São Paulo, quarta-feira, 04 de março de 2009

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Pivô de THG revela programa de doping

Dwain Chambers, ex-recordista europeu dos 100 m, admite gasto de US$ 30 mil para usar mais de 300 drogas em 1 ano

Inglês narra, em livro, que teve ajuda de especialistas para cumprir cronograma dopante que lhe permitiu reduzir sua marca em 0s10

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em apenas um ano foram usadas mais de 300 tipos de drogas ao custo estimado de US$ 30 mil (R$ 72 mil).
Não, essa não foi a rotina de algum paciente em estágio terminal. Foi o programa seguido pelo britânico Dwain Chambers, 30, para melhorar em 0s10 seu tempo nos 100 m.
"Quando estava limpo, minha melhor marca era 9s97. Um ano depois, após noites em claro, ansiedade, dores por causa das agulhas [das injeções que tomava] e análises de sangue para assegurar que não sofreria uma trombose, minha marca era de 9s87", descreve o atleta.
Com essa marca, Chambers igualou o recorde europeu dos 100 m -seu tempo foi anulado após ser punido por doping.
As revelações foram publicadas pelo diário britânico "Daily Mail" e fazem parte da autobiografia do velocista, intitulada "Minha Corrida Contra Mim".
"No dia do Natal [em 2002], sentei no banheiro para tomar "clear" [apelido do esteroide anabólico THG] e percebi que tinha usado mais de 300 tipos diferentes de drogas nos últimos 12 meses", diz o corredor.
Chambers admitiu tomar uma verdadeira sopa de letrinhas dopantes: THG, hGH e EPO. As duas primeiras possuem efeito anabolizante sobre a musculatura, aumentando força e potência, qualidades essenciais em provas que exijam explosão, como os 100 m. Já a última estimula a produção de glóbulos vermelhos, melhorando a oxigenação no sangue. Serve para diminuir o tempo de recuperação do atleta depois de treinamentos rigorosos.
"Não ficava só no THG, EPO e hGH, mas tomava testosterona para ajudar a dormir e a reduzir o colesterol. Injetava três unidades de insulina na parte inferior do estômago após um treino pesado de musculação."
Tantas drogas seguramente confundiram a cabeça de Chambers. "A testosterona não diminui o colesterol, ajuda a aumentá-lo. E não serve para dormir, tem efeito estimulante", explica Rafael Trindade, coordenador médico da Agência Nacional Antidoping.
Para sobreviver ao programa de doping, Chambers teve assistência médica. "O antidoping não pegava nada porque minha evolução e desenvolvimento físico eram controlados por especialistas", diz ele, que passou ileso por dez controles.
Para Trindade, o acompanhamento médico rigoroso foi necessário para Chambers sobreviver ao programa. "Ele deveria tomar umas 12 drogas para evitar os efeitos colaterais."
Entre os problemas a que Chambers estaria sujeito estão aumento do coração e do colesterol, arteriosclerose, ginecomastia (aumento das mamas), gastrite, náusea e vômitos.
Os gastos com o programa também tinham intuito financeiro. "Minha maior motivação era o medo de que podia ficar para trás. Tinha um contrato com a Adidas, que me reduziria os ganhos se não estivesse entre os três melhores do mundo. Isso me convenceu a seguir adiante com as drogas", conta.
Seu castelo de areia começou a ruir em 2003, quando o velocista se tornou o primeiro atleta flagrado para THG, droga criada só para burlar exames.
Chambers passou a utilizá-la em 2002, depois de conhecer o norte-americano Victor Conte, proprietário do laboratório Balco, de Burlingame (Califórnia), que fabricava a substância.
"Confiava nele. Era meu farmacologista e me apeguei a cada palavra sua. Sei que soa estranho, mas ainda converso com Victor. É uma pessoa agradável, como um pai", relata.


Com agências internacionais

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