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Pelé abandona a carreira de empresário de futebol
Ex-jogador fecha agência e põe fim
a empreitada que rendeu milhões,
escândalos e coleção de inimigos
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
Pelé desistiu de ser empresário
de futebol após 13 anos marcados
por escândalos e grandes negócios no milionário mundo do
marketing esportivo.
A Pelé Pro, agência criada em
2001 com o fim da parceria de 18
anos com o empresário carioca
Hélio Viana, foi desativada. Será
oficialmente extinta assim que
seu principal sócio, Pelé, pagar
cerca de R$ 1,5 milhão em dívidas
com bancos e outros credores.
Durante as quase três décadas
em que, direta ou indiretamente,
teve atuação como empresário de
futebol, o Atleta do Século acumulou inimigos.
O principal deles foi Ricardo
Teixeira, presidente da CBF. Ao
acusar a entidade de corrupção na
venda dos direitos das competições nacionais, Pelé virou persona
non grata na Fifa até o fim da era
João Havelange, em 1998.
Sua atuação como empresário
também gerou questionamentos
éticos durante o período em que
foi ministro extraordinário dos
Esportes (1995-1998), na gestão
do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A partir de agora, o ex-jogador
vai focar suas ações apenas na exploração de seu nome. A diferença é que não será ele, sozinho, que
desenvolverá os projetos relacionados à marca Pelé.
O motivo oficial para a decisão é
que Pelé, 63, quer descansar. A
pedido da família, o ex-jogador,
que se recupera de cirurgia no
olho, deve diminuir o ritmo de
trabalho -reduzirá as aparições
em eventos, mas seguirá como garoto-propaganda.
"A Pelé Pro está desativada.
Houve mudança de enfoque para
exploração da imagem do Pelé.
Ele está optando por ser contratado de outras empresas de marketing esportivo. O Pelé não se envolve mais com esse negócio de
marketing esportivo, direitos de
transmissão, organização de torneios. Ele cansou de ser enganado", afirma Luiz Carlos Telles,
executivo da Pelé Pro e hoje espécie de porta-voz do ex-atleta.
Mas, por trás do "cansaço", está
o fracasso dos principais projetos
da Pelé Pro. A Copa da Paz, torneio criado pela agência em parceria com o revendo Sun Myung
Moon, deu prejuízo. Em fevereiro, Pelé ajuizou ação em que cobra US$ 5 milhões da empresa do
líder religioso sul-coreano, a
quem a Pelé Pro acusa de calote.
Sem seu carro-chefe, a agência
não conseguiu fazer decolar outros projetos, como o gerenciamento de carreiras de jogadores.
Os contratos ainda em vigor
com multinacionais, como os firmados com Coca-Cola e Mastercard, não serão afetados pelo fim
da Pelé Pro -foram assinados
pela já também desativada Pelé
Sports & Marketing.
Uma disputa silenciosa dentro
da própria Pelé Pro também influenciou na decisão de fechar as
portas da empresa. Depois da briga com Hélio Viana, o ex-ministro se aliou a Telles e a Renato Duprat, ex-dono da Unicór, empresa
do setor de planos de saúde, que
faliu. Pelé e o médico se distanciaram após o fracasso da Copa da
Paz e estão prestes a virar opositores também nos tribunais.
A decisão do ex-ministro de
abandonar a carreira de empresário de futebol surpreendeu seus
concorrentes no mercado.
Principal rival do Atleta do Século desde a criação da Pelé
Sports & Marketing em 1991, J.
Hawilla, dono da Traffic, qualificou o encerramento das atividades da agência como "uma pena".
"Tínhamos uma concorrência
saudável, não uma briga desleal.
Numa certa época [quando a
agência de Pelé intermediou o
contrato da ISL com o Flamengo],
isso representou um lucro muito
grande para nós. Trouxemos o
HMTF para o Corinthians, tivemos que correr atrás. O Pelé foi
saudável e útil para a Traffic", declarou J. Hawilla.
Hélio Viana, maior desafeto de
Pelé, tripudiou. "É mesmo uma
pena que ele insista em culpar o
sofá da sala. O problema não é o
mercado de marketing esportivo,
mas sim as pessoas que cercam o
Pelé hoje. Ele fecha as portas por
pura incompetência, por incapacidade", disse o empresário, que
atribuiu os fracassos da Pelé Pro
ao fim da parceria com ele. "O casamento de 18 anos foi um sucesso. O fracasso foi a briga."
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