São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AUTOMOBILISMO

Filho de Nelson Piquet pode se tornar mais jovem campeão da F-3 inglesa, "caminho obrigatório" para a F-1

Nelsinho corre para escapar do vestibular

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A BRANDS HATCH

A perspectiva de uma carreira na F-1 e a chance de tentar repetir as glórias do pai. Ou o vestibular para alguma faculdade no Brasil.
Nelson Angelo Piquet, 19, o Nelsinho, toma hoje um desses caminhos. Em Brands Hatch, a 37 km de Londres, corre a última rodada do Campeonato Inglês de F-3 podendo se tornar o mais jovem campeão da categoria e o décimo brasileiro a levantar o título.
Mas o que importa para ele é convencer o pai de que é digno do nome e que pode ser profissional. Rota obrigatória para quem almeja a principal categoria do esporte, a F-3 inglesa, no seu caso, é mais do que isso. É tudo ou nada.
"Não tenho desculpas, preciso ser campeão. Meu pai já disse que se eu não levar esse título, volto pro Brasil para estudar", disse.
Serão duas corridas, com largadas às 8h e ao meio-dia. Metade do trabalho foi feito ontem. Nelsinho será o pole na primeira prova e largará em segundo na outra.
Seu único adversário na luta pelo campeonato, o inglês Adam Carroll tem tarefa bem mais complicada. Largará em sexto e em décimo, precisando descontar 26 pontos de desvantagem.
A F-3 inglesa confere 20 pontos para o vencedor. Na melhor das hipóteses, um piloto pode conquistar 42 pontos numa rodada.
Se vencer a primeira prova, Nelsinho será campeão. Entre outras combinações, os segundo ou terceiro lugares também lhe darão o título, caso Carroll não vença.
"Quero matar na primeira corrida", disse Nelsinho, ontem, após passar os últimos minutos da primeira sessão classificatória agachado, mão no queixo, acompanhando os tempos no monitor.
Nos boxes, além de sua mãe, a holandesa Sylvia, de duas irmãs e da namorada, apenas os membros da equipe. Nelson pai, tricampeão de F-1 em 81, 83 e 87, preferiu ficar em Brasília, chateado com o desempenho do filho nas últimas duas corridas, em Spa, na Bélgica, há três semanas.
Nelsinho poderia ter garantido o título na única rodada fora do Reino Unido. Mas foi sexto e quarto, e Carroll venceu ambas.
Foi demais para o exigente pai, campeão da F-3 há 26 anos, em 1978. "O Nelsinho é muito rápido, mas ainda comete erros e pilotos não têm o direito de errar. Para ser alguém na F-1, você não pode errar", disse Piquet, que gastou cerca de R$ 2,5 milhões neste ano com o esporte do filho.
Ontem, porém, após a confirmação da pole, começou uma operação para convencê-lo a pegar o jatinho e viajar para a Inglaterra. Ele é esperado hoje na pista.
Nove brasileiros já venceram a F-3, entre eles Emerson Fittipaldi (69) e Ayrton Senna (83). Rubens Barrichello, em 91, foi o mais jovem campeão, aos 19 anos e cinco meses. Nelsinho, três meses mais novo, pode bater a marca.
Mas para ele isso não importa. Ele corre para fugir do anonimato chato de alguma lista de vestibular. E corre em nome do pai.

Texto Anterior: Futebol - Tostão: Resultado x Espetáculo
Próximo Texto: Futebol: Maradona é questão de Estado em Cuba
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.