Réveillon do centenário suscitou paixões e questões que vão muito além do futebol

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, na velha e surrada comédia de costumes que é a existência, o embate entre a mulher e o futebol resiste inexplicavelmente, mesmo com todo louvável e célere avanço da fêmea também nesta área da bestialidade humana.
Repare no caso do Roberto Pessoa, mineiro, garçom e feliz proprietário de um estabelecimento, linha pé-sujo roots, aqui da Vila Pompeia, minha fonte de mil e uma narrativas. O cara, quem diria, quase foi expulso de casa no aniversário do Corinthians.
Marido exemplar, correto, virtuoso nos assuntos de alcova, viu Regina, a legítima, primeira e única em quase duas décadas, saltar das tamancas e cobrá-lo como uma cascavel de saias.
"Queria merecer pelo menos 10%, a taxa do garçom, da dedicação que você dispensa ao seu time", desabafou ela, no Réveillon fora de época do centenário do bando de loucos.
"Francisco, meu velho, cheguei breaco do vale do Anhangabaú, na hora do barulho infernal dos sabiás, ali por volta das quatro da matina, e a dona encrenca me esperava cheia da moral e da razoabilidade", relatou o homem.
Quando a paixão é ludopédica, meu caro Pessoa, acontece até entre as melhores famílias do Chelsea ou do Manchester United, relaxa.
"Que mané Chelsea, meu velho, estou falando de time, do meu Corinthians, respeito é bom e eu gosto", chisteou o amigo, às gargalhadas, como sempre. "Estou falando de coisa maior, o ciúme que a cria da minha costela tem do Timão, repare na grandeza da prosa."
Regina não cobrou nada demais ao consorte. Simplesmente o direito constitucional da isonomia, ou seja, o mesmo tratamento no seu aniversário. "Você até lembra a data, mas há quanto tempo a gente não comemora a data no nosso casório?"
Ciúmes, ciúmes de você, Corinthians, que merece mais devoção do que todas as amadas e amantes. Queixa mais do que legítima essa da mulher do meu amigo, também corintiana, mas não muito, alvinegra mais por solidariedade às dores do mundo que recaem sobre o marido.
Homem de bem, Pessoa prometeu um pacote completo, jantar, música ao vivo no barzinho e ainda o sagrado direito a suíte de luxo em um motel da zona oeste, ao som do ídolo Lionel Ritchie, no natalício da dona Regina, virginiana que completa 39 primaveras no próximo domingo. Vai, canalha!

xico.folha@uol.com.br

@xicosa


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