São Paulo, quinta-feira, 04 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUCA KFOURI

Nosso futebol no sexto


O ranking da Fifa não tem maior importância por medir só resultados e não avaliar qualidades. Mas tem

A FIFA anunciou que o Brasil está em sexto lugar no ranking do futebol mundial.
Se nós jamais demos muita atenção ao tal ranking durante todos os anos em que o Brasil era o primeiro colocado, por que dar agora? Seria elevar o complexo de vira-latas aos píncaros, diria um Nelson Rodrigues do novo século.
Seria mesmo. Mas não é.
E não é porque, como diz Fernando Calazans do século passado e deste, nosso futebol anda ruim, chato, previsível, faltoso em excesso e, ainda por cima, violento, com a complacência dos árbitros. Pior: sem revelar ninguém digno de nota já faz tempo.
E olhe que aí estão incluídas revelações como Robinho e Alexandre Pato, bastante discutíveis, já que o primeiro muito mais pareceu ser do que é e o segundo ainda precisa amadurecer para vir a ser.
Será, então, a pior crise já vista em nosso futebol, o pior momento, o fim dos tempos, ou o começo de novos, em que o Brasil deixa de ser protagonista para ser sexto? Qualquer resposta será leviana.
Porque já passamos por momentos parecidos e nos recuperamos, embora não possamos fazer de conta de que não está acontecendo nada, porque está.
Sexto lugar! A Espanha, novíssima campeã da Europa, é a primeira e nada mais justo, todos concordamos.
A Itália, atual campeã mundial, é a segunda. Igualmente justo.
A Alemanha vem em terceiro, e a Alemanha, vice-campeã européia, está sempre nas cabeças, pela histórica regularidade.
Diga-se de passagem, antes que o professor Calazans puxe minha orelha com razão, que nem o futebol da seleção espanhola, nem o da italiana e nem muito menos o da alemã é agradável de se ver, pelo menos para quem se apaixonou pelo futebol nas primeiras décadas da segunda metade do século passado -estamos falando dos anos 50 e 60.
Segundo dona Fifa, no entanto, estamos atrás também da Holanda e da Croácia. Veja lá que não há nada de ofensivo nisso, tratemos logo de dizer. Porque ambos têm escolas chegadas a um futebol mais de fantasia, ao nosso gosto e feitio -não nos esqueçamos de que a velha Iugoslávia era chamada de Brasil da Europa quando o assunto era futebol, algo naturalmente extensivo aos croatas, sérvios etc.
E estamos ainda na frente da Argentina, cujo título olímpico não soma no ranking. Porque somos, entre outros motivos, os últimos campeões da América, apesar do quinto lugar nas atuais eliminatórias sul-americanas. Só que sabemos que hoje a seleção argentina é melhor que a nossa, mesmo aquela que derrotamos na Copa América.
Embora saibamos, também, que no dicionário dos idiotas da objetividade, para lembrar de novo do velho Nelson Rodrigues do século passado, o que vale é vencer, razão pela qual olhamos com desdém para holandeses e croatas, ora bolas! Tudo isso posto e dito, fica uma triste conclusão, digna mesmo de nostálgicos ranhetas como este que vos fala, também do século passado e deste: se certas vitórias não merecem ser festejadas por não homenagear o futebol, que dizer deste momento em que nem vitórias há?

blogdojuca@uol.com.br



Texto Anterior: Corinthians: Time vai atrás de lateral do Sport
Próximo Texto: Santos deixa a zona de degola e agora seca rivais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.