São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

O peso da amarelinha

ZAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mesmo com tantos problemas de convocação, acho que o Ricardo Gomes fará um bom trabalho e vai classificar o Brasil para Atenas.
O principal problema é saber quem foi o gênio que mandou o torneio começar na primeira semana de janeiro. Só pode ser alguém que não tem família, ou que não precisa se apresentar na semana do Natal ou do Ano Novo. Sou sincero e acho isso uma palhaçada. Mas, mesmo assim, o Brasil vai bem, vai passar pelo Pré-Olímpico.
Eu já passei por esse momento, fui campeão no Pré-Olímpico disputado na Argentina, em 96, mas depois não ganhamos o ouro.
Só que o ouro é questão de tempo. Antes era mais difícil, porque os brasileiros vinham com jogadores amadores e os europeus, especialmente os do Leste, atuavam com a equipe principal. Mas só não ganhamos por dois motivos. Primeiro, porque o povo brasileiro quer mesmo é ganhar a Copa do Mundo. Segundo, por causa da falta de sorte na hora final.
Futebol é o esporte número um do mundo por isso, o melhor nem sempre vence, há as surpresas, que são mais raras em outros esportes. Basquete, vôlei, o que você for pensar, não é assim, não tem a emoção do futebol. Se bem que no ano passado o vôlei brasileiro perdeu para a Venezuela, aí foi uma surpresa. Mas é tão rara...
O que me dá confiança no Pré-Olímpico é a força que o futebol brasileiro tem mostrado. Hoje ninguém tem coragem de dizer que não somos o número um do mundo. Somos, sim. Ganhamos a Copa do Mundo, logo depois o Mundial sub-17, o Mundial sub-20. É muita coisa para um país só.
Vocês conhecem um país europeu que consiga fazer feito parecido? Não há. Eles vivem comprando nossos atletas, mas na hora de formar suas seleções é com os deles que devem contar. E se dão mal, porque os melhores são os nossos. Temos provado isso competição após competição e é algo que me deixa muito feliz. Todos sabem do meu amor pela camisa verde-amarela.
Sinceramente, quero muito ver o Brasil colhendo bons resultados no Pré-Olímpico e, depois, em Atenas. A vantagem da seleção é que ela jamais treme. São os outros que se desesperam quando vêem a amarelinha diante deles.
A força dessa amarelinha é incrível, caçoam de mim, mas é a pura verdade. Pesa. E pesa muito. Não na gente, mas no ombro dos outros, que se sentem assustados por terem que pegar o Brasil.
É por isso que confio num bom resultado não só no Chile, mas também em Atenas.
E, na Olimpíada, vou torcer pelos nossos canarinhos, mas não só pelo futebol. Quando há verde-amarelo na jogada, pode saber que o Zagallo está na parada. Nem que seja só como torcedor.
Até gostava mais de basquete do que de vôlei, mas hoje eu e o público brasileiro apreciamos mais o vôlei. A explicação é simples: é o vôlei que vem vencendo, e brasileiro curte uma vitória.
Como vitorioso gosta de vitorioso, posso revelar aqui que sou fã do trabalho do Bernardinho na seleção masculina de vôlei. Vou torcer muito por eles na Grécia.
Mas queria aproveitar para homenagear outras personalidades do esporte brasileiro que nos deram vitórias nos últimos tempos. O Popó é um deles. Quando ele luta, estou torcendo. Gosto de vê-lo ganhando, derrubando os rivais.
Também sou fã do Guga, no tênis. Dizem que ele está acabado, no fim, e que não volta a ser o número um do ranking, mas, por tudo o que fez pelo esporte brasileiro, merece uma reverência, uma centena de homenagens.
Também não posso me esquecer da ginástica, de Daniele Hypólito e Daiane dos Santos, essas baixinhas que tantas alegrias nos trouxeram. Vamos ver se na Olimpíada elas continuam melhorando e nos dão o esperado ouro -e, mesmo que não seja ouro, uma bela atuação, o que no caso delas já é uma grande vitória.
Finalmente, minha homenagem aos homens que fizeram a história do Brasil na F-1: Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna e Rubinho Barrichello.
Não gosto que critiquem o Rubinho. Ele dá toda a garra para defender o Brasil, e eu gosto de quem se esforça -e mais ainda de ver a bandeira flamulando no pódio. Quando ela é do Brasil, claro. Se se trata da bandeira de outro país, para mim não vale. Sou verde-amarelo de alma e coração e vou ser assim até o final.


Mario Jorge Lobo Zagallo, 72, é tetracampeão mundial de futebol (1958 e 1962, como jogador, 1970, como técnico, e 1994, como coordenador técnico) e é o atual coordenador técnico da seleção
Tostão volta a escrever neste espaço na próxima quarta-feira


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