São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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BASQUETE

Troca (quase) tudo

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Como um velho moribundo, o basquete do Vasco parece ter expirado pela última vez.
A derrota diante do Araraquara, domingo, encerrou o projeto que tinha dado o bicampeonato nacional ao time -e consolidado a série consecutiva de cinco títulos do técnico Hélio Rubens.
Dificilmente todos os atletas seguirão no clube. O mais provável é que não sobre nenhum.
As despedidas só não são explícitas porque o clube deve muitos meses de salário, e os jogadores temem que uma ruptura em público dê margem a retaliações por parte dos dirigentes.
Será um final melancólico, símbolo da inconsequência da experiência carioca patrocinada pela confederação brasileira.
Mas não um vexame, pois a desclassificação ocorreu em um semestre de muita paciência e superação -só sete profissionais jogaram o Nacional, sobrecarga agravada pela disputa simultânea da Liga Sul-Americana.
Agora, o importante é que o revés vascaíno deve abrir o caminho para algumas mudanças na geografia do esporte.
A primeira prova disso está na decisão do próprio Nacional.
Depois de quatro anos, dois clubes paulistas voltarão a jogar pela taça -o time de Araraquara por ora aguarda o vencedor de Bauru x Ribeirão Preto.
Mas caberá ao clã Hélio Rubens o principal papel nessa redistribuição de forças.
Antes de tudo, é preciso saber se técnico e principais jogadores -Helinho, Rogério e Sandro Varejão- seguirão em bloco para outro clube.
Uberlândia e Minas já admitiram um começo de namoro com esse objetivo. Para os dois clubes mineiros, que desejam resultados e projeção política o mais rapidamente possível, seria uma estratégia bastante inteligente.
Tanto o Uberlândia, não sei por quê, como o Minas, por causa da pressa com que se formou a equipe neste ano, praticaram um basquete sem estrutura ao longo dos mata-matas. E basquete de estrutura, no Brasil, com as qualidades e os defeitos, ainda é uma marca registrada de Hélio Rubens.
Franca também já se mobiliza para receber o filho pródigo de volta. O escritório regional da AmBev fala em reatar as relações comerciais com o clube paulista, que, em frangalhos, pela primeira vez ficou de fora dos mata-matas.
Nada contra o trabalho de Daniel Wattfy, que, justiça seja feita, brilhou ao tirar leite de pedra ao longo de dois anos sem a ajuda de um patrocinador forte.
Mas, em momentos de crise, deve-se pensar antes na superestrutura. O melhor para o basquete francano, neste momento, é um projeto que atraia parceiros e, principalmente, devolva o entusiasmo à cidade. Hélio Rubens, até pela chancela da CBB, ainda é o melhor negócio.
Além do mais, ao endividado Franca, sem um novo patrocinador, haveria apenas uma opção: participar do Paulista com um time de juvenis. E Wattfy já avisou que sairá nesse cenário -o Uberlândia também demonstrou interesse por seu trabalho.
Seria tudo muito mais excitante se, em meio a esse turbilhão, houvesse também uma sacudida no basquete que se joga hoje no Brasil. No entanto, ao que tudo indica, estamos longe desse momento de inflexão. Wattfy, Guerrinha (Bauru) e João Marcelo (Araraquara) são discípulos confessos do basquete hélio-rubensiano.

Rio 1
O tumulto em Ribeirão Preto no dia 21 não arruinou só a despedida de Oscar. Implodiu também o plano de diretores do Flamengo de extinguir o time profissional. A economia (R$ 150 mil mensais) serviria para amortizar a dívida de R$ 2,7 milhões do clube com Petkovic. Como o cestinha adiou o adeus, os cartolas rubro-negros não sabem mais o que fazer. O pivô Janjão e o armador Ratto, contudo, não esperaram. Já fecharam contrato com o Ajax, de Goiás.

Rio 2
O Fluminense também vive a expectativa do desmanche. Marcelinho, estrela do time no Nacional, não só já fez testes no Portland, da NBA, como estuda a possibilidade de atuar na Europa.

Rio 3
O Botafogo fala em voltar com uma equipe competitiva no segundo semestre. Mas, do jeito que a coisa vai, não haverá Estadual.

E-mail melk@uol.com.br



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