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OS PIONEIROS
Copa de 78 também foi capa de revista
DA REPORTAGEM LOCAL
Na década de 70, participar da
Copa do Mundo de ginástica artística, que reunia os 16 melhores
atletas do planeta, era algo impensável para os brasileiros.
Contudo, em 78, quando Siegfried Fischer, então presidente da
Confederação Brasileira de Ginástica, trouxe o evento para o
país, quatro atletas tiveram a
chance de competir em casa,
após uma ação de bastidores. E
mais: mudaram de vida.
Como agora na etapa do Rio,
Lillian Carrascoza, Maria Cristina Coutinho, João Levy e Gilmárcio Sanches atuaram durante três dias, no mês de dezembro,
e entraram para a história como
os primeiros ginastas do país a
participarem do evento, que, em
sua terceira edição, reuniu na cidade de São Paulo 35 ginastas (19
homens e 16 mulheres).
Amadores, sem patrocínio ou
salário, os quatro tiveram suas
despesas pagas e competiram no
ginásio do Ibirapuera em aparelhos novos, importados para a
Copa do Mundo e cujo pagamento se arrastou até os anos 80.
"Foi tudo de bom. Passamos a
ser reconhecidos e a receber convites para todos os torneios. A
Copa abriu as portas para a gente", afirma Lilian, que na época,
ainda estudante, tinha 15 anos.
Ela obteve o melhor resultado
entre os brasileiros, um oitavo
lugar na trave, e virou estrela.
"Fui parar nas capas de revistas e
nunca dei tantos autógrafos."
Assim como Lillian, 11ª colocada no individual geral, Maria
Cristina, 15ª, também recebeu
assédio da imprensa e de fãs. E
mais: de tietes tentando chegar
até os atletas estrangeiros.
"Um ônibus nos levava do ginásio até o hotel. As mulheres faziam um alvoroço. Lembro que
eu me sentava do lado do Kurt
Thomas [estrela da ginástica dos
EUA], e elas me enchiam de recados para ele, que era bonitinho e
meio metidinho. Fiquei assustada quando tentaram agarrá-lo e
rasgaram a camisa dele."
Longe do pódio, os atletas
aproveitaram para fazer contatos, como João Levy, 18º colocada, que conseguiu uma bolsa de
estudos nos EUA. "Havia uma
festa de confraternização. Eu
morava em São Paulo e podia ir
para casa, mas decidi ficar lá. Vi
dois americanos [Kurt Thomas e
Bart Conner, que hoje é casado
com Nadia Comaneci] no canto
e arrisquei uma conversa."
"O Kurt perguntou qual era o
meu sonho. Eu disse que era poder cursar uma faculdade e seguir na ginástica. Ele falou com o
técnico dele e anotou os meus
dados", diz Levy, que foi levado à
Universidade de Indiana.
Se Levy parou nos EUA, Lillian
e Maria Cristina também passaram pela América do Norte.
"Após a Copa, recebi convite e
fui competir no Madison Square
Garden [em Nova York]. Foi um
sonho", afirma. Lilian participou
até de evento no Canadá.
O sucesso da Copa também fez
com que eles sofressem frustrações, como a de não disputarem
os Jogos de Moscou-80.
"Havia o boicote, e fomos convidados, eu e a Lillian, mas aí a
confederação quis mandar a seleção toda, e o COB vetou, por
ser muito caro", afirma Levy, que
hoje trabalha ao lado da mulher,
Cláudia Oliveira, ensinando ginástica para crianças de dois a
cinco anos, além de treinar um
time de ginastas na Flórida.
Lillian, apesar de não competir, chegou à Olimpíada, não a de
Moscou, mas a de Los Angeles,
em 84, como técnica de Tatiana
Figueiredo. Depois, seguiu nos
EUA como treinadora até 2003,
quando fez um curso de web designer e foi trabalhar em um banco. "Vez ou outra dou aula particular ou substituo uma técnica. E
sempre fico sonhando em ver
um pódio olímpico do Brasil."
Já Maria Cristina não teve a
mesma sorte. Em abril de 1979,
em uma série no solo, rompeu os
ligamentos do joelho na Alemanha e viu começar ali o fim de
sua carreira. "Foi triste, não recebi amparo nenhum", diz a ex-atleta, que deixou o esporte ressentida. "Ainda me esforcei, fui
ao Mundial-79 como reserva,
mas, depois, acabou tudo."
Apesar disso, foi ela quem mais
chegou perto da atual estrela da
ginástica. "Visitei o Riocentro na
quinta. Os aparelhos são diferentes. Há até sala para aquecimento. Fomos pioneiros em viagens,
encaramos situações difíceis em
albergues. Mas, na época, era tudo mais infantil, inocente. Eu gaguejava nas entrevistas. Vi a
Daiane dos Santos falar como
um adulto. As atletas são mais
independentes. Estou surpresa."
Na visita, Maria Cristina, que
atua na área de comunicação,
ensaiou uma coreografia no solo,
mas sentiu o joelho. "Voltei à
realidade", diz. A Folha tentou
contato com Sanches, mas não
conseguiu localizá-lo.
(CCP)
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