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TOSTÃO
Realismo, pessimismo e otimismo
Discurso do técnico Parreira é perigoso, mas ele tem a sorte de contar com sensacionais atletas: Ronaldinho e Kaká
A PARTIR, de hoje, a coluna será
diária. Nos últimos dias, apesar do frio e da chuva, Weggis
ficou mais bonita com as montanhas próximas do lago cheias de neve. Hoje, o Brasil enfrenta a fraquíssima Nova Zelândia em Genebra.
Será mais um treino para os jogadores se posicionarem melhor.
É obvio que o Brasil pode ganhar a
Copa sendo o grande favorito e sem
ter grandes dúvidas e problemas antes do torneio. Não sou supersticioso para achar que, para vencer, é necessário ser bastante criticado antes
do Mundial, como em outras vezes.
Em uma coluna anterior, chamei a
atenção para o fato de que as grandes seleções da história foram consagradas durante a Copa, na adversidade e na solução dos problemas. O
Brasil tem vários excepcionais jogadores, mas não temos certeza se terá
um grande time nesta Copa.
O Brasil não é também muito superior a algumas seleções. Se perder,
não será zebra nem por causa do "sapato alto" dos jogadores, e sim pela
qualidade dos adversários e pelas armadilhas dos jogos de mata-mata.
Não está também tudo certo, maravilhoso, como diz a radiante e otimista turma do oba-oba ou os que
ufanam quando o time ganha e só
vêem erros quando perde. A audiência é que tem formado a opinião.
O time tem problemas que precisam ser diminuídos. Como os grandes espaços deixados na defesa e a
ausência de uma marcação por pressão, pelo menos em parte do jogo.
Estou realista, e não pessimista.
Além disso, na vida nada está pronto, seguro e definido. Há sempre dúvidas e incertezas.
Auto-suficiência
Parreira diz sempre que o Brasil
tem de impor o seu estilo e que o
adversário é que precisa correr
atrás. Para isso, ele cita sempre um
"sábio" da Europa, que não consigo
guardar o nome. Deve ser inglês. Isso costuma ser verdade, mas nem
sempre é assim, mesmo para um time que tem mais craques. A seleção tem de se preparar para não ser
surpreendida. Em alguns momentos, é necessário fazer pequenas
mudanças na maneira de jogar, de
acordo com o adversário.
A auto-suficiência está perto da
prepotência. Um técnico não pode
ser um inventor, um professor Pardal, delirar em cima de uma prancheta. Nem ser tão convicto e seguro dos seus conceitos e condutas.
Dois craques
Ronaldinho Gaúcho e Kaká
atuam de maneiras diferentes nos
seus clubes. No Barcelona, Ronaldinho joga também mais pela esquerda, porém mais à frente. Kaká
atua no Milan mais pelo meio, entre o meio-campo e o ataque. Na seleção, joga mais pela direita.
Apesar de jogar mais perto do gol
e dos dois atacantes, para o Kaká é
melhor a forma como atua na seleção, pela direita. Por ser muito veloz e ter um drible mais longo, ele
precisa de muitos espaços. No Milan, os espaços são menores, pois
há sempre um ou dois volantes
muito próximos.
Para o Ronaldinho, é melhor seu
modo de atuar no Barcelona. O time desarma com freqüência no
campo adversário e toca rápido para ele, que está freqüentemente livre pela esquerda, perto da área e
diante de apenas um marcador. Ele
tem uma ampla visão à sua frente.
Na seleção, Ronaldinho inicia as
jogadas mais atrás, muitas vezes no
campo do Brasil, com vários adversários à sua frente. O caminho é
longo e difícil para ele chegar perto
da área.
Kaká e Ronaldinho se completam nas suas características. E ainda são disciplinados e humildes.
Mais do que um gestor de talentos,
como Parreira se identifica nas
suas entrevistas, ele é um técnico
de sorte por ter na sua equipe dois
jogadores espetaculares.
@ - tostao.folha@uol.com.br
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