|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
pilatos
Na China, COI diz tratar de só esporte, não de política
Dirigente ignora violação aos direitos humanos no país e diz que tema vai "evaporar"
Nuzman, presidente do COB, também diz que o esporte não deve se
misturar com política e ataca idéia de boicote
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A Comissão Coordenadora
do Comitê Olímpico Internacional (COI) ignorou ontem as
críticas à China sobre desrespeito aos direitos humanos às
vésperas da Olimpíada.
Em entrevista coletiva ao final de reunião em Pequim, o
presidente da comissão, o holandês Hein Verbruggen, afirmou que "nos cabe falar de esporte, não de política".
Ontem, um dos maiores ativistas dos direitos humanos na
China foi condenado a três
anos e meio de prisão por dar
entrevistas e escrever artigos
sobre violações no país. Há
quinze dias, 600 tibetanos foram presos após protestos públicos e distúrbios.
"Não queremos nos envolver
em questões políticas internas", disse Verbruggen, que garantiu que a internet estará
desbloqueada durante a realização dos Jogos. O acesso a sites como YouTube, Wikipedia,
Flickr e Blogspot normalmente
são fechados no país.
"Adolescentes usam a internet, por isso achamos que devemos controlar. Após o 11 de setembro, outros países controlaram a rede, algo que entendemos e apoiamos", disse o secretário-geral do Comitê Olímpico
de Pequim, Wang Wei.
As indiretas a outros países
para justificar a falta de liberdade na China dominaram a
entrevista. Ao ser questionado
se haveria atraso nas supostas
transmissões ao vivo, para que
a censura chinesa possa bloquear imagem de algum protesto, Verbruggen disse que isso também acontece nos EUA.
"Na transmissão do Super
Bowl, há um delay de alguns segundos só para nos impedir de
ver garotas bonitas", ironizou.
Era uma referência à polêmica
com a cantora Janet Jackson,
que ficou com o seio descoberto durante show na final do futebol americano em 2004, o
que fez tevês americanas passarem a emitir o sinal com atraso
para evitar surpresas.
Verbruggen refutou quem
acusa o COI de levar a Olimpíada a Pequim como uma decisão
"comercial, de negócios". Ao
criticar governos que ameaçam
boicotar a cerimônia de abertura dos Jogos, Verbruggen disse
que "políticos assinam contratos econômicos milionários na
China e depois ameaçam boicotar". Na semana passada, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que não descartava
um eventual boicote. Ele esteve
na China no final de 2007.
O holandês disse que sempre
haverá descontentes com a escolha das cidades. "Veja as candidatas de 2016. Vamos preterir Madri por causa das demandas do País Basco? Vamos exigir que Chicago explique o que
acontece no Iraque e em Guantánamo?", perguntou.
Verbruggen falou que a cobrança quanto aos direitos humanos "evaporaria" como outras críticas aos Jogos, como a
poluição em Pequim.
Brasil concorda
Em entrevista à Folha, o presidente do COB, Carlos Alberto
Nuzman, disse seguir a linha
do COI, "nós tratamos de esportes, não de política". Ele
afirmou que não recebeu nenhuma consulta ou crítica no
Brasil quanto à situação dos direitos humanos na China e que
não cabe falar em boicote, "pois
ele só prejudica os atletas".
Para ele, a Olimpíada de Pequim "será a mais extraordinária da história, a cidade está
pronta". Nuzman afirmou que
o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o prefeito do
Rio, Cesar Maia, e o Ministro
dos Esportes, Orlando Silva,
irão aos Jogos. "Falta saber se
Lula viajará a China", disse.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Na Turquia, tocha é alvo de protestos muçulmanos Índice
|