São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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FUTEBOL

Só poderia ser 0 a 0

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Brasil e Paraguai jogaram 90 minutos e não criaram uma única ótima chance de gol. Houve muita marcação e pouco futebol. Na maior parte do jogo, enquanto o Brasil tinha sete defensores (dois zagueiros, dois laterais e três volantes) para marcarem dois atacantes, no Paraguai eram oito (duas linhas de quatro) contra três. Em cada defesa, sobravam cinco defensores, já que os armadores das duas equipes só pensavam em defender. Assim, nem os craques jogam bem. Só poderia terminar em 0 a 0.
As duas linhas de quatro muito recuadas do Paraguai dificultaram para o Ronaldo receber a bola e para o Kaká e o Ronaldinho Gaúcho armarem as jogadas nas costas dos volantes. Com mais um marcador de cada lado, o Paraguai anulou também o Roberto Carlos e, principalmente, o Cafu.
Em compensação, os dois atacantes do Paraguai ficaram totalmente isolados, o que facilitou a atuação dos zagueiros brasileiros. Os dois estavam muito bem nas bolas altas. O Paraguai também não cruzou da linha de fundo.
O Brasil teve excessivos cuidados defensivos. Renato e Zé Roberto não deixaram os laterais do Paraguai livres para cruzarem, principalmente o Arce, mas não chegaram à frente. Zé Roberto, que é muito bom quando atua pela ponta esquerda, não fez isso uma única vez. Isolados, os três da frente insistiram demais nas jogadas pelo meio.
A mudança tática para os próximos jogos, anunciada pelo Parreira e publicada pelo "Jornal do Brasil", com Kaká mais fixo como jogador de ligação entre o meio e o ataque, e o Ronaldinho Gaúcho na frente, não muda em nada, já que o Ronaldinho vai recuar para receber a bola como já faz. Continuarão dois meias ofensivos e um centroavante ou três atacantes. É a mesma coisa na prática.
Mudaria o esquema tático se o time jogasse com dois volantes, Kaká mais pela direita, Ronaldinho pelo meio (os dois se alternariam), Zé Roberto de meia esquerda (e não de volante) e o Ronaldo na frente. O Brasil, como todas as equipes dirigidas pelo Parreira, não tomou uma única bola na intermediária do Paraguai. Essa é uma poderosa arma ofensiva contra defesas fechadas.
O técnico acha um grande risco avançar a marcação, mesmo em poucos momentos. Por outro lado, a equipe dificulta o contra-ataque. Isso é também virtude. A verdade tem sempre duas faces.
Parreira disse que não fará experiências e, se for necessário, promoverá mudanças, com o jogador entrando para ficar. Ele tem razão. Não há motivos para se fazer muitas alterações e é preciso ter continuidade para melhorar o conjunto. Mas já está na hora de mudar alguma coisa.

"Loucos" no túnel
A Argentina, desfalcada de quatro dos seus principais e mais experientes jogadores (Samuel, Zanetti, Veron e Killy Gonzalez), teve dificuldades, em casa, para vencer a dura, e às vezes violenta, marcação do Equador. O Brasil, com todos os titulares teve o mesmo problema contra este rival.
A Argentina tem excelentes jogadores, mas não tem um craque como os dois Ronaldinhos. O time está em formação e precisa de muito mais tempo para treinar do que o Brasil. Vários atletas que atuaram contra o Equador estiveram no Pré-Olímpico.
O técnico Bielsa gosta de inovar. Nesse jogo, a equipe atuou, pela primeira vez, com uma linha de quatro atrás, apenas um volante (Luiz Gonzalez), que se destaca pelo passe, e não pela marcação, dois meias ofensivos (Aimar e D"Alessandro), três atacantes e mais o apoio constante dos laterais. É um esquema bastante ofensivo.
Não será surpresa se o "El Loco", como é chamado o Bielsa, manter a formação contra o Brasil. Será uma "loucura" ou é a melhor maneira de ganhar o jogo?
Mas "louco" mesmo é o Carrasco, técnico do Uruguai. Ele está revolucionando o futebol do seu país ou vai levar a seleção para o buraco? A segunda hipótese é a mais provável. O time só pensa em atacar e não pára de levar gols no contra-ataque. É muito melhor ter um técnico prudente, racional e conservador, como o Parreira, do que um "louco".

Um bom negócio
Agora está claro. Pelé disse que as pessoas no Brasil não entenderam, que era uma lista festiva e não dos melhores e que a Fifa queria fazer um álbum para vender pelo mundo. O garoto-propaganda Pelé e a Fifa fizeram um bom negócio. Nada mais do que isso. E pensávamos que era uma lista séria, importante, oficial, para ficar na história.


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