São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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FUTEBOL

Afilhado de Farah recebeu por negócios que não fez

Amigo de dirigente amealhou R$ 2,2 milhões em acordos da TV

Globo afirma que negócios com federação não têm intermediários

Presidente da FPF, padrinho de casamento de empresário, cala

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

"Ético é relativo. Vossa Excelência não pode fazer negócios com inimigos. É melhor fazer negócios com amigos e conhecidos."
A frase, um depoimento à CPI do Futebol, é de Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista e da Liga Rio-São Paulo.
E não é apenas discurso. Em 2000, o cartola mais poderoso do Estado agraciou um afilhado com R$ 2,2 milhões pela intermediação de dois contratos entre a TV Globo e a FPF, parceiras desde a década de 70.
Oito meses após a conclusão dos trabalhos da CPI, um fato novo só faz aumentar a suspeita dos senadores de que Farah desviou indevidamente recursos da entidade para beneficiar seu amigo.
O principal executivo da Globo Esportes, Marcelo de Campos Pinto, disse à Folha que o amigo apontado por Farah, o empresário Bruno Balsimelli, jamais participou da elaboração dos acordos.
"Posso afirmar com todas as letras que ninguém intermedeia nenhum contrato da Globo", disse Campos Pinto, responsável desde 1997 pelos acordos da emissora relativos ao futebol.
Mas o negócio celebrado entre a FPF e a B&B Comunicação Visual S/C Ltda., empresa de Balsimelli, é claro sobre o motivo do pagamento. Diz o contrato firmado em 3 de janeiro de 2000, a que a Folha teve acesso:
"A B&B neste ato é intermediário na apresentação à Federação da empresa TV Globo Ltda., na qual firmou contrato de publicidade estática no valor de R$ 6 milhões e de dois milhões de ingressos no valor de R$ 10 milhões para o Campeonato Paulista de 2000. A Federação, pela intermediação, pagará à B&B o montante de 10% sobre o valor total, equivalente a R$ 1,6 milhão."
Um ano depois, a B&B voltou a ser agraciada pela confecção de um contrato entre a mesma Globo e a FPF. Pela compra dos direitos de exploração da publicidade estática da competição estadual, a emissora pagou R$ 6 milhões à federação. Balsimelli recebeu outros R$ 600 mil pela suposta nova intermediação.

Sem intermediário
Procurado pela reportagem para falar sobre o assunto, Campos Pinto mostrou-se surpreso ao receber a informação de que o afilhado de Farah havia sido remunerado pela eventual intermediação dos dois contratos com a TV. E declarou o seguinte:
"A Globo é uma empresa nova? A federação é nova? Os contratos da Globo com a federação são novos ou antigos? Então, olha que situação esdrúxula. A Globo tem contratos de transmissão dos eventos por TV com a federação firmados há anos, desde a década de 70. Um dia a Globo vai à FPF e diz que quer comprar as placas do Paulista. Você acha que eu preciso de intermediário? Jamais usamos o Bruno [Balsimelli] para qualquer tipo de intermediação. Não precisamos. E nem ele [Farah] precisaria de apresentação para a Globo. A gente está sempre lá."
Há ainda outros pontos obscuros nos acordos em que a federação se prontificou a dar R$ 1,6 milhão ao afilhado de Farah:
1) O contrato FPF-B&B é posterior ao firmado com a emissora (foi assinado em 3 de janeiro de 2000, enquanto o acordo com a emissora foi celebrado em 16 de dezembro de 1999);
2) O compromisso com Balsimelli não foi registrado em cartório e não apresenta a assinatura de nenhuma testemunha;
3) Nenhum representante da Globo rubrica ou assina o contrato FPF-B&B;
4) O acordo regia que a B&B receberia o valor em quatro parcelas mensais de R$ 400 mil, a partir de 20 de janeiro de 2000, mas a entidade quitou o débito de uma vez só, em 27 de janeiro.
Foram duas transferências no mesmo dia, uma de R$ 1,2 milhão e outra de R$ 400 mil.
O presidente da federação tem sido procurado para falar sobre o assunto desde o início da semana passada. Farah se recusou a receber a reportagem na sede da FPF.
Na quinta-feira, a Folha encaminhou perguntas sobre o caso por fax, conforme solicitação de sua assessoria. Até o fechamento desta edição, não havia obtido resposta. Na CPI do Futebol, que funcionou no Senado entre outubro de 2000 e dezembro de 2001, o dirigente disse que não via problema na relação com Balsimelli.
A reportagem também procurou o empresário para ouvir sua posição. Deixou recado com sua secretária na BWA, uma de suas empresas em São Paulo, e em seu celular, mas não obteve retorno.



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