gestão à frente
da seleção. Afirmou ter recuperado a vontade dos jogadores de vestir a camisa do time pentacampeão do mundo, perdida durante o Mundial de quatro anos atrás.
Foi contratado justamente
por esse motivo. Barrou medalhões como Roberto Carlos, Ronaldo e Ronaldinho.
Prestigiou o grupo atual de
jogadores, criou uma "panela", recebeu carta branca da
CBF, poder que nenhum outro técnico jamais teve na seleção numa Copa do Mundo.
"Infelizmente não conseguimos nosso maior objetivo, mas conseguimos resultados nesses quatro anos, e
talvez o maior resultado tenha sido o resgate da seleção
brasileira. Se você visse a fisionomia dos jogadores no
vestiário, me entenderia melhor", afirmou Dunga.
Ele declarou que a seleção
tinha que ter privacidade,
mas que não foi promovido
um boicote à imprensa.
"Poucas vezes uma seleção ficou 52 dias sem folga
[foram, na verdade, 24 dias]
sem nada, sem ninguém reclamar. Não houve nenhuma
polêmica, tudo transcorreu
normalmente, com muita
transparência", frisou ele.
"É óbvio que muitos jogadores viam essa Copa como a
oportunidade de fazer história na seleção."
(EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO
COBOS E SÉRGIO RANGEL)
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