São Paulo, terça-feira, 04 de julho de 2006

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[+] análise

De que adianta para a seleção ter Teixeira?

ROBERTO DIAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Yokohama, final da Copa de 2002. Cafu tentava se equilibrar no púlpito para protagonizar uma das cenas mais fotografadas da humanidade. Logo abaixo, Ricardo Teixeira, pronto a ajudá-lo. Ficou bonito na foto.
Teixeira, agora, sumiu.
Seria exagero, decerto, culpá-lo pela apatia de Ronaldinho, pela condição física de Ronaldo, pelos fantasmas de Adriano e pelos desacertos de Parreira.
Tampouco é o ponto, aqui, repisar as inúmeras sombras que pairam sobre sua gestão, muitas delas demarcadas pelas CPIs após Sydney-2000.
Mas parece razoável perguntar de que serve um presidente da CBF que se move unicamente na penumbra.
Política interna da Fifa ou organização da Copa-2014, tudo pode tê-lo ocupado nos últimos dias, menos a preocupação em assumir a responsabilidade pela seleção -o que não significa, é óbvio, meter o bedelho na escalação ou bizantinices assim.
O comportamento público da CBF nos momentos críticos diz muito sobre ela. Por sinal, é ciclotímico. Em 1990, após o tombo, a cúpula também não deu as caras. Só sussurrou, como agora, que estava irritada com as coisas que aconteciam no time. Em 1994, a principal ação pública foi xingar a imprensa. Na França de 1998, de novo, silêncio. Quatro anos atrás, além das fotos históricas, autógrafo em aeroporto e elogios da cartolagem à volta.
E agora?
Os campeonatos nacionais de futebol, como se sabe, Teixeira abandonou faz tempo.
Em tese, para se dedicar à seleção, mas o que a Copa mostra é um novo capítulo de distanciamento -a ponto de divulgar que estaria licenciado do cargo até 31 de julho, bem no período mais importante de seu mandato.
Fosse a CBF uma empresa, passaria como inadmissível a omissão de seu presidente. Não sendo, sobra apenas Parreira na mira popular.
Mas não foi o técnico, por exemplo, quem decidiu levar a seleção para jogar a -17C em Moscou no único amistoso previsto pela Fifa antes da Copa. Nem foi ele quem faturou com a escolha da fria Weggis para os treinos.
Um registro: eliminada a Argentina, o presidente da federação de lá, Julio Grondona, ao menos apareceu para falar sobre o futuro.
Teixeira, nem isso. E, de sombra em sombra, tem caminho aberto para ficar na CBF até 2014.


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