São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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Documento que liberou Serginho precedeu exame

Atestado não corrobora hipótese de que o São Caetano mentiu à CBF ao encaminhar o registro do zagueiro, o que poderia levar time à 3ª divisão

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A última documentação sobre Serginho que o São Caetano entregou à CBF foi registrada 31 dias antes do exame que detectou problema no coração do jogador.
Não é possível, ao menos com base nesse papel, dizer que o clube mentiu à entidade sobre a condição física do zagueiro -argumento ventilado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva para punir o time do ABC, o que poderia até levar ao rebaixamento da equipe à terceira divisão.
Encaminhado junto com o contrato, o atestado foi assinado pelo médico do São Caetano, Paulo Donizetti Forte, em 11 de janeiro deste ano. Exatamente um mês depois, o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP) detectou que o atleta tinha uma cardiomiopatia hipertrófica assimétrica (doença em que o coração incha) em exames de rotina.
Na última segunda-feira, o presidente do STJD, Luiz Zveiter, acenava com a possibilidade de denunciar a equipe do ABC à procuradoria da entidade, caso o problema cardíaco de Serginho tivesse sido omitido pelo São Caetano no documento do atleta na CBF.
Se punido, o clube poderia ser suspenso por um período de 180 a 720 dias (a pena máxima faria o time perder a vaga na Série A).
Serginho, 30 -morto há oito dias, após parada cardiorrespiratória em jogo contra o São Paulo, no Morumbi-, foi autorizado a jogar pelo médico do clube no início do ano. No documento, que está na CBF, consta o número 75130, que é o do CRM (Conselho Regional de Medicina) de Forte.
Outras informações, como o tempo de contrato -vencimento em dezembro de 2005- e o salário registrado em carteira (R$ 13 mil), também estão no documento. O acordo do time do ABC com o zagueiro ainda previa uma multa de R$ 4 milhões de rescisão contratual, se ele fosse negociado com algum clube nacional.
Aconselhado pelos dirigentes do São Caetano, Forte não comenta mais o caso Serginho, assim como outros integrantes da comissão técnica. No único pronunciamento que fez após a morte do atleta, o médico declarou que o Incor o informou que Serginho tinha uma arritmia leve e que, após novos exames em junho -uma ressonância e um cateterismo-, nada de grave foi detectado, deixando claro que a continuação da carreira do atleta não representaria risco para sua vida.
Além de o goleiro Silvio Luiz, que dissera ainda no Morumbi que todos sabiam que Serginho tinha 1% de chance de sofrer um mal súbito, a Folha apurou que o Incor informou a Forte que a situação clínica do zagueiro era incompatível com sua atividade.
Apesar disso, a mulher de Serginho, Helaine Cristina de Castro Cunha, 28 (que deve dar uma entrevista coletiva amanhã), os empresários do atleta (Bruno Paiva, Marcelo Goldfarb e Marcelo Robalinho) e o presidente do São Caetano, Nairo Ferreira de Souza, também comungam da mesma versão do médico do clube.
Um inquérito policial foi aberto para investigar se houve negligência no atendimento médico ou imprudência na escalação do jogador. O CRM também abriu sindicância para apurar a responsabilidade dos médicos envolvidos.
Precavido, o São Caetano constituiu seu advogado, o criminalista Luiz Fernando Pacheco. "Não tinha nenhum laudo [do Incor] dizendo que o Serginho estava apto ou inapto a jogar", disse.
O laudo conclusivo é expedido pelo Incor só mediante solicitação do clube, o que não fora feito até ontem. Para o instituto, a responsabilidade sobre Serginho é do clube e do atleta, informados dos resultados dos exames.


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