São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2010

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JUCA KFOURI

Era Júlio Baptista


Ganhe ou perca na África, esta seleção brasileira tem tudo para que se cometa a mesma injustiça de 1990


JÚLIO BAPTISTA pode até nem participar de nenhum jogo da Copa do Mundo.
Mas será sempre o símbolo de um time cujo técnico optou por ele em detrimento do talento de Ronaldinho Gaúcho. Já há quem diga que Dunga preferiu um botinudo, coisa que Júlio Baptista jamais foi.
Pode-se cometer em relação a ele a injustiça de que Dunga foi vítima na Copa da Itália, porque também Dunga não era um botinudo, como provou fartamente depois.
Mas rótulos são rótulos, e o que pespegaram no gaúcho dói tanto até hoje que está na raiz de sua beligerância permanente com a imprensa, qualquer imprensa.
Como já disse, Dunga tem a coerência dos toscos, teimosia ou burrice mesmo para muitos, mas, de fato, convicção que o faz morrer junto com os seus ou ir com eles ao paraíso, aposta, aliás, que este colunista faz desde já.
O que se viu em Londres anteontem é que se verá em junho e, tomara, em julho, na África do Sul. Muita marcação, muita competição, contra-ataques sempre que possível, um brilho aqui e outro ali, desde que com moderação. E vitórias.
Vitórias em cima de vitórias (37 em 53 jogos), com gols em quantidade razoável, mais de dois em média por jogo (110), menos de um gol sofrido por partida (37), apenas cinco derrotas, uma delas na Copa América, que venceu, nenhuma na Copa das Confederações, que também venceu, a exemplo do que fez contra a Argentina, em Rosário, nas eliminatórias, que liderou.
Mas Júlio Baptista será o estigmatizado da Copa de 2010.
Porque cada vez que aparecer, seja num jogo esporádico, seja nos treinos, seja no saguão do hotel, lá estará a fera que usurpou o lugar da bela menina dos olhos de todos que, entre a abnegação eficaz e a beleza eficaz, preferem a arte.
Pois Dunga prefere os que comem a grama e não os que nela desfilam, porque jamais desfilou.
E, para piorar, até andou sendo entortado por quem desfila -note que está escrito entortado, não humilhado, como ele se sentiu naquele Gre-Nal em que RG deu-lhe um drible de letra pela direita e um chapéu pela esquerda.
O mesmo RG que o presidente da CBF enfiou-lhe goela abaixo nos Jogos Olímpicos de Pequim. Ah, sim, ora bolas! Venha enfiar agora, quero ver. Sim, Dunga é o capitão que xingou a taça do mundo que sucedeu aquela que Bellini ergueu e Carlos Alberto beijou, como observou o jornalista Marcelo Barreto. E que xingará nós todos quando, e se, é claro, ganhar o hexacampeonato como técnico.
Até lá, porém, terá de aconselhar Júlio Baptista, a Fera, não o patinho feio, até porque, cá entre nós, numa passarela o atlético defensor da Roma chama muito mais atenção do que o dentuço jogador do Milan.
Que apenas seria muito mais adequado para uma eventual substituição de Kaká...
Em tempo: gosto do futebol de Júlio Baptista e o levaria para a Copa, ainda mais com a folha de bons serviços dele à seleção. Tiraria Josué, porque Ramires faz a função muito melhor, e chamaria RG. Ou, então, PHG. Ou ambos. Mas essa é uma outra história, para uma outra vez.

blogdojuca@uol.com.br



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