São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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brasil x argentina

Londres vê o maior clássico "europeu"

Pela 1ª vez, maiores rivais sul-americanos vão se enfrentar só com jogadores "estrangeiros" desde o início da partida

Seleções arqui-rivais, donas de sete Copas do Mundo, entregam a empresas européias a exploração de seus jogos amistosos


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é só pelo local, o ultramoderno Emirates Stadium na fleumática Londres, que o amistoso entre Brasil e Argentina, às 12h, cheira a Europa.
Seja pela escalação das equipes ou até por toda a organização da partida, os dois maiores rivais sul-americanos provam que suas seleções são hoje puros produtos de exportação.
Pela primeira vez na história de quase cem anos e cem confrontos entre as duas nações, o jogo, o segundo do Brasil sob o comando de Dunga, vai começar com todos os 22 titulares atuando em clubes de fora de seus países de nascimento.
A Argentina tem todos os seus convocados jogando longe de suas fronteiras. O Brasil ainda conta com o goleiro Fábio e o lateral jogando Marcelo em território nacional, mas eles são reservas no time de Dunga.
O amistoso de hoje é também um marco de uma outra invasão européia no futebol de Argentina e Brasil. Tanto a AFA (Associação de Futebol Argentino) quanto a CBF venderam os direitos de seus amistoso para empresários europeus -o confronto em Londres será explorado em parceria pelos sócios das duas federações.
Os argentinos venderam todos os seus amistosos até 2011 para a Renova, uma empresa russa. Em cada jogo, recebe US$ 750 mil (R$ 1,61 milhão). O negócio brasileiro não é tão longo. A CBF repassou para a Kentaro, a mesma agência suíça/inglesa que levou a seleção para Weggis (SUI) antes da Copa, seus amistosos após o Mundial alemão e até o final do ano -devem ser seis ao todo, e cada um deles rendendo cerca de US$ 1 milhão (R$ 2,1 milhões).
O contrato dos argentinos é o mais polêmico. Ele fala que o técnico deve convocar os melhores jogadores do país para cada amistoso, de forma parecida ao que acontecia quando a Nike detinha o direito de explorar jogos da seleção brasileira.
A influência das empresas na escolha dos adversários de argentinos e brasileiros também é polêmica, mas as federações dos dois países garantem que têm autonomia nesse processo.
À imprensa inglesa, os executivos da Renova e da Kentaro dizem que os acordos são ótimos para os dois lados.
"Sem as duas empresas, esse jogo [de hoje] não aconteceria. Não é o papel das federações arrumar jogos em campo neutro, o que é um negócio de alto risco", diz Philipp Grothe, executivo da Kentaro. Ele diz que a influência da sua agência se resume a logística, venda de ingressos, propaganda e comercialização dos direitos de TV.
"A AFA não tem risco algum em seus amistosos agora. É uma transferência de risco, uma oportunidade para eles lucrarem e a gente conseguir novos negócios. É uma situação em que os dois vencem", afirma Markus Blume, diretor de comunicações da Renova.
O "lucrativo negócio" serve também para afastar as seleções de Argentina e Brasil de seus torcedores locais.
O acerto com a Renova e a Kentaro vai fazer com que os dois times passes mais de um ano sem jogar na terra natal.
Já os torcedores europeus -serão 60 mil hoje em Londres- vão se lambuzar com os gigantes sul-americanos.
Dentro de campo, o jogo marca a estréia de Alfio Basile como técnico da Argentina. Do lado brasileiro, o reencontro de Ronaldinho com o time é dúvida -ele será avaliado hoje pela manhã pela comissão técnica.


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