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JUCA KFOURI
Um escândalo chamado Rio-2016
A nova candidatura aos Jogos Olímpicos é um golpe e uma farsa, destinada a torrar dinheiro público e privado
O ANÚNCIO de que o Brasil é
novamente candidato a sediar a Olimpíada, agora a de
2016, deveria merecer algum tipo de
ação do Ministério Público.
Afinal, ainda pagamos a conta das
famigeradas campanhas Brasília-2000, Rio-2004 e Rio-2012.
A contabilidade dessas candidaturas nunca fechou.
E o Brasil não possui chance alguma de sediar a Olimpíada, porque o
Comitê Olímpico Internacional
nunca dará a competição a um país
instável do ponto de vista do Primeiro Mundo.
É tanto dinheiro envolvido, são
tantos os compromissos com os
chamados "top sponsors", com as
redes de televisão, que o COI não pode correr um risco sequer de que os
Jogos Olímpicos não sejam realizados de forma exemplar.
As multas contratuais são enormes em caso de descumprimento
das cláusulas firmadas entre o COI e
os patrocinadores.
O Brasil é um país que oferece
risco econômico, que não pode dar
garantia de investimentos, uma
nação pobre com profundas desigualdades sociais.
Que não atende regras essenciais
de respeito ao meio ambiente (fundamental hoje no Movimento Olímpico), haja vista o desmatamento e a
poluição dos rios e da própria baía da
Guanabara.
Que tem problemas básicos de infra-estrutura, tais como hospitais,
saneamento básico, segurança,
transporte público. Problemas que
não serão resolvidos em apenas uma
década.
E é sabido como são feitas as campanhas para que um país sedie os
Jogos Olímpicos.
A candidatura é fator de promoção pessoal e de evasão de divisas.
Porque são várias empresas públicas e privadas que se comprometem
em cooperar financeiramente com o
projeto e que colocam dinheiro a
fundo perdido.
A campanha é feita no exterior,
com visitas aos membros do COI, federações internacionais, comitês
olímpicos nacionais e outros. Toda a
despesa, portanto, é feita além fronteira.
Não há controle rígido dos gastos,
e os comprovantes são apresentados
como cada um bem entender.
Assim, uma empresa "doa" ao comitê de campanha R$ 1 milhão, por
exemplo, mas somente é gasta a metade. A outra metade já sai do caixa
da empresa com finalidade dirigida,
embora a contabilidade mostre notas no exterior para justificar as despesas havidas.
Outro fato que merece repúdio é a
forma ditatorial da escolha, porque,
ao menos, poderiam ter feito uma
eleição, a exemplo do que ocorre em
outros países.
Na Europa, esse processo de escolha é longo e responsável.
Votam representantes da sociedade civil, militar, atletas, federações e
outros. Na Espanha, então, são mais
de cem votos.
E que fique claro: o bairrismo é
um sentimento detestável. Não se
trata de ser a favor de São Paulo ou
do Rio de Janeiro, porque não são
apenas as duas cidades, mas é o Brasil que não tem como receber um
evento de tal porte.
Não é possível que tudo tenha sido
feito dessa forma e ninguém fale nada, que fique por isso mesmo.
Não faria muito mais sentido pegar a dinheirama que será gasta nessa patacoada do Rio-2016 e investir
no esporte de base? Na criação de
centros esportivos para a população
pobre, para massificar o esporte, de
onde poderão surgir novos talentos
a longo prazo?
E o que interessa, aliás, não é
formar campeões, mera conseqüência. O que interessa é ter um povo
saudável.
Chega de engodos, de candidaturas artificiais para encher os bolsos
dos de sempre.
O Rio-2016 é um novo escândalo.
blogdojuca@uol.com.br
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