São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Carta para Parreira

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Caro Parreira, venho por meio desta prestar-lhe antecipadamente minha solidariedade. Por quê? Ora, porque daqui a duas semanas você será o homem mais xingado do Brasil.
Sinto muito, mas é isso mesmo que você leu. No dia 15 será anunciada a convocação da seleção. E, uns poucos segundos depois, seu nome estará em todas as bocas, sempre acompanhado dos mais desairosos adjetivos.
Mas fique tranqüilo. Não será nada pessoal. São apenas os ossos do ofício. Se nós, cronistas, já somos xingados, imagine o técnico da seleção. Uns 120 milhões de brasileiros pensam que poderiam estar no seu lugar. E eles sabem um bocado de palavrões.
Ninguém mandou você escolher a profissão mais importante do Brasil. E a mais vigiada. O "mensalão" do governo Lula e a compra de votos da reeleição de FHC não terão tantas manchetes quanto você terá no dia 16.
O brasileiro gosta mais de futebol do que de política. É mais torcedor do que eleitor. O pior é que não sou diferente. Sou um deles. E também vou xingá-lo. Só que, para escapar do coro, vou xingá-lo antes. Desse jeito você já pode ir preparando as respostas. Sim, porque você não tem saída. Cada brasileiro tem sua seleção. A sua pode ser a oficial, mas a nossa é que é a boa.
Por exemplo, se você levar Marcos, terá que esquecer Rogério, o melhor em atividade no Brasil. E, se levar Rogério, deixará Marcos, que em forma é o melhor do mundo. Ah, e se levar os dois, será xingado por não levar um goleiro mais jovem. Um beco sem saída.
Na lateral direita, será culpado por esquecer Mancini, que hoje recebe mais aplausos que Cafu e Cicinho.
Na zaga, você vai deixar o Alex de lado. E nesse caso eu nem preciso me esforçar para encontrar argumento para xingá-lo, porque ele é o melhor zagueiro brasileiro. E mais: vamos dizer que você não o convocou porque o Holandês quase não passa na televisão.
Na quarta zaga, há uma fila de jogadores que podem ser esquecidos e causar reclamações. Fico com o Caçapa, do Lyon, que nem teve chance e vem jogando o fino há muito tempo.
Na lateral esquerda, se você levar o fraco Gustavo Nery, pediremos o sempre seguro Júnior; se levar o velho Júnior, pediremos o ainda lépido Serginho; se levar o não testado Serginho, pediremos o vigoroso Gustavo Nery. E não reclame. Sua sorte é que ninguém repara no Jadílson, do Goiás.
Quanto aos volantes, prepare-se para escutar um coro sob sua janela: "Mineiro!, Mineiro!".
Na meia, outro Alex será a causa dos xingamentos. A maioria prefere o habilidoso meia do Fenerbahce ao tático Ricardinho. Mas, se você levar Alex, falaremos que devia ter levado Ricardinho para ter mais opções de jogo.
E no ataque? Fred ou Nilmar? Tanto faz. O certo era o outro.
Ou seja, caro Parreira, você não tem escapatória. Nós vamos reclamar. E, se daqui a dois meses você não vier com a Copa debaixo do braço, diremos com ar indignado: "Eu sabia!".

Sport
Após quatro jogos, o Sport continua 100% na Série B. E quase tropeçou, porque o Remo marcou primeiro, aos 13min do 2º tempo. Mas o time pernambucano, liderado por Fumagalli, virou para 3 a 1. O próximo jogo será contra o Coritiba, em Curitiba. Pode ser o fim dos 100%.

Vasco x Volta Redonda
Hoje, pela Copa do Brasil, duelam Túlio e Edílson, veteranos goleadores. A chance maior está com Edílson, ainda mais que o Volta Redonda perdeu Sérgio Manoel para o Botafogo.

Goiás e Corinthians
Os brasileiros tentam hoje superar rivais argentinos. Os candidatos a heróis são Nonato, que fez o gol do título goiano, e Tevez, que marcou nas últimas quatro vezes que foi a campo.

E-mail torero@uol.com.br


Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Com prazer e sem pressão
Próximo Texto: Futebol: Corinthians joga para espantar déjà vu
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.