|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Plano inovador leva Brasil ao topo em 58
Quase um ano antes da Copa, Paulo Machado de Carvalho e amigos como Paulo Planet Buarque planejaram o título
Convocação dos melhores profissionais, sem bairrismo e com novas metodologias, alavancam épica conquista da seleção em campo sueco
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Contando com a cooperação de um grupo de amigos dedicados, que comigo se prontificaram a colaborar na confecção daquele que seria o plano
de trabalho para a seleção brasileira, apresento à vossa senhoria o regulamento e o plano
para o Mundial de 1958."
O texto acima, editado, integra carta de Paulo Machado de
Carvalho a João Havelange em
novembro de 1957. Cópia do
texto foi fornecida à Folha por
um desses amigos dedicados,
Paulo Planet Buarque, 80, jornalista que cobriu a primeira
conquista mundial da seleção,
que está perto dos 50 anos e
que ganha a partir de hoje uma
série de especiais na Folha.
""O Havelange acabara de se
eleger presidente da CBD, hoje
CBF. Veio a São Paulo convidar
o Paulo Machado de Carvalho
para assumir as responsabilidades com a seleção que iria à
Suécia. O Paulo me chamou,
perguntou o que eu achava.
Disse a ele que era uma honra,
pois, pela primeira vez, alguém
de São Paulo era lembrado para
tal atividade", conta Planet.
Historicamente ligado ao
São Paulo, como Paulo Machado e o técnico Feola, Planet
lembra que a CBF, até a Copa
de 58, era composta por dirigentes do Rio na ""sua imensa
maioria, senão totalidade".
""As seleções brasileiras até
então sempre haviam sido comandadas por grandes próceres. No caso de 1954 [Copa da
Suíça], era o João Lyra Filho,
presidente do Conselho Nacional de Desportos. Ele nunca esteve na concentração, sempre
esteve em solenidades, recepções. Não havia parte diretiva
antes na seleção", diz Planet.
Os erros nas Copas de 1950 e
54 foram o ponto de partida para o plano elaborado quase um
ano antes do primeiro título.
""Nós vínhamos de dois fracassos rotundos. Estava presente no Maracanã em 1950,
uma decepção de 200 mil pessoas, pelo menos metade chorando. Na véspera do jogo, já tiraram fotos dos jogadores com
faixas de campeão do mundo.
Em 1954, pior, nossos jogadores nem sequer sabiam que,
contra os iugoslavos, um empate classificava os dois países."
Planet lembra que, além dessas observações sobre os Mundiais perdidos, inovações foram implementadas de forma
pioneira na seleção para 1958.
""Pela primeira vez na seleção, fez-se uma verificação
dentária. Nunca antes houvera
tal preocupação. Foi quando
surge a figura do Mário Trigo,
que era dentista e foi solicitado.
Ele conseguia arrancar dentes
apodrecidos dos jogadores
dando risada, contando piada.
Foi convidado a acompanhar a
seleção na Suécia e se tornou
uma figura folclórica", diz.
A parte física ganhou uma
atenção especial no projeto,
mas o fator psicológico pesou.
""Foi considerado que jogador para a seleção tinha que
ser especial, dedicar-se por inteiro à atividade. Na relação de
jogadores, cuidou-se muito da
personalidade de cada um. E
precisávamos de uma preparação física fora do comum. Era
necessário preparador que não
se deixasse enganar pelos jogadores que preferem bate-bola,
brincadeira de botar na roda."
Planet destaca aí a figura de
Paulo Amaral, preparador físico que morreu na quinta-feira.
""Paulo Amaral era preparador do Botafogo, mas também
sargento da Polícia Militar. Era
capaz de enquadrar os jogadores. E enquadrou mesmo. Porque não tinha ninguém que
dissesse: "Olha, estou com uma
dorzinha aqui". Ele dizia: "Essa
dorzinha vai sumir na preparação, entra em forma". E foi assim mesmo", conta Planet.
O jornalista, que passava por
telefone os relatos da campanha da seleção na Suécia, destaca muito o caráter nacional
da seleção, que sofrera tanto
com bairrismo anteriormente.
""Quando se cogitou o Paulo
Amaral, logo cogitou-se o Hilton Gosling, que era médico
muito considerado, também do
Botafogo, do futebol carioca.
Ninguém pensou só em gente
de São Paulo, ao contrário. A
idéia era buscar os melhores,
estivessem onde estivessem,
como o Mário Américo [massagista], que fora da Portuguesa,
mas estava no Rio."
As reuniões que definiram o
plano e os detalhes para a Copa-58 aconteciam na antiga sede da federação paulista às terças. ""Esses detalhes colaboraram muito para nossa primeira
conquista mundial", diz Planet.
Texto Anterior: Basquete: Time de Alex joga final da Euroliga Próximo Texto: Há 50 anos: Seleção goleia Paraguai no 1º ensaio para a Copa da Suécia Índice
|