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BOXE
Sparring verbal
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Podem me chamar de monotemático, mas esta coluna repete o tema das últimas semanas.
Mas, sabe, é que não é todo dia
que se tem o (dúbio) privilégio de
"bater boca" com o campeão
mundial dos pesos-pesados.
Sim, vocês leram corretamente.
Aconteceu anteontem, quando
participei de teleconferência com
Lennox Lewis, dono dos cinturões
do CMB e da IBO, além de ser o
campeão linear (a "árvore genealógica" de seu título poderia ser
traçada até o primeiro campeão).
Foi mais ou menos assim:
- Lennox, você é um campeão
dominante, mas não é popular.
Chamam você de chato. O que você acha que será necessário fazer
para alterar essa imagem?, foi a
minha primeira pergunta.
- Não creio que as pessoas que
assistiram à minha última luta
[contra Vitali Klitschko, na semana retrasada] têm essa opinião.
Você também achou isso, assistiu
à minha última luta?, contra-atacou o campeão dos pesados.
- Sim, achei a luta chata. Você
dominou [o desafiante Vitali]
Klitschko, respondi, repetindo o
que já havia escrito na coluna anterior, que acreditava que
Klitschko havia vencido só os dois
primeiros assaltos e estava a ponto de desistir quando o combate
foi interrompido pelo árbitro.
- Bom, obrigado, disse Lewis,
maneira diplomática que encontrou para encerrar a discussão.
- Mas a luta foi chata, repeti.
- [Caso haja revanche], vou
nocauteá-lo na próxima vez, finalizou um irritado Lewis.
Passei para outro tópico. Perguntei onde ele se incluiria entre
os melhores pesados de todos os
tempos. A sua resposta foi bastante vaga, porém diplomática.
- Estou entre os melhores.
- Mas em qual colocação, exatamente?, segui insistindo.
- Quinto, disparou o inglês.
Ao ouvir minha última pergunta, sobre um tema bastante delicado para atletas, o campeão dos
pesos-pesados adotou a ironia:
- Quantas lutas pretende fazer
até se aposentar?, questionei.
- O que você disse? Até eu me
cansar [fazendo um trocadilho
entre retire, aposentadoria em inglês, e tired, cansado]?
O mediador, educadamente, o
corrigiu, "ele disse aposentar-se".
Lewis ignorou-o, sinalizando
claramente que não queria mais
de responder minhas questões.
Não restou alternativa ao mediador senão agradecer pela minha participação, antes mesmo
que ela tivesse se encerrado.
Claro, além de nossa sessão verbal de sparring, o britânico também falou sobre outros temas.
Lewis considera dois cenários
para seu próximo compromisso:
uma revanche com Klitschko,
provavelmente em 6 de dezembro, ou uma luta com o campeão
dos pesos-pesados da AMB, Roy
Jones Jr., em 8 de novembro.
Qual dos dois seria mais fácil?
"Roy Jones Jr., por causa da diferença de tamanho", disse, em
alusão ao fato de Klitschko medir
1,98 m e Jones Jr., 1,80 m).
Para resumir como seria, em
sua mente, a luta com Jones Jr.,
Lewis repetiu a célebre frase de
Joe Louis, quando este enfrentou
o campeão dos meio-pesados
Billy Conn, em 41, "ele pode correr, mas não se esconder".
Outra teleconferência
Outra teleconferência, também na quarta, não foi positiva para o
meio-médio-ligeiro Kelson Pinto. Quando questionei o campeão da
OMB, DeMarcus "Chop Chop" Corley, sobre o que conhecia do brasileiro, o americano perguntou "quem é esse?" e, após ser informado,
afirmou que não sabia "nada" sobre ele, que é o segundo do ranking.
Muita gente vinha afirmando que o brasileiro disputaria o título até o
fim deste ano ou no próximo. "Estamos pensando em outros combates, como contra [o campeão unificado pelo CMB, AMB e FIB]
Kostya Tszyu. Aliás, ele [Pinto] é o segundo do ranking, não? Quando chegar a primeiro e virar desafiante obrigatório, começaremos a
pensar nele", completou J.D. Brown, manager de Corley, que luta
contra o perigoso Zab Judah, no dia 12. O primeiro do ranking é Junior Witter, do promotor Frank Warren, muito influente na OMB.
E-mail eohata@folhasp.com.br
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