São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2010

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A vitória dos piores

Fifa ignora avaliações técnicas ruins e opta pelas campanhas milionárias dos emergentes Rússia e Qatar para sediar as Copas de 2018 e 2022

RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

Em uma eleição marcada por denúncias de corrupção, a Fifa optou pelos países que ofereceram mais dinheiro para a organização da Copa do Mundo e tiveram as piores avaliações técnicas.
A Rússia sediará o evento em 2018, e o Qatar, em 2022.
Com as melhores infraestruturas, Inglaterra e Espanha/Portugal, que buscavam sediar o Mundial de 2018, e EUA, postulante a 2022, foram alijados por ampla maioria pelos 22 membros do Comitê Executivo da Fifa.
A Rússia ganhou já no segundo turno. Após eliminação da Inglaterra, obteve 13 votos e bateu Espanha/Portugal e Bélgica/Holanda.
O Qatar precisou de quatro rodadas para sair vencedor. Mas já obteve 11 votos desde o início. No último turno, derrotou os EUA por 14 a 8.
As candidaturas russa e árabe foram as que mais gastaram nas campanhas. Estima-se que os russos gastaram R$ 80 milhões, o dobro do investido pelos ingleses.
Não há um valor de gastos divulgado da postulação do Oriente Médio, mas ela tinha o financiamento do xeque milionário Mohammed Bin Hamman. E contratou consultores caros como Mike Lee, que ajudou a Rio-2016.
Esse dinheiro foi gasto em uma corrida eleitoral marcada por denúncias contra o corpo de votantes da Fifa.
Acusados de negociar votos, dois membros do Comitê Executivo foram suspensos. E três outros, entre eles Ricardo Teixeira, são apontados pela imprensa europeia como receptores de propinas pela ISL, ex-parceira da Fifa.
Também foi uma campanha em que os relatórios técnicos foram ignorados.
Pela avaliação da Fifa, Qatar e Rússia eram as candidaturas com maiores problemas. Foram as únicas a terem notas de alto risco em quesitos de avaliação.
Os russos têm deficiência em transporte, especialmente aeroportos. A vastidão do país e sua distância de outros territórios casa com a falta de trens, segundo o relatório de avaliação da entidade.
No Qatar, um problema é o calor, que chega a 40ºC na época da Copa. "A eficácia e a aceitação do sistema de resfriamento de gramado é uma questão", afirma o relatório.
Para compensar, o Qatar promete gastar US$ 3 bilhões em estádios ambiciosos. Os russos elevam sua estimativa a US$ 3,8 bi para arenas -valores com infraestruturas também vão à estratosfera.
Para convencer os dirigentes da Fifa, foi preciso que o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, fizesse forte lobby com o presidente da entidade, Joseph Blatter, que apoiou sua postulação.
"A organização da Copa neste continente fará bem à Copa", afirmou Blatter.
A dependência do político era tão grande que foi preciso ele pegar voo da Rússia a Zurique para a candidatura fazer os primeiros pronunciamentos após o triunfo.
No caso do Qatar, há o lobby de Bin Hamman, membro do Comitê Executivo, que lançou candidatura contra Blatter para a próxima eleição, mas depois desistiu.
Hamman ainda fez acordo eleitoral com espanhóis e financiou jogos milionários do Brasil e da Argentina, ambas com votantes no comitê.
"Fomos uma candidatura que ninguém viu ser lançada, ninguém viu que poderíamos ganhar", definiu Mohammed bin Hamad Al-Thani, chefe da postulação.


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