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Olimpíada-2016 tem a primeira rusga
Ministério do Esporte e COB expõem divergências ao falar sobre como transformar o país em uma potência esportiva
Governo quer Brasil no top ten no Rio e estuda modelos de excelência pelo mundo, mas Nuzman declara que "ninguém sabe de nada"
DOS ENVIADOS A COPENHAGUE
Um dia depois da escolha do
Rio como sede da Olimpíada de
2016, o governo federal e o COB
(Comitê Olímpico Brasileiro)
já começaram a medir forças
para comandar o ""projeto de
potência olímpica"" do país.
Executivos do Ministério do
Esporte e o presidente do COB,
Carlos Arthur Nuzman, deixaram claro ontem que a disputa
teve início nos bastidores.
O governo federal até tem
meta traçada: colocar o país entre os dez melhores em 2016.
""Ninguém sabe de nada. Vou
estabelecer ainda como vamos
trabalhar. Sei que tinha que ter
um trunfo na mão [a conquista
dos Jogos]. Agora, vamos discutir e pensar nisso até o final do
ano", disse Nuzman, no final da
tarde de ontem, pouco antes de
embarcar para o Brasil.
Com três medalhas de ouro,
quatro de prata e oito de bronze, a delegação brasileira fechou os Jogos de Pequim na
23ª posição. O número de 15
medalhas no total foi o maior
que o Brasil já conseguiu em
uma edição dos Jogos, empatado com a Olimpíada de Atlanta,
em 1996. O maior número de
ouros brasileiros, contudo, permanece sendo os cinco conquistados em Atenas, em 2004.
Como comparação, a Jamaica de Usain Bolt encerrou Pequim na 13º colocação.
Apesar de Nuzman ter falado
abertamente que quer comandar o projeto, o ministério já
adiantou que tem o seu plano.
O projeto prevê uma participação estatal forte no financiamento e na formulação.
Atualmente, o COB é que define e distribui os valores da
verba da Lei Piva para as confederações de cada modalidade.
O dinheiro, que sai de loterias, é
disputado agora também pelos
principais clubes formadores
de atletas, que se associaram
para defender a questão.
Principal executivo da pasta
na candidatura brasileira, Ricardo Leyser adiantou ontem
que o governo já ""está formulando uma proposta para o esporte de alto rendimento".
A inspiração é o Instituto de
Excelência do Esporte, da Austrália, mas foram estudados
ainda modelos de Cuba, EUA e
Alemanha. "Pretendemos fazer
um laboratório de ciência do
esporte no [parque aquático]
Maria Lenk", disse Leyser.
O governo quer ainda estimular estudos sobre esportes
nas universidades, algo, no momento, muito incipiente.
O presidente Lula falou ontem que o país tem que investir
alto para formar boas equipes
nos Jogos-2016. ""Quero que o
Brasil seja uma potência na
Olimpíada. Se o Brasil não ganhar a medalha de ouro no futebol, vou dar cascudos nos garotos [o título olímpico é o que
falta à seleção no futebol]."
Haverá, diz o governo, muito
mais dinheiro para ser investido no esporte de alto rendimento anualmente a partir de
2010. Há uma estimativa, mas o
governo federal não revela qual
é. Não foi fechado como será a
forma desse dinheiro ser investido. Há a tendência de boa parte ser investida de forma direta,
sem o COB como intermediário. Ainda falta um modelo.
Mesmo com as declarações
de Leyser, Nuzman foi seco.
""Vou desautorizar qualquer
um que falar sobre isso. No dia
em que tivermos uma reunião
com as federações, vamos falar
sobre o assunto", disse o presidente do COB, que acredita que
sete anos é prazo suficiente para melhorar a qualidade do esporte olímpico nacional.
""O projeto da medalha olímpica do vôlei começou em 1977,
e o objetivo foi atingido em
1984", falou o dirigente, citando-se como exemplo -antes de
assumir o COB, Nuzman comandou a Confederação Brasileira de Vôlei.
(LUCIANA COELHO, RODRIGO MATTOS SÉRGIO RANGEL)
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