São Paulo, terça, 4 de março de 1997.

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Uma pesquisa histórica para o futebol

MATINAS SUZUKI JR.
do Conselho Editorial

Meus amigos, meus inimigos, da maior importância para o futebol brasileiro a pesquisa do Datafolha publicada por este jornal no último domingo.
Em primeiro lugar, como ressaltou Melchiades Filho na apresentação da pesquisa, os paulistanos passaram a preferir os torneios nacionais.
Logo os paulistanos que, em tese, teriam o privilégio de assistir ao torneio regional mais atrativo da Federação.
Se até o paulistano prefere os torneios nacionais, em tese, a aprovação deveria ser muito maior nos outros Estados.
A pesquisa, nesse aspecto, comprovara o que a intuição vem recomendando. Os títulos regionais encolheram na satisfação do torcedor.
Um garoto que viu o Flamengo, o São Paulo ou o Grêmio disputando a Copa Toyota, no Japão, sabe que esse troféu é muito mais importante do que um torneio estadual. Foi-se o tempo em que a rivalidade regional no futebol era a mais importante das causas.
A televisão e a globalização do futebol sepultaram essa era. Tudo bem que haja nostalgia daqueles tempos românticos. Mas só nostalgia, por favor.
Em segundo lugar, a pesquisa impressionou-me pela baixa quantidade de pessoas que são contra a transformação dos clubes em empresas.
Eu desconfiava que a tendência era de aceitação do clube-empresa, mas que ainda levaria alguns anos para essa tendência se tornar em opinião da maioria.
Também considerava que a forte paixão pelos clubes no Brasil poderia gerar uma rejeição ao clube-empresa.
O resultado foi, no mínimo, acachapante. Uma sonora goleada favorável à transformação empresarial dos clubes.
Alguns estão vendo na fórmula mata-mata o sucesso da Copa do Brasil na pesquisa.
Tenho as minhas dúvidas.
A Copa do Brasil, de fato, é um torneio que vem se consolidando nos últimos anos.
Mas devemos levar em consideração que o campo da pesquisa foi realizado no lançamento da Copa do Brasil e quando o Campeonato Brasileiro não era disputado.
Atribuir ao mata-mata é um pouco de precipitação.
Minha tese é a seguinte: com a bagunça de calendários e com um Brasileiro espremido no segundo semestre, não dá para saber com clareza se o consumidor brasileiro de futebol não aceita mais a fórmula dos pontos corridos.
Nós não temos mais parâmetros, não temos mais referenciais para dar um juízo definitivo sobre a questão.
É claro que, em termos ideais, o futebol sai valorizado no sistema de pontos corridos. O pontos corridos nivela por cima, o mata-mata, por baixo.
Os patrocinadores ficarão mais seguros para investir em grande escala no sistema de pontos corridos, pois nele a qualidade tende a se impor.
No mata-mata, o imponderável conta mais: uma ``guerra'' em um estádio, um erro de um juiz, a falha de um goleiro podem destruir um grande trabalho de dois, três anos.
No tempo da inflação, dizia-se que o brasileiro gostava da inflação. Não havia o paradigma da vida sem inflação.
Dá-se o mesmo com o pontos corridos. Perdemos até a noção da sua importância e, portanto, não podemos julgá-lo.


Matinas Suzuki Jr. escreve às terças, quintas e sábados

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