São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2008

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pilatos

Na China, COI diz tratar de só esporte, não de política

Dirigente ignora violação aos direitos humanos no país e diz que tema vai "evaporar"

Nuzman, presidente do COB, também diz que o esporte não deve se misturar com política e ataca idéia de boicote

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A Comissão Coordenadora do Comitê Olímpico Internacional (COI) ignorou ontem as críticas à China sobre desrespeito aos direitos humanos às vésperas da Olimpíada.
Em entrevista coletiva ao final de reunião em Pequim, o presidente da comissão, o holandês Hein Verbruggen, afirmou que "nos cabe falar de esporte, não de política".
Ontem, um dos maiores ativistas dos direitos humanos na China foi condenado a três anos e meio de prisão por dar entrevistas e escrever artigos sobre violações no país. Há quinze dias, 600 tibetanos foram presos após protestos públicos e distúrbios.
"Não queremos nos envolver em questões políticas internas", disse Verbruggen, que garantiu que a internet estará desbloqueada durante a realização dos Jogos. O acesso a sites como YouTube, Wikipedia, Flickr e Blogspot normalmente são fechados no país.
"Adolescentes usam a internet, por isso achamos que devemos controlar. Após o 11 de setembro, outros países controlaram a rede, algo que entendemos e apoiamos", disse o secretário-geral do Comitê Olímpico de Pequim, Wang Wei.
As indiretas a outros países para justificar a falta de liberdade na China dominaram a entrevista. Ao ser questionado se haveria atraso nas supostas transmissões ao vivo, para que a censura chinesa possa bloquear imagem de algum protesto, Verbruggen disse que isso também acontece nos EUA. "Na transmissão do Super Bowl, há um delay de alguns segundos só para nos impedir de ver garotas bonitas", ironizou. Era uma referência à polêmica com a cantora Janet Jackson, que ficou com o seio descoberto durante show na final do futebol americano em 2004, o que fez tevês americanas passarem a emitir o sinal com atraso para evitar surpresas.
Verbruggen refutou quem acusa o COI de levar a Olimpíada a Pequim como uma decisão "comercial, de negócios". Ao criticar governos que ameaçam boicotar a cerimônia de abertura dos Jogos, Verbruggen disse que "políticos assinam contratos econômicos milionários na China e depois ameaçam boicotar". Na semana passada, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que não descartava um eventual boicote. Ele esteve na China no final de 2007.
O holandês disse que sempre haverá descontentes com a escolha das cidades. "Veja as candidatas de 2016. Vamos preterir Madri por causa das demandas do País Basco? Vamos exigir que Chicago explique o que acontece no Iraque e em Guantánamo?", perguntou.
Verbruggen falou que a cobrança quanto aos direitos humanos "evaporaria" como outras críticas aos Jogos, como a poluição em Pequim.

Brasil concorda
Em entrevista à Folha, o presidente do COB, Carlos Alberto Nuzman, disse seguir a linha do COI, "nós tratamos de esportes, não de política". Ele afirmou que não recebeu nenhuma consulta ou crítica no Brasil quanto à situação dos direitos humanos na China e que não cabe falar em boicote, "pois ele só prejudica os atletas".
Para ele, a Olimpíada de Pequim "será a mais extraordinária da história, a cidade está pronta". Nuzman afirmou que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o prefeito do Rio, Cesar Maia, e o Ministro dos Esportes, Orlando Silva, irão aos Jogos. "Falta saber se Lula viajará a China", disse.


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