São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SURFE Livro aborda ondas, manobras e alguns personagens do esporte no mundo Dicionário tenta desvendar a linguagem dos surfistas
MARIANA LAJOLO ENVIADA ESPECIAL A FLORIANÓPOLIS "Ó o auê aí, ó". Dizem que surfista é a única tribo do mundo capaz de formar uma frase completa sem nenhuma consoante. São também pessoas que se notabilizaram pelas gírias próprias, quase ininteligíveis para aquelas com quem não dividem a areia. Mas também formam um grupo com história sólida, uma cultura própria e muito bom humor. Foi isso o que percebeu o jornalista e poeta Fernando Alexandre ao tentar desvendar a linguagem do grupo que começou a conhecer de perto há cinco anos. "Minha pesquisa começou em sites, quase 15 mil no Brasil, que basicamente dividem seu conteúdo em "minhas ondas, minhas gatas e minhas bandas'", diverte-se. Mulher, aliás, é um dos assuntos preferidos. As "fofetas" têm dezenas de palavras para designar suas qualidades, como as do início da frase, e defeitos. Uma "gata flat", por exemplo, é aquela que tem as mesmas características de um mar liso, sem ondas e curvas. Os surfistas também tiram sarro deles mesmos. Um "surfista político" é o que só pega onda em mar de lama, o "biriteiro", o que surfa com o braço estendido como se estivesse segurando um copo. "Fui juntando as peças desse vocabulário e vi que por trás da imagem de sem cérebro dos surfistas há uma cultura", diz Alexandre, autor do "Dicionário do Surf" (editora Cobra Coralina). Com 1.485 verbetes, o livro tenta decifrar a linguagem de ondas, manobras, pioneiros e personagens do esporte no mundo. A Joaca, como é conhecida a praia da Joaquina, em Florianópolis, é apresentada como uma das mais constantes do Brasil. Não é o que tem acontecido na etapa do Circuito Mundial, adiada ontem pela terceira vez por causa do mar "flat". Hoje, são esperadas ondas de "meio metrão". O dicionário dá derrapadas (na linguagem dos surfistas, a palavra tem outro significado: uma manobra em que o atleta derrapa a parte de trás da prancha, rabeta, para ficar de forma mais radical). Esquece, por exemplo, de dizer que Ala Moana, além de marca de surfwear e hotel do Havaí, é um dos grandes picos (onde a onda quebra mais definida) da ilha. Mas, apesar de alguns erros, a linguagem é ágil e recheada de exemplos como a forma econômica para avisar: "Olha a confusão (a festa, o agito) aí, olha!". A jornalista Mariana Lajolo viaja a convite da Associação dos Surfistas Profissionais Texto Anterior: O que ver na TV Próximo Texto: Memória: De brincadeira, esporte ganhou até universidade Índice |
|