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zona de tensão
Conflitos entre policiais e atletas se espalham por gramados do Nordeste e abrem discussão sobre falta de preparo e estratégia de ação da polícia
RAFAEL REIS
DE SÃO PAULO
Cachorro que morde atleta, jogador que sai de campo
reclamando de agressão policial e zagueiro que é detido
dentro do estádio. Todos esses casos aconteceram na
mesma região do país.
Os gramados nordestinos
registraram nos últimos anos
os maiores conflitos entre jogadores e policiais no Brasil.
A última e mais incomum
ocorrência foi registrada no
estádio do Pituaçu, em Salvador, há dez dias.
O zagueiro Alison, do Bahia, foi mordido por um rotweiller que fazia a escolta do
árbitro na partida contra o
Vila Nova, pela Série B.
O defensor deixou o campo fazendo duras críticas à
polícia local. Depois, amenizou o tom das reclamações,
mas continuou falando que a
forma como a segurança dos
juízes é feita está errada.
"Se você se aproxima para
falar alguma coisa, eles já
vêm para a agressão com
spray de pimenta e cacetete."
"O policiamento com cães
é usado em todo o Brasil. Mas
vamos reavaliar a situação",
respondeu o major Henrique
Melo, comandante da 39ª
companhia independente da
Polícia Militar da Bahia.
Mas Alison não é o único a
reclamar de truculência da
PM nordestina. O técnico
Emerson Leão, de várias confusões no currículo, é outro
que condena a corporação.
"Viajo ao Nordeste desde
1969. Isso já acontecia naquela época", disse ele, com
três passagens pelo Sport.
"Eles têm paixão grande
pelo futebol e poucas oportunidades de mostrá-la. Então,
fazem de tudo para reforçar o
bairrismo. Querem mostrar
ao Sul que gozam de ordem e
autoridade e acabam excedendo", completou ele.
Para o major George Benício, comandante da Companhia de Policiamento de
Eventos do Ceará, o que explica as ocorrências no Nordeste é o comportamento dos
jogadores de clubes grandes.
Ele crê que os atletas não
aceitam perder para os times
da região e criam confusões.
Cita o exemplo do Santos
na derrota para o Ceará, no
Castelão, no mês passado.
Neymar bateu boca com rival
e tentou partir para cima dele. Na confusão, Marquinhos
foi afastar o companheiro e
acabou acertado por policial.
"Não houve nenhum tipo
de agressão. A tonfa [espécie
de cacetete] é equipamento
de defesa e acabou acertando o jogador porque ele tentou furar um bloqueio. É normal. Nem abrimos investigação interna", disse o major.
O conflito mais emblemático ocorreu em Pernambuco. Em 2008, o zagueiro André Luís, então no Botafogo,
foi detido depois de ser expulso e fazer gestos ofensivos
contra torcida e árbitro.
"O que a gente não permite aqui é que o torcedor tenha
seu direito tolhido. Quem está em campo não está imune
a ir para uma delegacia. Não
podemos permitir os exageros. Mas acolhemos bem todo mundo, como é de praxe
do povo nordestino", disse o
coronel Ricardo Dantas, comandante do policiamento
especializado do Estado.
A opinião não é compartilhada pelo vice-presidente
de futebol do Sport, Francisco Guerra. Para ele, falta bom
senso à polícia na região. "A
lei não pode reger tudo. Mas
é questão cultural. Também
falta preparação e investimento em inteligência. Aqui,
exageram na força. Aí no Sul,
o problema é outro: a polícia
deveria ser mais austera."
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