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Documento que liberou Serginho precedeu exame
Atestado não corrobora hipótese de que o São Caetano mentiu à CBF ao encaminhar o registro do zagueiro, o que poderia levar time à 3ª divisão
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
A última documentação sobre
Serginho que o São Caetano entregou à CBF foi registrada 31 dias
antes do exame que detectou problema no coração do jogador.
Não é possível, ao menos com
base nesse papel, dizer que o clube
mentiu à entidade sobre a condição física do zagueiro -argumento ventilado pelo Superior
Tribunal de Justiça Desportiva
para punir o time do ABC, o que
poderia até levar ao rebaixamento
da equipe à terceira divisão.
Encaminhado junto com o contrato, o atestado foi assinado pelo
médico do São Caetano, Paulo
Donizetti Forte, em 11 de janeiro
deste ano. Exatamente um mês
depois, o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da
USP) detectou que o atleta tinha
uma cardiomiopatia hipertrófica
assimétrica (doença em que o coração incha) em exames de rotina.
Na última segunda-feira, o presidente do STJD, Luiz Zveiter,
acenava com a possibilidade de
denunciar a equipe do ABC à procuradoria da entidade, caso o problema cardíaco de Serginho tivesse sido omitido pelo São Caetano
no documento do atleta na CBF.
Se punido, o clube poderia ser
suspenso por um período de 180 a
720 dias (a pena máxima faria o time perder a vaga na Série A).
Serginho, 30 -morto há oito
dias, após parada cardiorrespiratória em jogo contra o São Paulo,
no Morumbi-, foi autorizado a
jogar pelo médico do clube no início do ano. No documento, que
está na CBF, consta o número
75130, que é o do CRM (Conselho
Regional de Medicina) de Forte.
Outras informações, como o
tempo de contrato -vencimento
em dezembro de 2005- e o salário registrado em carteira (R$ 13
mil), também estão no documento. O acordo do time do ABC com
o zagueiro ainda previa uma multa de R$ 4 milhões de rescisão
contratual, se ele fosse negociado
com algum clube nacional.
Aconselhado pelos dirigentes
do São Caetano, Forte não comenta mais o caso Serginho, assim como outros integrantes da
comissão técnica. No único pronunciamento que fez após a morte do atleta, o médico declarou
que o Incor o informou que Serginho tinha uma arritmia leve e que,
após novos exames em junho
-uma ressonância e um cateterismo-, nada de grave foi detectado, deixando claro que a continuação da carreira do atleta não
representaria risco para sua vida.
Além de o goleiro Silvio Luiz,
que dissera ainda no Morumbi
que todos sabiam que Serginho tinha 1% de chance de sofrer um
mal súbito, a Folha apurou que o
Incor informou a Forte que a situação clínica do zagueiro era incompatível com sua atividade.
Apesar disso, a mulher de Serginho, Helaine Cristina de Castro
Cunha, 28 (que deve dar uma entrevista coletiva amanhã), os empresários do atleta (Bruno Paiva,
Marcelo Goldfarb e Marcelo Robalinho) e o presidente do São
Caetano, Nairo Ferreira de Souza,
também comungam da mesma
versão do médico do clube.
Um inquérito policial foi aberto
para investigar se houve negligência no atendimento médico ou
imprudência na escalação do jogador. O CRM também abriu sindicância para apurar a responsabilidade dos médicos envolvidos.
Precavido, o São Caetano constituiu seu advogado, o criminalista Luiz Fernando Pacheco. "Não
tinha nenhum laudo [do Incor]
dizendo que o Serginho estava apto ou inapto a jogar", disse.
O laudo conclusivo é expedido
pelo Incor só mediante solicitação
do clube, o que não fora feito até
ontem. Para o instituto, a responsabilidade sobre Serginho é do
clube e do atleta, informados dos
resultados dos exames.
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