São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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"Ainda não me sinto à vontade"

Técnico Cuca, do Santos, diz que até agora só fez colegas no clube e que espera que virem amigos

De volta à zona do descenso no Brasileiro, time pega o Coritiba na Vila Belmiro com seu treinador ainda sob muita pressão no cargo

RICARDO VIEL
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

Há menos de dois meses no Santos, o técnico Cuca, 45, já teve que enfrentar dificuldades dentro e fora de campo. Confronto com jogadores, pressões internas e a falta de resultados o levaram à demissão, ou, em suas palavras, à entrega do cargo. Passado o momento mais turbulento, o treinador reconhece que ainda não se sente "totalmente à vontade no clube" e que a amizade que busca com atletas e funcionários é algo que requer tempo. "A gente aqui é hoje companheiro de equipe, colega. Se Deus quiser, vamos ser amigos."

 

FOLHA - O Santos conquistou 9 pontos dos últimos 12 que disputou. O pior já passou?
CUCA
- Não acabei com as minhas dificuldades ainda. Estou traçando o caminho e descobrindo maneiras para diminuir essas dificuldades que existem dentro e fora de campo. Acho que, para uma pessoa ser bem-sucedida, o primeiro passo é se sentir bem e se sentir dentro do local que está. Demorei um pouco para entrar.

FOLHA - Tem jogadores no Santos que não se sentem bem?
CUCA
- Pode ocorrer. Às vezes o jogador fica seis meses, um ano no clube e não se sente em casa, vai para outro time e arrebenta. De repente tem jogador que não está se sentindo bem aqui. Quando você faz remontagem em equipe, desagrada a muita gente. Isso tudo requer um tempo de encaixe. Ainda sinto que posso encaixar mais aqui no Santos. Não estou totalmente à vontade como eu pretendo estar. Isso acontece gradativamente, à medida que vai pegando confiança, as pessoas vão confiando em você.

FOLHA - Acredita que fez o certo em se demitir?
CUCA
- Foi uma maneira de eu passar para o presidente meu descontentamento, e o direito que ele tinha de mudar, porque as coisas não estavam boas como eu queria. O time não estava jogando bem e não havia perspectiva de mudança. Melhorou. Não sei se foi por aquilo [a demissão] ou pela conversa que tive com o grupo, quando expus meus sentimentos. As coisas melhoraram e estão melhorando. A gente hoje está criando um vínculo maior com os jogadores.

FOLHA - O estilo do Leão [ex-técnico do Santos] era mais durão. O seu parece ser mais amigo, é assim?
CUCA
- Eu gosto sempre de ter amizade, com respeito e desde que haja hierarquia. Gosto de brincar, de ser amigo, de participar, fazer churrasco...

FOLHA - É difícil encontrar esse meio-termo entre o chefe e o amigo. Não podem acontecer exageros?
CUCA
- Existem desencontros de opiniões. No Parque Antarctica, [jogo contra o Palmeiras] teve um desencontro com o Molina, que não entendeu a substituição. É difícil, no calor do jogo, entender. O que não pode é passar do limite. Ele esteve no limite, não houve desrespeito. Falaram em tapa, xingamento, esteve muito longe disso. Se tivesse, teria tomado uma atitude imediata. Ele chutou um copo de água. Ele é cara de personalidade forte, mas é educado. No outro dia, reconheceu o erro para o grupo.

FOLHA - Um grupo pode funcionar sem essa amizade que você busca?
CUCA
- Pode acontecer, mas não me satisfaz. Acho que, quando tem a alegria, é mais fácil. Mas tem que ter aceitação, jogar, ficar no banco...

FOLHA - Como você lida com as críticas ao seu trabalho?
CUCA
- Eu não leio jornal, não escuto rádio e não vejo TV, principalmente quando não venço. Quando tem um jogo bom, aí dou uma olhadinha.


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