São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morre aos 75 pioneiro da natação

Tetsuo Okamoto foi o 1º nadador brasileiro a conquistar o pódio olímpico, com o bronze em 1952

Especialista na prova mais longa da modalidade se inspirou em ídolos do Japão para subir bruscamente seu volume de treinamento

Adir Vieira/Acervo "UH"/Folha Imagem
Tetsuo Okamoto, primeiro brasileiro a conquistar uma medalha olímpica na natação, nada na piscina do Pacaembu, em São Paulo


FERNANDO ITOKAZU
DA REPORTAGEM LOCAL

Tetsuo Okamoto costumava "cantar" enquanto nadava para evitar o tédio dos treinos na piscina do Yara Clube de Marília, no interior de São Paulo.
E foi preciso muita "cantoria" para que ele conquistasse a primeira medalha olímpica do Brasil nas piscinas. Especialista na prova mais longa da natação, Okamoto foi bronze nos 1.500 m livre em Helsinque-52.
Agora a piscina do Yara, onde ele costumava nadar nos finais de semana, vai ficar mais "silenciosa". Okamoto morreu na madrugada de ontem, aos 75 anos, de insuficiência respiratória e cardíaca. Com problemas nos rins, ele fazia hemodiálise freqüentemente.
Nascido em Marília (SP), Okamoto começou a nadar como tratamento da asma e logo viu que os campeonatos poderiam proporcionar viagens. Nessa época, seus treinos se resumiam a 2.000 metros diários.
Em 1949, sua preparação sofreu uma transformação.
Uma equipe japonesa fez uma excursão pelo Brasil e passou por Marília. Com resultados excelentes, inclusive com vitórias sobre os norte-americanos, eles eram conhecidos como "peixes voadores".
Okamoto ficou fascinado com aqueles nadadores e recebeu uma recomendação: se quisesse ter bons resultados, teria que treinar muito mais.
Foi o que fez. Numa época em que a piscina não tinha aquecimento e ele não contava com óculos de natação, Okamoto enfrentava o frio e saía com os olhos ardendo por causa do cloro, mas cumpria a rotina de nadar 10 mil metros diariamente. "Era fanático", dizia.
Os resultados apareceram. No Pan de Buenos Aires-51, Okamoto foi campeão nos 400 m e 1.500 m livre e vice no revezamento 4 x 200 m livre.
Com o Brasil ainda de ressaca pela inesperada derrota na final da Copa de futebol no ano anterior, houve festa em Marília, com desfile em carro aberto e feriado municipal, para o primeiro brasileiro campeão pan-americano da história.
Mas a glória maior viria no ano seguinte. Okamoto conquistou o bronze na batida de mão contra o americano James McLane e formou um pódio totalmente "japonês": o norte-americano Ford Konno, também com ascendência nipônica, foi o campeão, e Shiro Hashizume, medalha de prata.
Na volta para Marília, mais festa e um novo feriado. A comunidade japonesa comprou um carro para ele, que não aceitou por ser atleta amador.
A ligação de Okamoto com as raízes era forte. Dono de uma empresa de perfuração de poços artesianos em São Paulo, ele viajava aos finais de semana para o sítio e aproveitava para nadar na piscina que leva seu nome em Marília. Ele também doou todo seu acervo esportivo, incluindo a medalha olímpica, para o clube onde começou.
A CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) decretou luto de três dias.


Texto Anterior: Régis Andaku: Dos limões, uma limonada
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.