São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2010

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zona de tensão

Conflitos entre policiais e atletas se espalham por gramados do Nordeste e abrem discussão sobre falta de preparo e estratégia de ação da polícia

RAFAEL REIS
DE SÃO PAULO

Cachorro que morde atleta, jogador que sai de campo reclamando de agressão policial e zagueiro que é detido dentro do estádio. Todos esses casos aconteceram na mesma região do país.
Os gramados nordestinos registraram nos últimos anos os maiores conflitos entre jogadores e policiais no Brasil.
A última e mais incomum ocorrência foi registrada no estádio do Pituaçu, em Salvador, há dez dias.
O zagueiro Alison, do Bahia, foi mordido por um rotweiller que fazia a escolta do árbitro na partida contra o Vila Nova, pela Série B.
O defensor deixou o campo fazendo duras críticas à polícia local. Depois, amenizou o tom das reclamações, mas continuou falando que a forma como a segurança dos juízes é feita está errada.
"Se você se aproxima para falar alguma coisa, eles já vêm para a agressão com spray de pimenta e cacetete."
"O policiamento com cães é usado em todo o Brasil. Mas vamos reavaliar a situação", respondeu o major Henrique Melo, comandante da 39ª companhia independente da Polícia Militar da Bahia.
Mas Alison não é o único a reclamar de truculência da PM nordestina. O técnico Emerson Leão, de várias confusões no currículo, é outro que condena a corporação.
"Viajo ao Nordeste desde 1969. Isso já acontecia naquela época", disse ele, com três passagens pelo Sport.
"Eles têm paixão grande pelo futebol e poucas oportunidades de mostrá-la. Então, fazem de tudo para reforçar o bairrismo. Querem mostrar ao Sul que gozam de ordem e autoridade e acabam excedendo", completou ele.
Para o major George Benício, comandante da Companhia de Policiamento de Eventos do Ceará, o que explica as ocorrências no Nordeste é o comportamento dos jogadores de clubes grandes.
Ele crê que os atletas não aceitam perder para os times da região e criam confusões.
Cita o exemplo do Santos na derrota para o Ceará, no Castelão, no mês passado. Neymar bateu boca com rival e tentou partir para cima dele. Na confusão, Marquinhos foi afastar o companheiro e acabou acertado por policial.
"Não houve nenhum tipo de agressão. A tonfa [espécie de cacetete] é equipamento de defesa e acabou acertando o jogador porque ele tentou furar um bloqueio. É normal. Nem abrimos investigação interna", disse o major.
O conflito mais emblemático ocorreu em Pernambuco. Em 2008, o zagueiro André Luís, então no Botafogo, foi detido depois de ser expulso e fazer gestos ofensivos contra torcida e árbitro.
"O que a gente não permite aqui é que o torcedor tenha seu direito tolhido. Quem está em campo não está imune a ir para uma delegacia. Não podemos permitir os exageros. Mas acolhemos bem todo mundo, como é de praxe do povo nordestino", disse o coronel Ricardo Dantas, comandante do policiamento especializado do Estado.
A opinião não é compartilhada pelo vice-presidente de futebol do Sport, Francisco Guerra. Para ele, falta bom senso à polícia na região. "A lei não pode reger tudo. Mas é questão cultural. Também falta preparação e investimento em inteligência. Aqui, exageram na força. Aí no Sul, o problema é outro: a polícia deveria ser mais austera."


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