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Inovação de maiôs pauta piscinas nesta temporada
Sob pressão de todos os lados, Fina abrirá discussão sobre
trajes e deve dar veredicto no Mundial de Roma, em julho
Enquanto técnicos e atletas atacam da dificuldade de ter acesso até o abismo criado
pelo custo, empresas pedem
definição de pontos obscuros
MARIANA BASTOS
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A marca é assombrosa. No
ano passado, ocorreram 108
quebras de recordes mundiais
nas piscinas do planeta. Foi outro dado, porém, que realmente
causou alvoroço e criou polêmica: a grande maioria dos recordistas vestia o mesmo maiô.
O novo traje "high-tech" tem
nome: LZR Racer. Fabricado
com ajuda da Nasa, o equipamento virou sensação. Mas,
passadas a euforia pelas marcas
e a corrida às lojas, os críticos
da novidade já começam a agir.
Para muitos, os maiôs refletem a evolução do esporte. Para
outros, jogam o foco da competição para as vestes dos atletas e
tiram o mérito do treino.
Além disso, ao custo de cerca
de US$ 500 cada um e durabilidade de poucas provas, os
maiôs criaram um abismo nas
piscinas que privilegia quem
tem dinheiro ou desfruta patrocínio das grandes marcas.
A Associação de Técnicos dos
EUA lançou manifesto pela revisão dos critérios de aprovação dos trajes. No país, a peça é
vetada a menores de 13 anos.
Técnicos europeus de 15 federações também enviaram carta
à Fina, que dirige a natação
mundial. No Reino Unido, há limitação do uso até os 18 anos.
"A ênfase tem de ser dada no
trabalho duro. Estamos fazendo uma bagunça com o fundamento do esporte e dividindo o
mundo entre os que têm e os
que não têm [dinheiro]", diz à
Folha John Leonard, diretor-
-executivo da Associação de
Técnicos de Natação dos EUA.
"Temos de ter controle para
manter a credibilidade dos
atletas", fala Grant Stoelwinder, técnico dos recordistas
australianos Eamon Sullivan e
Libby Trickett. A pressão de
técnicos, atletas e dirigentes fez
a Fina abrir debates. Neste
mês, o comitê técnico se reúne.
Em fevereiro, o encontro será
com fabricantes. O resultado
sai no congresso de julho, durante o Mundial de Roma.
Uma das propostas dos técnicos é diminuir a parte do corpo
em contato com o traje. Hoje, é
proibido preencher os espaços
entre os dedos, cobrir mãos e
pés e unir a touca à roupa.
Os materiais dos maiôs também aumentam a flutuabilidade e reduzem o atrito com a
água, pontos obscuros da regra
da Fina. Alguns fabricantes já
confeccionam trajes com tecido semelhante ao das roupas de
surfistas, o que seria proibido.
"A Fina deveria voltar a algo
como o que tínhamos antes de
2000. Os homens poderiam
usar só peças do joelho até a
cintura, e mulheres, do ombro
até o quadril", diz Leonard.
Tal mudança seria um baque
para os fabricantes. A Speedo,
por exemplo, já tem quase
pronto o sucessor do LZR.
Após um ano à sombra da rival, a Arena contratou os campeões olímpicos César Cielo e
Alain Bernard e já trabalha em
nova peça. Mas pede regras claras. "Desde março, pedimos a
suspensão de novos trajes até
que a Fina esclareça partes obscuras das regras e estabeleça
testes para que todos os atletas
atuem no mesmo nível", diz o
diretor de marketing global da
Arena, Giuseppe Musciacchio.
"Tecnologia nunca é ruim se
controlada por regras claras."
Desde o início da quebra de
recordes, em fevereiro, até a
Olimpíada, nenhuma marca fez
frente ao LZR, e os atletas saíram à caça. Comprar o maiô foi
tarefa árdua. Muitos nadadores, entre eles brasileiros, ficaram horas em uma fila no Cubo
d'Água para ter um exemplar.
A dificuldade de acesso aos
trajes levou técnicos europeus
a propor que sejam aprovados
de nove meses a um ano antes
de Mundiais e Olimpíadas, para
que todos possam testá-los.
A discussão, porém, está longe do fim. Há resistência até entre os que não concordam com
novos trajes. "Há técnicos que
por anos puseram comida em
casa com a ajuda dos cheques
dados pelas fabricantes. Para
eles, é um dilema", diz Leonard.
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