|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TÊNIS
Nada é para sempre
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Aconteceu. Pete Sampras,
ele mesmo, perdeu em
Wimbledon. O responsável pelo
feito foi um adolescente, o suíço
Roger Federer, um sujeito com a
cara do cineasta Quentin Tarantino e que já foi chamado de
"Anna Kournikova macho",
porque jogava bem, jogava bem,
mas nunca ganhava nada.
Pois Federer, que acabou com
o apelido no início do ano, ao
ser campeão em Milão, "matou" Sampras com seu próprio
veneno: saque fortíssimo (25
aces, como Sampras, e menos
duplas faltas), devolução eficiente (foi assim que fechou o jogo) e voleio que vem sendo trabalhado desde o fim da última
temporada. Federer subiu sempre que possível à rede e, bingo!,
induziu Sampras a cometer erros, muitos erros.
O sempre polido Sampras reagiu bem à derrota. "Não seria
para sempre [a invencibilidade,
que chegava a 31 jogos, o reinado". Nada dura para sempre",
afirmou, já de banho tomado e
cabeça fresca. Sobre o futuro?
Bem, mais uma vez Sampras
diz que não pára. "Não há motivo para pânico. Eu acho que
posso voltar aqui no ano que
vem e vencer de novo."
Alguém concorda?
"Às vezes, eu olhava para o outro lado e via [Sampras". Era estranho; foi difícil acreditar que
eu estava encarando Pete na
grama, em Wimbledon."
Federer conseguiu o que poucos homens até hoje conseguiram. Vencer Sampras, na grama, em Wimbledon. Todd
Woodbridge em 1989, Christo
van Rensburg em 1990, Derrick
Rostagno em 1991, Goran Ivanisevic em 1992 e Richard Krajicek
em 1996. E só.
O suíço quase foi jogador de
hóquei no gelo. Acabou cooptado pela Federação Suíça de Tênis, passando por extensas temporadas de treino. A cada domingo longe de casa, chorava.
Anteontem, não chorou, mas
ficou perto disso. Festejou a vitória sobre Sampras como um título. Alguém acha que não é
mais ou menos isso?
Não é de hoje que o circuito todo avista a decadência de Sampras. Em 2000, o próprio tenista
deixou claro que está encontrando mais prazeres na vida
fora das quadras do que dentro
delas (dez semanas de lua-de-mel não é para qualquer um).
Nesta edição de Wimbledon,
destaque para as declarações de
Tim Phillips, o homem-forte do
torneio, e Andre Agassi, seu
maior rival. "O que Pete fez [note o passado" em Wimbledon é
inigualável", disse o primeiro.
"Precisamos parabenizar Pete
por tudo o que ele conseguiu na
carreira [como se tivesse acabado]", afirmou o segundo.
Além disso, Sampras, 30 anos
no próximo mês, tem sofrido
muito com dores. No ano passado, queixava-se de incômodo na
bacia. Neste ano, um problema
no pé o atrapalhou. O físico já
não é o mesmo.
Reflexo disso tudo, seus adversários já não o temem. Quem revelou isso? Ele próprio, em conversa com alguns jornalistas.
Em Roland Garros, aliás, catedral do saibro, em que jamais
foi feliz, Sampras foi motivo de
piadinha entre tenistas latinos.
Agora, na segunda-feira, Pete
Sampras, ex-número um do
mundo, top três por nove anos
consecutivos, cai fora do top ten.
Vai ficar perto de ser top ten.
Quantos não festejariam a posição? Para Pete, é a decadência.
Desânimo
Outro que está se rendendo é Ievguêni Kafelnikov. Aos 27 anos,
22 títulos, ouro olímpico e mais de US$ 18 milhões em prêmios,
não se vê mais com boas chances. "Sou realista. O tempo está
passando. A cada torneio, tenho menos chances de ganhar."
Ânimo
O ponto de encontro nesta semana é Campos do Jordão. Alguns dos principais tenistas nacionais e as maiores revelações
do país jogam no Tênis Clube local. A entrada é gratuita. Os infanto-juvenis jogam em Belo Horizonte e em Angra dos Reis.
Ilegal
Fora das quadras, quem anda sofrendo é Boris Becker. Não bastasse sua separação e o anúncio de uma paternidade, o alemão,
três vezes campeão em Wimbledon, foi condenado a pagar
quase US$ 11 milhões em impostos atrasados.
E-mail reandaku@uol.com.br
Texto Anterior: Fla e Cruzeiro decidem vaga sob clima tenso Próximo Texto: Futebol - Tostão: Velhos problemas Índice
|