Com torcida delirando, piloto consulta equipe pelo rádio e descobre que ultrapassagem de Hamilton lhe tirava o título

Ferrarista lamenta "passar para o 1º lugar e ver tudo mudar na última curva'; para sua mulher, sensação é a de tirarem doce da boca

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Felipe Massa, 27, passou pela linha de chegada e chamou seu engenheiro pelo rádio. Queria saber o que deveria festejar. Do seu lado, a torcida celebrava de forma extasiada, parecia que ele havia conseguido mais do que "apenas" uma vitória no GP Brasil. Nos boxes, seus parentes pulavam, abraçados.
Quando ouviu que Lewis Hamilton havia ultrapassado Timo Glock, soube que a festa não seria pelo título mundial.
Massa afirmou ontem que não pensou na conquista do título nos segundos entre sua chegada e a do inglês. Mas, após deixar o carro aos prantos, chorar no pódio e encontrar a família e os companheiros de equipe, declarou ter vivido uma confusão de sentimentos.
"Todo mundo está sentindo a mesma coisa. Se você termina a corrida em uma situação em que seria o vice, é uma coisa, mas passar para o primeiro lugar e ver tudo mudar na última curva, é claro que são reações bem diferentes. Foi uma sensação muito estranha, não sabia o que fazer [quando cruzou a linha de chegada]", afirmou.
"Minha família, os amigos, os brasileiros e todos que estavam torcendo ficaram felizes pela vitória, mas chateados por isso ter acontecido na última curva", completou ele, em entrevista nos boxes da Ferrari.
Antes de Massa chegar ao local para ver a família e conversar com a equipe, o clima também misturava emoções. Uma placa com os dizeres, em italiano, "8 de 10, obrigado Felipe e Kimi" (em alusão aos oito títulos de Construtores da Ferrari nos últimos dez anos) e garrafas de champanhe mostravam a alegria ferrarista pela conquista. Os olhos vermelhos, os abraços de consolo e as reclamações sobre Glock evidenciavam a tristeza pelo vice de Massa.
Rafaela, mulher do piloto, dizia estar chateada porque haviam "colocado o doce na boca de Felipe e não o deixaram provar o gosto". Luis Antonio, pai do ferrarista, declarava que, se o filho não era o campeão da F-1, "já é o campeão do Brasil".
Anthony, pai de Hamilton, disse à família Massa que sentia por eles estarem vivendo a mesma situação que ele em 2007 -favorito, o inglês errou e perdeu o título em Interlagos.
O brasileiro não conseguiu cumprimentar o campeão. Mas afirmou que iria fazê-lo assim que encontrasse Hamilton.
Todos que estavam nos boxes pararam para assistir à entrevista coletiva de Massa. E aplaudiram as declarações do piloto: "Saio com um sorriso, sorriso de quem está orgulhoso pelo que fez, de ser brasileiro e de saber ganhar e perder".
Massa também deixa Interlagos com mais moral na Ferrari. No começo do ano, com o campeão mundial Kimi Raikkonen como companheiro e maus desempenhos nas primeiras provas, virou alvo de críticas. O brasileiro, porém, recuperou-se e terminou o ano como número um da equipe.
Ontem, Stefano Domenicali, chefe da Ferrari, rasgou elogios a Massa. Em uma disputa em que, segundo ele, "forças estranhas pareciam comandar a corrida", a postura concentrada do piloto o agradou. "O Felipe cresceu muito, fez um ótimo trabalho, mostrou personalidade e, acima de tudo, mostrou que é um grande homem, o que é importante para a Ferrari. Ele merecia o título, mas o esporte às vezes é cruel. Temos de ficar felizes por tudo o que fizemos."
Apesar do novo status, Massa foi contido ao falar de sua expectativa para o próximo ano.
Após aproveitar as férias, quer trabalhar logo no carro, a fim de se preparar adequadamente às novas regras da F-1 (aerodinâmica restrita, pneus slick, motores que devem durar três provas e sistema de recuperação de energia).
"Não adianta pensar sem a gente saber que carro vai ter, sem saber se é rápido. Vamos pegar o que aprendemos nesta temporada e ver do que precisamos. Vamos trabalhar para ter um carro competitivo e tentar fazer uma nova história."


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