São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

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Desconhecido aposenta Agassi

Tenista pendura raquete ao perder na 3ª rodada do Aberto dos EUA para alemão vindo do qualifying

Americano, 36, sucumbe às dores nas costas e ao bom jogo de Benjamin Becker, 25, que até ontem fizera só seis partidas contra top 100


TALES TORRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O placar acabava de decretar: 2 sets a 1 para o alemão Benjamin Becker. À beira da quadra, Andre Agassi, 36, sentou-se em seu banco e olhou fixo para cima. Durante quase um minuto, não tirou os olhos do céu. Parecia pedir para que o set que começaria não fosse seu último.
Fez por onde. Correu, lutou e obteve pontos fantásticos, mesmo com as dores estampadas em seu semblante. Mas o placar que antes acusava 2 a 1 era cruel: 3 sets a 1 para o adversário. Pela 1.144ª vez, Agassi saía de uma quadra de tênis. Desta vez, para não mais voltar.
Disputada sob o sol do meia-dia em Nova York, a partida válida pela terceira rodada do Aberto dos EUA surpreendeu pelo bom tênis de Becker, 112º do mundo. Anônimo e vindo do qualifying, fazia ontem só sua sétima partida contra um top 100. Benjamin, 25, não é parente de Boris Becker. Mas exibiu a arma que consagrou a lenda alemã "Boom Boom" Becker: um saque violento, de difícil devolução. Até mesmo para um expert nisso, como Agassi.
Seus aces -foram 27 ao todo, o mais forte a 228,5 km/ h- minaram o americano. Tanto que o último deles encerrou a carreira de Agassi após três horas e três minutos. Três sets a um, com 7/5, 6/7 (4), 6/4 e 7/5.
Becker vibrou discretamente. Parecia constrangido. Do outro lado da rede, Agassi, aplaudido por 23.700 pessoas no estádio Arthur Ashe, chorava copiosamente. O alemão ficou em pé e passou a também bater palmas. "Te desejo o melhor, Andre. Obrigado", disse o vencedor, ainda na quadra.
Segurando as lágrimas, mas com a voz embargada, um emocionado Agassi retribuiu o apoio do público. "Fiz o que pude, mas o corpo não ajudou", falou, sobre as dores nas costas que tem sentido nos últimos anos. Para jogar ontem, recorreu às injeções de antiinflamatórios. "Só com o apoio de vocês é que pude alcançar sonhos que nunca imaginava. Vou guardar isso para o resto da vida."
Vida que parecia traçada ao topo do tênis desde o berço. Agassi deu suas primeiras rebatidas aos dois anos e meio, com uma raquete que o pai, Mike, ex-boxeador armênio nascido no Irã, amarrou-lhe à mão. Aos quatro, jogou com Jimmy Connors. Aos cinco, sua família mudou para uma casa com quadra de tênis. Aos seis, Andre tinha já os movimentos de Agassi. Batia na bola cedo. E com força.
Na juventude, também com graça. Usava cabelos longos, brincos, bermudas jeans. Um personagem de si mesmo, uma mescla de surfista e roqueiro.
Multicampeão, dizia jogar só para alegrar o público. Virou um dos maiores da história.
E que, a partir de hoje, só poderá ser visto em videoteipes.


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