São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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Inovação de maiôs pauta piscinas nesta temporada

Sob pressão de todos os lados, Fina abrirá discussão sobre trajes e deve dar veredicto no Mundial de Roma, em julho

Enquanto técnicos e atletas atacam da dificuldade de ter acesso até o abismo criado pelo custo, empresas pedem definição de pontos obscuros


MARIANA BASTOS
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A marca é assombrosa. No ano passado, ocorreram 108 quebras de recordes mundiais nas piscinas do planeta. Foi outro dado, porém, que realmente causou alvoroço e criou polêmica: a grande maioria dos recordistas vestia o mesmo maiô.
O novo traje "high-tech" tem nome: LZR Racer. Fabricado com ajuda da Nasa, o equipamento virou sensação. Mas, passadas a euforia pelas marcas e a corrida às lojas, os críticos da novidade já começam a agir.
Para muitos, os maiôs refletem a evolução do esporte. Para outros, jogam o foco da competição para as vestes dos atletas e tiram o mérito do treino.
Além disso, ao custo de cerca de US$ 500 cada um e durabilidade de poucas provas, os maiôs criaram um abismo nas piscinas que privilegia quem tem dinheiro ou desfruta patrocínio das grandes marcas.
A Associação de Técnicos dos EUA lançou manifesto pela revisão dos critérios de aprovação dos trajes. No país, a peça é vetada a menores de 13 anos. Técnicos europeus de 15 federações também enviaram carta à Fina, que dirige a natação mundial. No Reino Unido, há limitação do uso até os 18 anos.
"A ênfase tem de ser dada no trabalho duro. Estamos fazendo uma bagunça com o fundamento do esporte e dividindo o mundo entre os que têm e os que não têm [dinheiro]", diz à Folha John Leonard, diretor- -executivo da Associação de Técnicos de Natação dos EUA.
"Temos de ter controle para manter a credibilidade dos atletas", fala Grant Stoelwinder, técnico dos recordistas australianos Eamon Sullivan e Libby Trickett. A pressão de técnicos, atletas e dirigentes fez a Fina abrir debates. Neste mês, o comitê técnico se reúne. Em fevereiro, o encontro será com fabricantes. O resultado sai no congresso de julho, durante o Mundial de Roma.
Uma das propostas dos técnicos é diminuir a parte do corpo em contato com o traje. Hoje, é proibido preencher os espaços entre os dedos, cobrir mãos e pés e unir a touca à roupa.
Os materiais dos maiôs também aumentam a flutuabilidade e reduzem o atrito com a água, pontos obscuros da regra da Fina. Alguns fabricantes já confeccionam trajes com tecido semelhante ao das roupas de surfistas, o que seria proibido.
"A Fina deveria voltar a algo como o que tínhamos antes de 2000. Os homens poderiam usar só peças do joelho até a cintura, e mulheres, do ombro até o quadril", diz Leonard.
Tal mudança seria um baque para os fabricantes. A Speedo, por exemplo, já tem quase pronto o sucessor do LZR.
Após um ano à sombra da rival, a Arena contratou os campeões olímpicos César Cielo e Alain Bernard e já trabalha em nova peça. Mas pede regras claras. "Desde março, pedimos a suspensão de novos trajes até que a Fina esclareça partes obscuras das regras e estabeleça testes para que todos os atletas atuem no mesmo nível", diz o diretor de marketing global da Arena, Giuseppe Musciacchio. "Tecnologia nunca é ruim se controlada por regras claras."
Desde o início da quebra de recordes, em fevereiro, até a Olimpíada, nenhuma marca fez frente ao LZR, e os atletas saíram à caça. Comprar o maiô foi tarefa árdua. Muitos nadadores, entre eles brasileiros, ficaram horas em uma fila no Cubo d'Água para ter um exemplar.
A dificuldade de acesso aos trajes levou técnicos europeus a propor que sejam aprovados de nove meses a um ano antes de Mundiais e Olimpíadas, para que todos possam testá-los.
A discussão, porém, está longe do fim. Há resistência até entre os que não concordam com novos trajes. "Há técnicos que por anos puseram comida em casa com a ajuda dos cheques dados pelas fabricantes. Para eles, é um dilema", diz Leonard.


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