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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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BOXE

Sparring verbal

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Podem me chamar de monotemático, mas esta coluna repete o tema das últimas semanas.
Mas, sabe, é que não é todo dia que se tem o (dúbio) privilégio de "bater boca" com o campeão mundial dos pesos-pesados.
Sim, vocês leram corretamente.
Aconteceu anteontem, quando participei de teleconferência com Lennox Lewis, dono dos cinturões do CMB e da IBO, além de ser o campeão linear (a "árvore genealógica" de seu título poderia ser traçada até o primeiro campeão).
Foi mais ou menos assim:
- Lennox, você é um campeão dominante, mas não é popular. Chamam você de chato. O que você acha que será necessário fazer para alterar essa imagem?, foi a minha primeira pergunta.
- Não creio que as pessoas que assistiram à minha última luta [contra Vitali Klitschko, na semana retrasada] têm essa opinião. Você também achou isso, assistiu à minha última luta?, contra-atacou o campeão dos pesados.
- Sim, achei a luta chata. Você dominou [o desafiante Vitali] Klitschko, respondi, repetindo o que já havia escrito na coluna anterior, que acreditava que Klitschko havia vencido só os dois primeiros assaltos e estava a ponto de desistir quando o combate foi interrompido pelo árbitro.
- Bom, obrigado, disse Lewis, maneira diplomática que encontrou para encerrar a discussão.
- Mas a luta foi chata, repeti.
- [Caso haja revanche], vou nocauteá-lo na próxima vez, finalizou um irritado Lewis.
Passei para outro tópico. Perguntei onde ele se incluiria entre os melhores pesados de todos os tempos. A sua resposta foi bastante vaga, porém diplomática.
- Estou entre os melhores.
- Mas em qual colocação, exatamente?, segui insistindo.
- Quinto, disparou o inglês.
Ao ouvir minha última pergunta, sobre um tema bastante delicado para atletas, o campeão dos pesos-pesados adotou a ironia:
- Quantas lutas pretende fazer até se aposentar?, questionei.
- O que você disse? Até eu me cansar [fazendo um trocadilho entre retire, aposentadoria em inglês, e tired, cansado]?
O mediador, educadamente, o corrigiu, "ele disse aposentar-se".
Lewis ignorou-o, sinalizando claramente que não queria mais de responder minhas questões.
Não restou alternativa ao mediador senão agradecer pela minha participação, antes mesmo que ela tivesse se encerrado.
Claro, além de nossa sessão verbal de sparring, o britânico também falou sobre outros temas.
Lewis considera dois cenários para seu próximo compromisso: uma revanche com Klitschko, provavelmente em 6 de dezembro, ou uma luta com o campeão dos pesos-pesados da AMB, Roy Jones Jr., em 8 de novembro.
Qual dos dois seria mais fácil?
"Roy Jones Jr., por causa da diferença de tamanho", disse, em alusão ao fato de Klitschko medir 1,98 m e Jones Jr., 1,80 m).
Para resumir como seria, em sua mente, a luta com Jones Jr., Lewis repetiu a célebre frase de Joe Louis, quando este enfrentou o campeão dos meio-pesados Billy Conn, em 41, "ele pode correr, mas não se esconder".

Outra teleconferência
Outra teleconferência, também na quarta, não foi positiva para o meio-médio-ligeiro Kelson Pinto. Quando questionei o campeão da OMB, DeMarcus "Chop Chop" Corley, sobre o que conhecia do brasileiro, o americano perguntou "quem é esse?" e, após ser informado, afirmou que não sabia "nada" sobre ele, que é o segundo do ranking. Muita gente vinha afirmando que o brasileiro disputaria o título até o fim deste ano ou no próximo. "Estamos pensando em outros combates, como contra [o campeão unificado pelo CMB, AMB e FIB] Kostya Tszyu. Aliás, ele [Pinto] é o segundo do ranking, não? Quando chegar a primeiro e virar desafiante obrigatório, começaremos a pensar nele", completou J.D. Brown, manager de Corley, que luta contra o perigoso Zab Judah, no dia 12. O primeiro do ranking é Junior Witter, do promotor Frank Warren, muito influente na OMB.

E-mail eohata@folhasp.com.br


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