São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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A vez dos "covers"

Sem craques, torcida ri da sua penúria

"Zidanilo", "Fabão de Boer" e "Tiuí Henry" são louvados nos estádios

Onda de apelidos estabelece analogias bem-humoradas entre galácticos do futebol europeu e jogadores do Brasileiro que termina hoje

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A torcida do Flamengo decidiu: o atacante Obina é melhor que Eto'o. No São Paulo, o meia Danilo, que não é careca, mas vestia a 10, virou "Zidanilo". Já o zagueiro Fabão não tem os traços louros de Frank de Boer, mas viu faixa no Morumbi o rebatizando como "Fabão de Boer".
Em Santos, o time de Vanderlei Luxemburgo não tem o francês Thierry Henry, mas conta com Rodrigo "Tiuí Henry". E há torcedores conspirando para transformar Wellington Paulista num neogaláctico: "Wellington Paulistelrooy".
Terá o torcedor perdido o critério ou, cansado de xingar e sofrer, decidiu se divertir, no melhor estilo "quem não tem cão caça com gato"?
Para Antônio Soares, professor de pós-graduação de esporte da UFRJ, os fãs estão rindo do seu próprio futebol. "A ironia original é um distanciamento. O brasileiro está vendo o mundo e dizendo: nós não somos o centro do futebol. O centro está na Europa", afirma.
"Com a queda da qualidade, o torcedor perdeu o referencial aqui dentro. Antes, você tinha o "Pelé branco", o "novo Garrincha", mas agora o torcedor sabe tudo o que está rolando lá fora", afirma Roberto Rivellino, tricampeão do mundo na Copa de 1970, no México.
"O próprio Muricy Ramalho já disse que, tirando o Rogério, ele não tem nenhum fora de série no time. E comparar o Danilo com o Zidane é brincadeira", completa Rivellino.
Dizer que o fenômeno é novo é um exagero. Houve épocas em que todo canhotinho era um Maradona. O Cruzeiro e o Flamengo já viram um Gelson "Baresi", a partir do classudo líbero italiano do Milan. A diferença é que, agora, as
torcidas que encontraram algum cover europeu estão de bem com a vida. Foi assim no Flamengo campeão da Copa do Brasil, é assim com o São Paulo campeão do Brasileiro e com o Santos campeão paulista. Na falta de um ídolo indiscutível, inventa-se um até empolgar.
Segundo o humorista Marco Bianchi, da MTV, a proximidade do futebol internacional via TV a cabo ajudou.
"A torcida brasileira tem bom humor e capacidade de ironizar. Para quem vê os nossos jogadores jogando lá na Espanha, na Itália, o Brasileiro virou a Série "G de jeitinho". O problema é o jogador concluir que a comparação faz sentido. Se o cara tiver três neurônios, vai achar que aquilo é um baita elogio. Se tiver mais de quatro, vai perceber que não."
Quando viu a faixa "Fabão de Boer", o ex-xerife são-paulino gostou. "Foi um amigo que queria me fazer uma homenagem." O meia Danilo, ou "Zidanilo", é mais comedido. "Eu acho legal, mas os estilos são diferentes."
Mas o torcedor são-paulino gostou tanto da brincadeira que já vê em um reserva outro cover. Não se espante se o Morumbi passar a cantar "Ah, Edgar é melhor que Drogba".
Ou melhor, fique espantado.


Colaboraram RODRIGO BUENO e JULYANA TRAVAGLIA , da Reportagem Local

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