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Pivô de THG revela programa de doping
Dwain Chambers, ex-recordista europeu dos 100 m, admite gasto de US$ 30 mil para usar mais de 300 drogas em 1 ano
Inglês narra, em livro, que teve ajuda de especialistas para cumprir cronograma dopante que lhe permitiu reduzir sua marca em 0s10
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em apenas um ano foram
usadas mais de 300 tipos de
drogas ao custo estimado de
US$ 30 mil (R$ 72 mil).
Não, essa não foi a rotina de
algum paciente em estágio terminal. Foi o programa seguido
pelo britânico Dwain Chambers, 30, para melhorar em
0s10 seu tempo nos 100 m.
"Quando estava limpo, minha melhor marca era 9s97.
Um ano depois, após noites em
claro, ansiedade, dores por causa das agulhas [das injeções que
tomava] e análises de sangue
para assegurar que não sofreria
uma trombose, minha marca
era de 9s87", descreve o atleta.
Com essa marca, Chambers
igualou o recorde europeu dos
100 m -seu tempo foi anulado
após ser punido por doping.
As revelações foram publicadas pelo diário britânico "Daily
Mail" e fazem parte da autobiografia do velocista, intitulada
"Minha Corrida Contra Mim".
"No dia do Natal [em 2002],
sentei no banheiro para tomar
"clear" [apelido do esteroide
anabólico THG] e percebi que
tinha usado mais de 300 tipos
diferentes de drogas nos últimos 12 meses", diz o corredor.
Chambers admitiu tomar
uma verdadeira sopa de letrinhas dopantes: THG, hGH e
EPO. As duas primeiras possuem efeito anabolizante sobre
a musculatura, aumentando
força e potência, qualidades essenciais em provas que exijam
explosão, como os 100 m. Já a
última estimula a produção de
glóbulos vermelhos, melhorando a oxigenação no sangue. Serve para diminuir o tempo de recuperação do atleta depois de
treinamentos rigorosos.
"Não ficava só no THG, EPO
e hGH, mas tomava testosterona para ajudar a dormir e a reduzir o colesterol. Injetava três
unidades de insulina na parte
inferior do estômago após um
treino pesado de musculação."
Tantas drogas seguramente
confundiram a cabeça de
Chambers. "A testosterona não
diminui o colesterol, ajuda a
aumentá-lo. E não serve para
dormir, tem efeito estimulante", explica Rafael Trindade,
coordenador médico da Agência Nacional Antidoping.
Para sobreviver ao programa
de doping, Chambers teve assistência médica. "O antidoping não pegava nada porque
minha evolução e desenvolvimento físico eram controlados
por especialistas", diz ele, que
passou ileso por dez controles.
Para Trindade, o acompanhamento médico rigoroso foi
necessário para Chambers sobreviver ao programa. "Ele deveria tomar umas 12 drogas para evitar os efeitos colaterais."
Entre os problemas a que
Chambers estaria sujeito estão
aumento do coração e do colesterol, arteriosclerose, ginecomastia (aumento das mamas),
gastrite, náusea e vômitos.
Os gastos com o programa
também tinham intuito financeiro. "Minha maior motivação
era o medo de que podia ficar
para trás. Tinha um contrato
com a Adidas, que me reduziria
os ganhos se não estivesse entre os três melhores do mundo.
Isso me convenceu a seguir
adiante com as drogas", conta.
Seu castelo de areia começou
a ruir em 2003, quando o velocista se tornou o primeiro atleta flagrado para THG, droga
criada só para burlar exames.
Chambers passou a utilizá-la
em 2002, depois de conhecer o
norte-americano Victor Conte,
proprietário do laboratório
Balco, de Burlingame (Califórnia), que fabricava a substância.
"Confiava nele. Era meu farmacologista e me apeguei a cada palavra sua. Sei que soa estranho, mas ainda converso
com Victor. É uma pessoa agradável, como um pai", relata.
Com agências internacionais
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