São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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Macedônia vira Tibete na Vila

Policiais confundem bandeiras e interpelam canoísta; capoeirista brasileiro também ganha "visita'

Saso Popovski, que também é dirigente do comitê de seu país, teve de recorrer ao COI para conseguir desfazer o mal-entendido com chineses

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Colocar bandeiras nas sacadas de Pequim, em temporada olímpica, virou assunto de polícia. Secretário-geral do Comitê Olímpico da Macedônia, Saso Popovski, 41, foi visitado por policiais e voluntários em seu apartamento na Vila Olímpica depois de desfraldar duas bandeiras de seu país no terraço.
"Eles acharam que fosse a bandeira do Tibete e me pediram para retirá-la", disse Popovski à Folha. O Tibete é uma Província separatista ocupada pela China desde 1950 e a repressão a qualquer movimento de independência merece todo esforço do regime chinês.
Na semana passada, o capoeirista carioca Aroldo Valentim Espíndola, 43, passou pelo mesmo constrangimento. A polícia chinesa exigiu que ele tirasse a bandeira do Brasil que colocou na sacada do seu quarto em um hotel de Pequim.
A caça contra as bandeiras revela a paranóia da segurança chinesa - qualquer possibilidade de protesto é vista como terrorismo pelas autoridades.
O governo chinês queria proibir, inicialmente, que torcedores entrassem com qualquer bandeira nos estádios e ginásios. No mês passado, liberou que os torcedores possam levar uma bandeira com até dois metros de comprimento. Faixas estão proibidas.
O cartola macedônio, que também compete na canoagem, diz que precisou ligar para o COI para desfazer o mal-entendido. Esta é a sexta participação do pequeno país da ex-Iugoslávia nos Jogos.
Apesar das duas bandeiras terem um sol ao meio com raios coloridos a partir dele, a bandeira tibetana é vermelha e azul, enquanto a da Macedônia é vermelha e amarela.
A bandeira do Brasil também sofreu perseguição. Ao chegar a Pequim para dar aulas a seus 30 alunos, o capoeirista Espíndola, o Mestre Feijão, colocou uma bandeira de 2 m no terraço do hotel Asian Pacific.
"Pensei que fosse clima olímpico, cada um colocando a bandeira de seu país para torcer."
Às 9h, o gerente do hotel ligou para ele para que tirasse a bandeira. Feijão não levou a sério. Às 11h, uma patrulha da polícia já estava no térreo do Asian Pacific. "O gerente me ligou dizendo que ele seria preso se eu não tirasse a bandeira."
"Já estive na Rússia, em vários países, e sempre pude colocar a bandeira numa boa. Agora, ela só fica na sala."
O governo prometeu no mês passado que manifestantes poderiam protestar em três parques distantes da Vila Olímpica. Mas ontem a primeira candidata a manifestante foi detida. De acordo com a exigência local, a médica aposentada Ge Yifei foi à Secretaria de Segurança de Pequim pedir permissão para protestar contra a destruição da área de lazer do condomínio onde mora por uma empreiteira, em Suzhou.
Autoridades dessa cidade, que a seguiram, apareceram na hora e a forçaram deixar Pequim, segundo ela relatou ao jornal "South China Morning Post", de Hong Kong.


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