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A vez dos "covers"
Sem craques, torcida ri da sua penúria
"Zidanilo", "Fabão de Boer" e "Tiuí
Henry" são louvados nos estádios
Onda de apelidos estabelece analogias bem-humoradas entre galácticos do futebol europeu e jogadores do Brasileiro que termina hoje
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A torcida do Flamengo decidiu: o atacante Obina é
melhor que Eto'o. No São
Paulo, o meia Danilo, que
não é careca, mas vestia a
10, virou "Zidanilo". Já o
zagueiro Fabão não tem os
traços louros de Frank de
Boer, mas viu faixa no Morumbi o rebatizando como
"Fabão de Boer".
Em Santos, o time de
Vanderlei Luxemburgo
não tem o francês Thierry
Henry, mas conta com
Rodrigo "Tiuí Henry". E
há torcedores conspirando para transformar Wellington
Paulista num neogaláctico:
"Wellington Paulistelrooy".
Terá o torcedor perdido o critério ou, cansado de xingar e sofrer, decidiu se divertir, no melhor estilo "quem não tem cão
caça com gato"?
Para Antônio Soares, professor de pós-graduação de esporte da UFRJ, os fãs estão rindo
do seu próprio futebol. "A ironia original é um distanciamento. O brasileiro está vendo
o mundo e dizendo: nós não somos o centro do futebol. O centro está na Europa", afirma.
"Com a queda da qualidade, o
torcedor perdeu o referencial
aqui dentro. Antes, você tinha o
"Pelé branco", o "novo Garrincha", mas agora o torcedor sabe
tudo o que está rolando lá fora",
afirma Roberto Rivellino, tricampeão do mundo na Copa de
1970, no México.
"O próprio Muricy Ramalho
já disse que, tirando o Rogério,
ele não tem nenhum fora de série no time. E comparar o Danilo com o Zidane é brincadeira",
completa Rivellino.
Dizer que o fenômeno é novo
é um exagero. Houve épocas
em que todo canhotinho era
um Maradona. O Cruzeiro e o
Flamengo já viram um Gelson
"Baresi", a partir do classudo líbero italiano do Milan.
A diferença é que, agora, as
torcidas que encontraram algum cover europeu estão de
bem com a vida. Foi assim no
Flamengo campeão da Copa do
Brasil, é assim com o São Paulo
campeão do Brasileiro e com o
Santos campeão paulista. Na
falta de um ídolo indiscutível,
inventa-se um até empolgar.
Segundo o humorista Marco
Bianchi, da MTV, a proximidade do futebol internacional via
TV a cabo ajudou.
"A torcida brasileira tem
bom humor e capacidade de
ironizar. Para quem vê os nossos jogadores jogando lá na Espanha, na Itália, o Brasileiro virou a Série "G de jeitinho". O
problema é o jogador concluir
que a comparação faz sentido.
Se o cara tiver três neurônios,
vai achar que aquilo é um baita
elogio. Se tiver mais de quatro,
vai perceber que não."
Quando viu a faixa "Fabão de
Boer", o ex-xerife são-paulino
gostou. "Foi um amigo que queria me fazer uma homenagem."
O meia Danilo, ou "Zidanilo", é
mais comedido. "Eu acho legal,
mas os estilos são diferentes."
Mas o torcedor são-paulino
gostou tanto da brincadeira
que já vê em um reserva outro
cover. Não se espante se o Morumbi passar a cantar "Ah, Edgar é melhor que Drogba".
Ou melhor, fique espantado.
Colaboraram RODRIGO BUENO e JULYANA
TRAVAGLIA , da Reportagem Local
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