São Paulo, quarta, 3 de dezembro de 1997.



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Felipão contraria a tradição palmeirense

ALBERTO HELENA JR.
Da equipe de articulistas

Como diz o personagem do Orival Pessini, aquele estudante de comunicação de barbicha e quetais: ah!, sei lá. É até capaz de o Santos virar esse jogo de cabeça pra baixo, o que seria ótimo. Não pelo Santos, tampouco contra o Palmeiras, como entidade. Mas para desbancar essa malsã idéia que se retoma -a do futebol de resultados.
Falando a verdade, com toda a franqueza? Esse Palmeiras de Felipão mais se parece com o Juventus de Milton Buzzetto do que com o Verdão dos áureos tempos, que vem desde Junqueira e Ministrinho até Muller e Djalminha, passando por Villadoniga, Lima, Canhotinho, Ademir da Guia, Pantera, Leivinha, etc.
Está ganhando menos pela eficácia da estratégia do treinador do que pelas circunstâncias. Ou melhor: pelo treinamento específico ministrado ao goleiro Velloso, destinado a acurar seus reflexos.
A propósito, algo me diz que esta é a carência de Zetti, um goleiro bem aquém daquele excepcional arqueiro de temporadas passadas (na minha modesta opinião, um dos seis maiores da história do Brasil, ao lado de Gilmar, Oberdã, Castilho, Barbosa e Leão).
Aliás, por falar na forma defensivista, exclusivamente defensivista, de o Palmeiras jogar, vale lembrar aos mais jovens que nisso não há a menor novidade. A retranca é tão velha como andar à pé. E sua solidificação, como tática ordenada de jogo, se deu há quase meio século, com o ferrolho suíço, do técnico Raplan.
De lá pra cá, adquiriu mil modelos e denominações. Mas, no fundo, é a mesma joça: ficar aqui atrás, esperando o adversário até retomar a bola e partir em veloz contragolpe.
O Palmeiras, que me lembre, nem mesmo com mestre Brandão, adepto envergonhado dessa filosofia, jamais, em sua gloriosa história, recorreu a tal expediente. Ao contrário: sempre que se impôs, se impôs pela excelência de seu time, jogando pra frente, buscando o gol, dando espetáculo, e vencendo.

Parreira volta à Copa, dirigindo, desta vez, a Arábia Saudita. E muita gente me cobra o voto dado ao técnico campeão do mundo, na enquete da Placar. Logo este escrivinhador, que tanto criticou a atuação brasileira na Copa dos EUA? Pois é uma questão de critério.
Claro que o time brasileiro mais encantador foi o de Telê, na Espanha, em 82. Claro que o time de Zagallo de 70 cumpriu a mais bela e eficiente campanha de todas as Copas. Claro que Cláudio Coutinho foi a mais brilhante mente que conduziu nossos destinos, e que, se vivo fosse hoje em dia, estaria cem anos-luz à frente de qualquer outro técnico do mundo.
Mas o time de Zagallo não era o time de Zagallo: era o time da galera, com Rivelino como falso ponta-esquerda e Tostão de centroavante.
E o time de Telê, em 82, por maldição dos deuses, ficou no meio do caminho. Assim como Coutinho só pôde armar sua seleção ideal depois da Copa de 78, que serviu de base para Telê.
O fato é que Parreira foi o único que traçou seu caminho e cumpriu-o até levantar a taça, sob os apupos de quase todos. Sobretudo, os meus. E, desconfio, dele mesmo.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas



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