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Desconhecido aposenta Agassi
Tenista pendura raquete ao perder na 3ª rodada do Aberto dos EUA para alemão vindo do qualifying
Americano, 36, sucumbe às
dores nas costas e ao bom
jogo de Benjamin Becker,
25, que até ontem fizera só
seis partidas contra top 100
TALES TORRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O placar acabava de decretar:
2 sets a 1 para o alemão Benjamin Becker. À beira da quadra,
Andre Agassi, 36, sentou-se em
seu banco e olhou fixo para cima. Durante quase um minuto,
não tirou os olhos do céu. Parecia pedir para que o set que começaria não fosse seu último.
Fez por onde. Correu, lutou e
obteve pontos fantásticos,
mesmo com as dores estampadas em seu semblante. Mas o
placar que antes acusava 2 a 1
era cruel: 3 sets a 1 para o adversário. Pela 1.144ª vez, Agassi
saía de uma quadra de tênis.
Desta vez, para não mais voltar.
Disputada sob o sol do meia-dia em Nova York, a partida válida pela terceira rodada do
Aberto dos EUA surpreendeu
pelo bom tênis de Becker, 112º
do mundo. Anônimo e vindo do
qualifying, fazia ontem só sua
sétima partida contra um top
100. Benjamin, 25, não é parente de Boris Becker. Mas exibiu a
arma que consagrou a lenda
alemã "Boom Boom" Becker:
um saque violento, de difícil devolução. Até mesmo para um
expert nisso, como Agassi.
Seus aces -foram 27 ao todo,
o mais forte a 228,5 km/ h- minaram o americano. Tanto que
o último deles encerrou a carreira de Agassi após três horas e
três minutos. Três sets a um,
com 7/5, 6/7 (4), 6/4 e 7/5.
Becker vibrou discretamente. Parecia constrangido. Do
outro lado da rede, Agassi,
aplaudido por 23.700 pessoas
no estádio Arthur Ashe, chorava copiosamente. O alemão ficou em pé e passou a também
bater palmas. "Te desejo o melhor, Andre. Obrigado", disse o
vencedor, ainda na quadra.
Segurando as lágrimas, mas
com a voz embargada, um emocionado Agassi retribuiu o
apoio do público. "Fiz o que pude, mas o corpo não ajudou", falou, sobre as dores nas costas
que tem sentido nos últimos
anos. Para jogar ontem, recorreu às injeções de antiinflamatórios. "Só com o apoio de vocês
é que pude alcançar sonhos que
nunca imaginava. Vou guardar
isso para o resto da vida."
Vida que parecia traçada ao
topo do tênis desde o berço.
Agassi deu suas primeiras rebatidas aos dois anos e meio, com
uma raquete que o pai, Mike,
ex-boxeador armênio nascido
no Irã, amarrou-lhe à mão. Aos
quatro, jogou com Jimmy Connors. Aos cinco, sua família mudou para uma casa com quadra
de tênis. Aos seis, Andre tinha
já os movimentos de Agassi.
Batia na bola cedo. E com força.
Na juventude, também com
graça. Usava cabelos longos,
brincos, bermudas jeans. Um
personagem de si mesmo, uma
mescla de surfista e roqueiro.
Multicampeão, dizia jogar só
para alegrar o público. Virou
um dos maiores da história.
E que, a partir de hoje, só poderá ser visto em videoteipes.
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