São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2001

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TÊNIS

Nada é para sempre

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Aconteceu. Pete Sampras, ele mesmo, perdeu em Wimbledon. O responsável pelo feito foi um adolescente, o suíço Roger Federer, um sujeito com a cara do cineasta Quentin Tarantino e que já foi chamado de "Anna Kournikova macho", porque jogava bem, jogava bem, mas nunca ganhava nada.
Pois Federer, que acabou com o apelido no início do ano, ao ser campeão em Milão, "matou" Sampras com seu próprio veneno: saque fortíssimo (25 aces, como Sampras, e menos duplas faltas), devolução eficiente (foi assim que fechou o jogo) e voleio que vem sendo trabalhado desde o fim da última temporada. Federer subiu sempre que possível à rede e, bingo!, induziu Sampras a cometer erros, muitos erros.
O sempre polido Sampras reagiu bem à derrota. "Não seria para sempre [a invencibilidade, que chegava a 31 jogos, o reinado". Nada dura para sempre", afirmou, já de banho tomado e cabeça fresca. Sobre o futuro?
Bem, mais uma vez Sampras diz que não pára. "Não há motivo para pânico. Eu acho que posso voltar aqui no ano que vem e vencer de novo."
Alguém concorda?
"Às vezes, eu olhava para o outro lado e via [Sampras". Era estranho; foi difícil acreditar que eu estava encarando Pete na grama, em Wimbledon."
Federer conseguiu o que poucos homens até hoje conseguiram. Vencer Sampras, na grama, em Wimbledon. Todd Woodbridge em 1989, Christo van Rensburg em 1990, Derrick Rostagno em 1991, Goran Ivanisevic em 1992 e Richard Krajicek em 1996. E só.
O suíço quase foi jogador de hóquei no gelo. Acabou cooptado pela Federação Suíça de Tênis, passando por extensas temporadas de treino. A cada domingo longe de casa, chorava.
Anteontem, não chorou, mas ficou perto disso. Festejou a vitória sobre Sampras como um título. Alguém acha que não é mais ou menos isso?
Não é de hoje que o circuito todo avista a decadência de Sampras. Em 2000, o próprio tenista deixou claro que está encontrando mais prazeres na vida fora das quadras do que dentro delas (dez semanas de lua-de-mel não é para qualquer um).
Nesta edição de Wimbledon, destaque para as declarações de Tim Phillips, o homem-forte do torneio, e Andre Agassi, seu maior rival. "O que Pete fez [note o passado" em Wimbledon é inigualável", disse o primeiro. "Precisamos parabenizar Pete por tudo o que ele conseguiu na carreira [como se tivesse acabado]", afirmou o segundo.
Além disso, Sampras, 30 anos no próximo mês, tem sofrido muito com dores. No ano passado, queixava-se de incômodo na bacia. Neste ano, um problema no pé o atrapalhou. O físico já não é o mesmo.
Reflexo disso tudo, seus adversários já não o temem. Quem revelou isso? Ele próprio, em conversa com alguns jornalistas. Em Roland Garros, aliás, catedral do saibro, em que jamais foi feliz, Sampras foi motivo de piadinha entre tenistas latinos.
Agora, na segunda-feira, Pete Sampras, ex-número um do mundo, top três por nove anos consecutivos, cai fora do top ten. Vai ficar perto de ser top ten. Quantos não festejariam a posição? Para Pete, é a decadência.

Desânimo
Outro que está se rendendo é Ievguêni Kafelnikov. Aos 27 anos, 22 títulos, ouro olímpico e mais de US$ 18 milhões em prêmios, não se vê mais com boas chances. "Sou realista. O tempo está passando. A cada torneio, tenho menos chances de ganhar."

Ânimo
O ponto de encontro nesta semana é Campos do Jordão. Alguns dos principais tenistas nacionais e as maiores revelações do país jogam no Tênis Clube local. A entrada é gratuita. Os infanto-juvenis jogam em Belo Horizonte e em Angra dos Reis.

Ilegal
Fora das quadras, quem anda sofrendo é Boris Becker. Não bastasse sua separação e o anúncio de uma paternidade, o alemão, três vezes campeão em Wimbledon, foi condenado a pagar quase US$ 11 milhões em impostos atrasados.

E-mail reandaku@uol.com.br



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