São Paulo, quinta-feira, 04 de julho de 2002

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FUTEBOL

Tudo como dantes

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

É incrível como é fácil voltar tudo ao "normal".
Às vezes passo semanas longe de São Paulo e na volta me surpreendo com uma coisa ou outra -em geral, mais um quarteirão que virou estacionamento, mais uma árvore mutilada ou morta-, mas em pouquíssimo tempo já é tudo familiar de novo, como se eu nunca tivesse saído.
Durante a Copa, me acostumei tanto com os jogos às três e meia da manhã que achei que ia estranhar as madrugadas sem eles. Que nada -no dia seguinte, já era estranho pensar que o comum era ter jogo.
Se o Brasil não fosse campeão, essa volta à rotina seria bem mais chata, mas o título não muda tanto assim o dia seguinte. O "clima de Copa", que demorou tanto a surgir, já passou.
O fiasco nas comemorações de anteontem vem nos lembrar, amargamente, de como temos dificuldade para organizar qualquer coisa que seja. Os jogadores ficaram exaustos e frustrados, e os torcedores também. A decepção de alguns virou raiva, o que é muito triste. Se nem a festa de um dia funciona, imagine o que esperar do trabalho a médio prazo.
A seleção deixou de desfilar no tradicional carro de bombeiros (que já estava todo decorado e era o mesmo de outras Copas) em Brasília para sair no trio elétrico patrocinado. Tudo bem que o trio tinha mais espaço, camarins, batucada e outras coisas, mas os bombeiros são verdadeiros "heróis nacionais" e mereciam fazer pelo menos uma partezinha do percurso com os campeões. A CBF podia ter feito esse agrado.
Na festa no Palácio do Planalto, Fernando Henrique abraçou um por um os jogadores, mas esticou o braço com firmeza e manteve o resto da delegação à distância, obrigando os menos famosos a um respeitoso aperto de mão. Intimidade tem limite.
A situação do futebol é tão complicada que ainda durante a Copa ouvi um torcedor dizer: "Que bom que o Gilberto Silva é do Atlético, assim ele pode ser vendido e ajudar a resolver os nossos problemas financeiros". Claro que a origem do raciocínio está na cartolagem (não necessariamente a do Atlético-MG) que pensa mais nos jogadores como mercadorias que podem ser negociadas com lucro do que como recursos humanos valiosos.
Agora começou a Copa dos Campeões, o torneio que mais dá sopa para o acaso. É tão rápido e tão peculiar que permite que o representante "eleito" para a Libertadores seja bem pouco indicado para o papel. E ainda dá direito ao campeão de defender o seu título -e por isso o Flamengo está lá. Já a Copa do Brasil, que exige muito mais dos clubes, não dá.
Ainda não se sabe quem seria classificado para a Libertadores caso o Corinthians, que já tem a vaga, seja campeão dessa Copa. É bem possível que a decisão só seja tomada depois de conhecidos todos os resultados, para assegurar a presença de um time "grande" (quer dizer, de "grande apelo comercial"). Tomara que eu esteja errada, mas já nos acostumamos com decisões estranhas, não?

A Fifa divulgou o novo ranking, com a Alemanha abaixo de Argentina, França e Espanha. Não seria mais justo montar dois rankings, como no tênis? Um com os resultados obtidos a longo prazo, e outro baseado no desempenho no ano. O primeiro faria justiça ao "conjunto da obra"; o segundo seria fiel à situação do momento.

W.O.
Em anúncio de página inteira, a Globo afirma que, "com muita humildade e respeitando os adversários", ela conquistou "a maior goleada de audiência desta Copa", com 96% de audiência durante os jogos da seleção. Ela só não disse que não havia "adversários"... Foi a primeira vez que eu vi goleada em W.O.

Cálculo esquisito
O mesmo anúncio diz que "desde as eliminatórias, a seleção passou por 21 jogos, 12 vitórias, 3 empates, 6 derrotas, 4 técnicos e 61 atletas". Que 21 jogos serão esses? 18 das eliminatórias + 7 da Copa do Mundo = 25. E agora são 16 vitórias. Não entendi...

Barbaridade
A irmã de uma amiga minha, de 10 anos, levou um tiro no quintal de casa durante a festa do penta. O pior é que ela não deve ter sido a única.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br



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