São Paulo, domingo, 04 de abril de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

As raposas e as galinhas


Ricardo Teixeira, que aponta problemas do Morumbi sem oferecer alternativa, apoia sócio de CBF e Globo no C13


A PERGUNTA a que Ricardo Teixeira ainda não respondeu, a cada vez que aponta problemas do Morumbi, é: qual sua alternativa? Há dois meses, Brasília era candidata a sede da abertura da Copa de 2014. Com o governador José Roberto Arruda na cadeia, essa alternativa deixou de existir e já se cogitou, no DF, reduzir o novo estádio para 40 mil lugares. Impossível abrir o Mundial.
Ricardo Teixeira também poderia sugerir que o Rio faça tanto a abertura quanto a decisão, mas, nesse caso, deve explicar como resolverá o problema do número de leitos em hotéis. Se São Paulo não cumpre exigências da Fifa quanto ao estádio, o Rio não responde no quesito hotelaria. Não para a abertura.
A terceira alternativa é convencer o governador de São Paulo, Alberto Goldman, a investir na construção de um novo estádio paulista. José Serra deixou o governo na quarta- -feira cumprindo a promessa de não gastar um centavo de dinheiro público no novo palco. Goldman deve seguir a mesma cartilha.
Ricardo Teixeira já assinou algumas vezes seu próprio atestado de incompetência ao admitir que o Brasil não tem nenhum estádio digno para a Copa do Mundo, após 21 anos de sua gestão na CBF. Não vai agora passar mais alguns anos falando sobre o que não serve, sem apresentar a solução, vai?
Teixeira não teve esse papel omisso quando rompeu com a FBA, que organizava a Série B, no ano passado. Chamou para si a responsabilidade e pressionou os clubes da Segundona a assinar um contrato que pagava apenas R$ 30 milhões.
Para se ter uma ideia da mixaria, o Palmeiras jogou para 7.000 torcedores semana passada e arrecadou R$ 150 mil com bilheteria. Os R$ 30 milhões oferecidos pela CBF representam R$ 50 mil por mês. Pois a CBF teve a cara de pau de exigir que o Clube dos 13, com quatro filiados na Série B, assinasse esse contrato. Fábio Koff não aceitou e rachou com a CBF, que agora apoia Kléber Leite na guerra pela presidência do C13.
O pecado de Fábio Koff é o continuísmo. Mas é impossível esquecer que o contrato de TV pagava R$ 10 milhões em 1995 e hoje representa R$ 500 milhões. E que esse contrato prevê um salto para R$ 600 milhões em 2011 e, se renovado pelo mesmo índice da última negociação (60%), chega a R$ 980 milhões em 2012.
A alternativa a Fábio Koff é Kléber Leite, dono da agência de marketing esportivo Klefer, que detém os direitos de comercialização dos amistosos da seleção brasileira até a Copa de 2014 e é, portanto, sócia da CBF.
Tem também parceria com a Globo.
Diferentemente de Ricardo Teixeira, Kléber Leite já respondeu à pergunta que não quer calar. Diz que a Klefer é administrada por seus filhos e que não há conflito de interesse. Acreditemos nisso, em saci-pererê, boitatá e mula sem cabeça.
Em outras palavras, dar a Kléber Leite o direito de negociar o contrato de televisão em nome dos clubes é como colocar o contrato de TV numa bandeja e levá-la à mesa do presidente da CBF. Caro presidente, usando suas palavras sobre o Morumbi, é preciso deixar claro que não há nada contra o presidente da CBF. Mas o que pertence aos clubes deve ser administrado por eles. A raposa não deve cuidar do galinheiro.

pvc@uol.com.br


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